Centro Nacional de Cultura saúda pensamento pioneiro de Augusto França

 

Numa mensagem publicada no seu ‘site’, o Centro Nacional de Cultura (CNC), que José-Augusto França presidiu na década de 1970, recorda “o mais reconhecido dos historiadores de Arte portugueses contemporâneos”, que “soube aliar a análise cuidada e aprofundada da criação cultural e artística, ao contexto social e económico”.

“A leitura das suas obras constitui, assim, uma oportunidade rara de conhecimento dos temas que tratou, desde a reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto, até à exaustiva análise da Arte portuguesa dos séculos XIX e XX, uma vez que relaciona a sociedade e a vida, vendo a história como um conjunto global e compreensivo”, lê-se na mensagem do CNC, que tem como presidente da direção a historiadora Maria Calado e, como presidente do grande conselho, o gestor Guilherme d’Oliveira Martins.

“Não é possível estudar” Lisboa e a arte portuguesa, “sem o conhecimento da completa investigação realizada pelo Professor França”, garante o CNC.

“A noção de preservação dos bens culturais, do património, dos conjuntos urbanos e da memória é hoje considerada, na senda do entendimento pioneiro de José-Augusto França, num sentido amplo e integrado em nome da qualidade e da fidelidade histórica”, prossegue a mensagem, que sublinha ainda “o contributo inestimável de José-Augusto França” para as suas atividades.

“Ao analisarmos tudo o que publicou, numa obra muito rica e multifacetada, temos de saudar o pensamento pioneiro de José-Augusto França e a sua lucidez prospetiva. Percebemos que estamos perante um entendimento vivo da Cultura”, conclui a mensagem do CNC.

O historiador, sociólogo e crítico de arte morreu hoje, aos 98 anos, na casa de saúde de Jarzé, perto da cidade francesa de Angers.

Considerado uma referência na área das artes visuais e da cultura em Portugal, José-Augusto França encontrava-se internado há vários anos nessa unidade de cuidados continuados, após uma operação na sequência da qual sofreu diversos acidentes vasculares cerebrais, e morreu hoje às 13h00 locais (12h00 em Lisboa), segundo a mesma fonte, devendo ser cremado ainda esta semana em França.

Da sua extensa obra, marcada por títulos como “A Arte em Portugal no Século XX” e “O Retrato na Arte Portuguesa”, destacam-se os estudos sobre a arte em Portugal nos séculos XIX e XX, as monografias sobre Amadeo de Souza-Cardoso e Almada Negreiros, além de outros volumes de ensaios de interpretação e reflexão histórica, sociológica e estética sobre questões da arte contemporânea.

Enquanto teórico e divulgador, participou entre 1947 e 1949 nas atividades do Grupo Surrealista de Lisboa, de que fizeram parte, entre outros, Mário Cesariny de Vasconcelos e Alexandre O’Neill, e foi, na década seguinte, um defensor da arte abstrata.

Foi condecorado diversas vezes, como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (1991), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2006) e as medalhas de Honra da Cidade de Lisboa (1992) e de Mérito Cultural (2012).

Diplomado pela École d’Hautes Études de Paris e doutorado pela Sorbonne, foi professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa desde 1974, onde criou os primeiros mestrados de História da Arte do país, e jubilou-se em 1992, tendo recebido das mãos do então Presidente Mário Soares a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, no final da última aula que deu.

Também lecionou na Sociedade Nacional de Belas Artes, presidiu à Academia Nacional de Belas-Artes, foi diretor do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, membro do Comité Internacional de História da Arte e presidente de honra da Associação Internacional dos Críticos de Arte.

Nascido em Tomar a 16 de novembro de 1922, doou o seu espólio ao museu da cidade.

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