Cantares ao desafio, rusgas e rodas animam São Bartolomeu

“Costumamos ter entre 300 e 400 mil visitantes. Este ano, estou convencido que vamos ter muitos mais. Estou convencido que teremos mais de meio milhão de pessoas nos dias todos das festas”, explicou o presidente da Associação Concelhia da Festas de São Bartolomeu, Pedro Bragança.

Contactado pela agência Lusa, o responsável revelou que este ano as festas vão ter mais um dia, começando na quinta-feira com o número “Anda Comigo à Romaria” para “recuperar uma tradição” das festas.

“O número ‘Anda comigo à Romaria’ vai realizar-se ao fim da tarde é dedicado aos romeiros que vêm das aldeias até à capela de São Bartolomeu. No centro da vila vamos instalar mesas, para que os romeiros possam merendar. Todos trazem farnel e, juntos, tocam e cantar e confraternizam. É uma espécie de romaria dentro da romaria, mas à uma moda antiga”, explicou Pedro Bragança.

Outro número novo no programa da edição 2022 é número dedicado ao canto polifónico.

“É outra tradição que se foi perdendo e que queremos recuperar tanto mais que, em 2021, foi formalizada a candidatura do Canto de Mulheres de Matriz Rural a três ou mais vozes a património cultural imaterial nacional para, no futuro, concorrer a património da humanidade. Temos quatro grupos de mulheres que vão atuar para impulsionar esta candidatura”, sublinhou.

No dia 22, a partir das 22:00 e, madrugada dentro, realiza-se, na Praça da República, a noite dos cantares ao desafio, com 10 cantadores.

“É uma referência das festas de São Bartolomeu que, atrai sempre muitas pessoas para assistirem à desgarrada entre os cantadores ao desafio. Todos os cantadores querem vir às festas de São Bartolomeu. Se pudesse tinha mais de 40 cantadores”, observou.

A “grande noite das rusgas populares, acontece no dia 23. Aquela tradição, também chamada de estúrdia, com mais de cem anos, é um número emblemático das festas de São Bartolomeu, dedicado às danças e cantares populares.

“É a grande noite da romaria. Muita gente não vai à cama. As pessoas são tantas que não se consegue andar nas ruas de Ponte da Barca. Aqui até se diz que é a noite em que o diabo anda à solta”, gracejou.

Através das concertinas, dos bombos, dos cavaquinhos e outros instrumentos tradicionais, as rusgas, que contam com a participação de “60 a 70” grupos vindos de todo o país, desfilam e formam rodas de tocadores.

“Vamos ter entre 60 e 70 rusgas, cada uma delas composta, em média, por mais de 40 pessoas. Além das rusgas de Ponte da Barca, temos grupos vindos de Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Viana do Castelo, Serra d’Arga, Esposende, Guimarães, Terras de Bouro, [estes três concelhos do distrito de Braga]”, apontou.

O “movimento espontâneo junta pessoas vestidas a rigor, com os seus instrumentos e, que andam pelas ruas, vila acima, vila abaixo, cantando e ecoando as músicas características da romaria”.

A partir da 24:00, cada uma das rusgas populares, têm de passar por determinados pontos da vila, para receberem um carimbo que dá direito a atuarem em palco. Depois da atuação recebem uma merenda.

“Um cesto com um garrafão de vinho, presunto, broa de milho e uma malga”, contou Pedro Bragança.

Outro dos pontos altos das festas são as ‘rodas’ que juntam pessoas de todas as idades ao som do Vira do Minho, das Chulas e das melodias da Cana Verde, das mais antigas danças populares das aldeias do Alto Minho.

Trata-se de um movimento “completamente espontâneo”, que não faz parte do programa, mas que se tornou um ‘ex-líbris’ da romaria e do concelho, uma vez que decorrem o ano inteiro, aos fins de semana, num espaço criado para o efeito.

São designadas por ‘rodas’ porque no centro ficam os tocadores de concertina a que se juntam os bailarinos, dançando em círculo, aos pares. Os bailarinos dispõem-se aos pares, em roda, de braços erguidos e vão girando vagarosamente no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.

A roda vai crescendo à medida que novos pares se juntam, ao ritmo do marcador, o dançarino que vai indicando os passos e o sentido que a roda deve tomar. Um movimento que assume grande dimensão com a presença dos emigrantes.

“As ‘rodas’ durante a romaria são extraordinárias. Começam por volta da hora do jantar até o pessoal cair para o lado”, realçou Pedro Bragança.

Além das rusgas populares, a romaria de São Bartolomeu inclui procissão, cortejo etnográfico, bandas de música, tasquinhas com gastronomia tradicional do concelho num espaço dotado de mil lugares sentados. Há também espetáculos de música popular, concursos de linho e do melão de casca de carvalho, corrida de cavalos e feira do gado, entre outros eventos.

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