Alexandra Lucas Coelho vence Prémio Oceanos com ‘Líbano Labirinto’

 Foi a primeira vez que um livro de não-ficção foi escolhido para o prémio máximo pelo júri da fase final, que também distinguiu os romances ‘Museu da Revolução’, do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, e ‘O som do rugido da onça’, da brasileira Micheliny Verunschk, que ficaram com o segundo e terceiro lugares, respetivamente.

O curador do Oceanos para o Brasil, Manuel da Costa Pinto, sublinhou que Alexandra Lucas Coelho, em ‘Líbano Labirinto’, usa a crónica para alinhavar histórias individuais e coletivas no Líbano, um país tão ancestral quanto sacrificado por conflitos.

“O livro associa o olhar cirúrgico sobre a realidade social e política a uma sensibilidade que a todo tempo interroga a própria experiência, dentro da tradição que leva do ensaio (em sua aceção original) à crónica contemporânea, passando pela linhagem dos grandes cronistas históricos portugueses”, disse Costa Pinto, citado na mensagem de anúncio dos vencedores.

Com cerca de 500 páginas e 350 fotografias a cores, ‘Líbano, Labirinto’, lançado em 2021 em Portugal pela editora Caminho, centra-se nos dois grandes acontecimentos que mudaram a vida recente do Líbano: a revolução de 2019, em plena derrocada económica, e a explosão de 2020, no porto de Beirute, uma das maiores detonações não atómicas de que há registo no planeta.

“Nessa coleção de pequenas histórias de viventes no Líbano, a autora constrói um livro poderoso sobre os afetos e a guerra, a angústia e a esperança. A obra combina e atualiza géneros de tradição: a crónica, a grande reportagem, a narrativa de guerra, o testemunho e a memória”, acrescentou Joselia Aguiar, jornalista e curadora literária que fez parte do júri do Oceanos que elegeu a obra.

Alexandra Lucas Coelho tem 14 livros publicados, entre romances, obras de não-ficção e infantojuvenis.

Estudou Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, Teatro no Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral (IFICT), e “Portugal Islâmico e o Mediterrâneo” no Centro Arqueológico de Mértola.

A vencedora do prémio Oceanos 2022 trabalhou dez anos em rádio e vinte no jornal Público, como repórter, cronista, editora e correspondente, faz atualmente, para a RTP, o programa ‘Volta ao Mundo em Cem Livros’, e recebeu vários prémios de jornalismo e de literatura, como o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, por “Noite Roda”, e o Grande Prémio De Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, por “Cinco Voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso”.

Quanto ao romance do escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, que conquistou o segundo lugar, ‘Museu da Revolução’, também editado pela Caminho, em Portugal, faz uma abordagem crítica das funções dos museus, da memória das pessoas e dos próprios livros como utensílios de construção das identidades nacional e universal, segundo Artur Bernardo Minzo, professor moçambicano que também fez parte do júri final do Oceanos.

”Museu da Revolução’ esgravata as diferentes formas de (in)compreensão sobre as ‘guerras’ do projeto humano sempre inconcluso (…) Mas, sobretudo, é a metáfora assombrosa da desqualificada e repugnante negação de valores como a vida, o amor, a paz, amizade, a verdade e a razão”, apontou Minzo.

Outro elemnto do júri do Oceanos, Júlia de Carvalho Hansen, destacou a narrativa de ‘O som do rugido da onça’, da brasileira Micheliny Verunschk, vencedora do terceiro lugar, afirmando que “transforma os tempos passado e futuro, criando um romance histórico que é também contemporâneo.”

“Além da rica originalidade textual, a narrativa transporta e utiliza dentro da ficção questões urgentes aos debates contemporâneos: sejam elas ligadas à ‘decolonialidade’; ao reconhecimento da potência dos saberes da floresta ou mesmo da necessidade tão subtil como firme de operar a literatura através de posturas feministas”, completou.

Além de escolher um livro de não-ficção como vencedor em 2022, o prémio Oceanos foi anunciando na capital de Moçambique, Maputo, num evento organizado pela primeira vez num país africano de língua portuguesa.

Uma comitiva formada pela gestora cultural e coordenadora do Prémio Oceanos, Selma Caetano, a jornalista e curadora portuguesa Isabel Lucas e o escritor timorense Luís Cardoso, vencedor do Oceanos 2021, está presente em Moçambique para este evento que encerrou uma programação literária de dois dias com escritores de Brasil, Moçambique e Portugal.

Concorreram à edição de 2022 do Prémio Oceanos 2.452 obras escritas por autores de 17 diferentes nacionalidades e publicadas em sete países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Estados Unidos, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.

Participaram no júri final, que leu e avaliou os 10 livros finalistas para escolher os três vencedores, os professores, escritores, ensaístas, curadores, críticos e jornalistas Cristhiano Aguiar, Guilherme Gontijo Flores, Joselia Aguiar e Júlia de Carvalho Hansen, do Brasil, o moçambicano Artur Bernardo Minzo, e as portuguesas Ana Cristina Leonardo e Helena Vasconcelos.

O valor total do prémio é de 250 mil reais (cerca de 45,3 mil euros na cotação atual), sendo 120 mil reais (21,8 mil euros) destinados ao vencedor do primeiro lugar, 80 mil para o segundo (14,5 mil euros) e 50 mil para o terceiro (nove mil euros).

O Prémio Oceanos é realizado por via da Lei de Incentivo à Cultura, pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo do Brasil, e conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa, assim como com o apoio do Itaú Cultural, do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde e do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, além do apoio institucional da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

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