Bernardo Sassetti é relembrado em junho com um álbum, cinema e concertos

 

De acordo com a associação Casa Bernardo Sassetti, que fará a edição a 04 de junho, ‘Menina do Mar’ é o registo ao vivo de um recital que o pianista e a atriz fizeram em 2011, no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa.

À agência Lusa, Beatriz Batarda recordou que o recital foi estreado em 2010, a convite do Festival das Artes, em Coimbra, andou por outros palcos, mas “nasceu de uma intimidade”, no espaço familiar da atriz, do compositor e das filhas de ambos.

“O Bernardo começou ele próprio a trabalhar temas por prazer, à ronda do conto, para as miúdas, e de me ouvir contar a história e de estar a brincar com um tema, nasceu essa ideia de fazer uma coisa mais concreta. [O recital] não foi construído com essa obrigação de fazermos um espetáculo. Fomos fazendo por puro prazer de partilha. E quando surgiu a possibilidade de fazer o espetáculo, na verdade estava quase todo descoberto”, explicou.

“Menina do Mar”, publicado em 1958, é a primeira obra de Sophia de Mello Breyner Andresen para a infância e tem sido sucessivamente reeditada, com novas ilustrações, e revisitado em palco, para os mais novos, nomeadamente pelo pianista Filipe Raposo com a atriz Carla Galvão.

Há ainda a leitura dramatizada da história, com música de Fernando Lopes-Graça e interpretação de Eunice Muñoz, de 1961, e recentemente reeditada.

“É uma história sempre para se revisitar, cada um destes compositores trazem uma escuta sensorial da história muitíssimo diferente, marcam gerações e épocas muitíssimos diferentes”, disse.

Esta revisitação é feita num tempo em que os mais novos se relaciona de uma forma diferente com a leitura.

“Os hábitos de leitura são muito diferentes, a capacidade de concentração é muito diferente. A pertinência de revisitar com um apoio áudio é um incentivador forte para voltar a descobrir o prazer dessa leitura, com ou sem a ajuda dos pais”, defendeu.

A edição de “Menina do Mar” marcará um mês de intensa programação da Casa Bernardo Sassetti para celebrar a vida artística do músico, que nasceu a 24 de junho de 1970 e morreu em 2012.

Alguma da programação deveria ter acontecido em 2020 – para coincidir com o 50.º aniversário do músico -, mas foi adiada para este ano, por causa da pandemia, como explicou à Lusa a diretora artística da associação Casa Bernardo Sassetti, Inês Laginha.

A 12 de junho, o Teatro Municipal São Luiz exibirá “Maria do Mar”, filme mudo de 1930 de Leitão de Barros, para o qual Bernardo Sassetti compôs música original. A sessão contará com interpretação ao vivo da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, com o pianista Francisco Sassetti e a cantora Filipa Pais.

A 13 de junho, no mesmo palco, o músico Salvador Sobral irá interpretar temas de Sassetti, com novos arranjos de Luís Figueiredo e letras de Luísa Sobral. Em palco estará “um ensemble invulgar”, como afirmou Inês Laginha, com um sexteto de cordas, o guitarrista Pedro Branco, o trompetista Diogo Duque e o baterista Bruno Pedroso.

A 24 de junho, dia de aniversário de Sassetti, acontecerá um concerto no Hot Clube de Portugal, em Lisboa, com João Paulo Esteves da Silva (piano), Alexandre Frazão (bateria) e Carlos Barretto (contrabaixo).

A 26 de junho, está previsto um recital ao ar livre no centro de artes de Belgais (Castelo Branco), com Maria João Pires, Mário Laginha, Pedro Burmester, João Paulo Esteves da Silva, Filipe Melo, Daniel Bernardes, João Pedro Coelho e Luís Figueiredo.

A associação cultural Casa Bernardo Sassetti foi criada em 2012, pouco depois da morte do pianista, com o objetivo de preservar e divulgar o espólio do artista, que atravessa a música e a fotografia.

Segundo Inês Laginha, esse espólio está já praticamente inventariado, catalogado, registado, digitalizado e preservado, contando com partituras, gravações, fotografias, filmes e outros documentos.

A associação, que tem apoio financeiro da Direção-Geral das Artes, quer dar continuidade à edição de registos de Bernardo Sassetti que estão inéditos em álbum, iniciada em 2019, e investir na formação, enquanto consolida a estrutura cultural para, um dia, ter um espaço próprio.

“Hoje em dia temos estado a discutir o que queremos que seja a Casa Bernardo Sassetti no futuro. Isso passará por investir na formação na área em que o Bernardo se dedicava, incentivar a formação e a programação e a produção cultural na área do Bernardo, na música e no jazz em particular”, explicou.

Um dos primeiros passos foi um protocolo que a associação fez com o Conservatório Nacional, para ajudar a criar o primeiro curso profissional de jazz em Lisboa e que, mediante as inscrições, poderá iniciar-se no próximo ano letivo.

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