Bienal de Veneza. Sala de Paula Rego é azul e acolhe pinturas e gravuras

“Acho que ela é uma artista maravilhosamente talentosa”, comentou a curadora-geral da bienal, Cecilia Alemani, entrevistada pela agência Lusa através da plataforma ‘online’ Zoom, sobre a seleção de obras de Paula Rego para um dos espaços centrais da exposição-geral, este ano dedicada ao tema da transformação e metamorfose.

Cecilia Alemani revelou que, na sala com paredes em azul, estarão dispostas sete pinturas em pastel, duas esculturas e “muitas gravuras” da artista portuguesa, cujo trabalho diz conhecer já há algum tempo e que será uma das “âncoras” na disposição de trabalhos de 213 artistas convidados, de 58 países, além das 80 representações nacionais.

“Embora ela tenha tido uma magnífica retrospetiva recente no museu Tate [Britain, em Londres], acho que é uma daquelas artistas que só agora está a ter o devido reconhecimento”, considerou a curadora, que escolheu como tema desta edição ‘The Milk of Dreams’, título do livro da artista surrealista Leonora Carrington (1917-2011).

A Paula Rego “é alguém que, ao longo de cinco décadas, tem dedicado o seu trabalho a temas e ideias muito fortes, a aspetos das nossas sociedades que foram obscurecidos e ignorados, cancelados, censurados, desde questões políticas, de género, liberdade de expressão, direitos das mulheres. São temas que aborda de forma muito direta e original”, salientou Cecilia Alemani sobre a artista de 87 anos, nascida em Lisboa, residente no Reino Unido.

“Ela tem um estilo único, que não perdeu o brilho com o tempo”, apontou ainda a curadora-geral da Bienal de Veneza à agência Lusa, sobre a artista portuguesa que rumou à capital britânica, apenas com 17 anos, para estudar na Slade School of Fine Art, onde viria a fixar residência e a distinguir-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura, e marcada, ao longo de décadas, pela defesa dos direitos das mulheres.

Elogiou também “as fantásticas habilidades artísticas [de Paula Rego], nos trabalhos em pastel, gravuras e esculturas”. “Ela é uma artista completa”, disse a curadora sobre a pintora, cuja obra está representada em várias das mais importantes coleções públicas e privadas em todo o mundo.

No processo de idealização da exposição-geral da Bienal de Arte de Veneza deste ano, a curadora diz ter associado o trabalho da pintora ao tema da exposição, inspirado nas metamorfoses e na transformação: “Ela olhou para estes temas durante tantos anos, descobrindo ideias, bebendo da literatura, dos contos de fadas, e também com um lado um pouco sinistro”, apontou.

“É uma artista maravilhosa, e estou muito satisfeita por apresentar um grande número dos seus trabalhos na exposição. Ter uma sala que lhe será dedicada no Pavilhão Central da exposição-geral é fora do habitual. Normalmente, eu gosto de colocar artistas aos pares, e combinar os seus trabalhos. Mas ela é uma das âncoras da exposição, e estou muito orgulhosa desta apresentação”, descreveu Cecilia Alemani à Lusa, ressalvando que “não será a única artista a ter um espaço próprio, mas é algo muito raro”.

Quanto à sala que reúne as obras de Paula Rego será “diferente do tradicional espaço branco, porque estará pintada em azul, com um ambiente próximo de um museu”.

“O azul não tem um significado especial. Experimentámos algumas cores e achámos que o trabalho dela ficava mais interessante colocado com cor em fundo, em vez de branco. Cria uma atmosfera”, explicou a curadora italiana, com base em Nova Iorque, que tem trabalhado com artistas como El Anatsui, John Baldessari, Carol Bove, Sheila Hicks, Rashid Johnson, Barbara Kruger, Zoe Leonard, Faith Ringgold, Nari Ward e Adrián Villar Rojas.

Em 2004, Paula Rego foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada de Portugal pelo Presidente da República Jorge Sampaio e, em 2010, foi nomeada Dame Commander of The Order of the British Empire pela Coroa Britânica, pela sua contribuição para as artes.

Em 2016, a pintora recebeu a medalha de honra da cidade de Lisboa, e, em 2019, foi distinguida com a Medalha de Mérito Cultural, pelo Ministério da Cultura.

Além de Paula Rego, a presença portuguesa nesta edição da Bienal de Arte de Veneza conta ainda com Pedro Neves Marques, autor do projeto da representação nacional, ‘Vampires in Space’, com curadoria de João Mourão e Luís Silva, que ficará instalado no Palácio Franchetti.

No âmbito da programação das galerias de arte, Pedro Cabrita Reis vai apresentar a obra “Field”, especialmente concebida para a Igreja di San Fatin.

A 59.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza, que decorre até 27 de novembro, terá uma pré-abertura entre hoje e sexta-feira, e a cerimónia de abertura ao público e anúncio dos prémios acontece no sábado.

Leia Também: Bienal de Veneza deve ser “um canal para manter o debate vivo”

Deixe um comentário