Cineasta luso-venezuelana apela a união de mulheres para sociedade justa

“Apelo às mulheres luso-venezuelanas e portuguesas a que trabalhem lado a lado com os homens, e não contra os homens, por uma sociedade melhor. Isso não é uma utopia, é um processo de mudança, de rutura de paradigmas, que nos permitirá avançar a todos”, disse.

Helena Freitas falava à Agência Lusa, em Caracas, em ocasião do lançamento da curta-metragem ‘Por Amor à Arte’, da qual é diretora executiva, e assinala localmente ‘março – o mês da mulher’.

“É muito enriquecedor, ter duas culturas que se encontram nas suas diferenças e semelhanças, a experiência de viver numa família portuguesa, de ser português, mas participar ativamente na sociedade venezuelana através do seu trabalho, profissão, exercício, maternidade, vida conjugal e profissão”, frisou a luso-descendente.

Segundo Helena Freitas, a luso-venezuelana deve “combinar” as idiossincrasias e culturas portuguesa e venezuelana para “transformar a vida numa possibilidade de enriquecer-se como mulher” no pessoal e profissional e “abrir-se ao mundo”.

“Temos de aprender a ser universais. A universalidade não fica na Venezuela, nem na Europa e nem em Portugal, significa ultrapassar as fronteiras de onde se vive, de onde se nasceu, para crescer como ser humano, em todas as áreas da sua vida”, frisou a documentarista.

Por outro lado, explicou que o circuito ‘Gran Cine’ foi fundado em 1996, tem uma filial em Portugal, a ‘Gran Cine Europa’, que está no Porto, que partilha a missão e visão de Caracas, com objetivos específicos dedicados ao desenvolvimento humano e social, aos Direitos Humanos e à divulgação do cinema artístico e cultural.

“Um dos programas mais importantes do ‘Gran Cine’ é a Fábrica de Cinema, que dá formação em direitos humanos e na criação de filmes e documentários (a jovens venezuelanos). Já produzimos pelo menos 20 curta-metragens dedicadas à mulher, à violência de género, direitos, igualdade de género, laboral, e à nova masculinidade”, explicou.

Sobre o documentário ‘Por Amor à Arte’ explicou que descreve “como as mulheres são dominadas sexualmente, utilizadas, tornam-se uma coisa” e denuncia que “a ‘objetificação’ é muito decisiva para alcançarem os seus objetivos e sucesso no campo artístico”.

“Não estamos a generalizar, estamos a falar de focos específicos deste problema, no teatro, na televisão, no cinema e nas artes em geral”, disse sublinhando que “em todas as artes temos detetado problemas de violência sexual e onde o abuso sexual se torna uma forma de subir a escada da carreira profissional”.

A luso-descendente apela a dar “visibilidade às mulheres e aos seus problemas, não como um objeto sexual, mas como merecedoras do mesmo respeito, consideração e direitos que os homens”.

“As mulheres são 50% da população mundial e são importantes para a construção de sociedades democráticas livres, abertas, com pensamento crítico e com desenvolvimento”, frisou.

“A mulher conseguiu subir estratos sociais importantes, saíram de casa e estão a trabalhar, a ser formadas e a tomar decisões importantes, mas mesmo no mundo ocidental as mais altas posições de decisão ainda estão nas mãos dos homens e por isso há poucas mulheres Presidentes (de Repúblicas), primeiras-ministro e a dirigir companhias internacionais”, disse.

Na sua área, o cinema, diz que “Hollywood é o exemplo mais terrível de diferença de género e de discriminação contra as mulheres” e que as atrizes famosas, mesmo utilizando os mesmos recursos e esforço, “ganham menos que o homólogo masculino”.

A equidade, disse, falta também nas premiações dos Óscares, nos prémios internacionais de cinema, nos Globos de Ouro, em BAFTA, nas associações de críticos de cinema, e inclusive em Bollywood, na Índia.

“As mulheres estão sempre em segundo lugar. Embora as luzes, o brilho dos tapetes vermelhos pareçam dizer o contrário, vemos uma grande diferença e uma grande falta de equidade de género, e temos de lutar contra isso”, disse.

Helena Freitas insiste que “faltam anos de trabalho para que exista equidade no meio artístico e noutras áreas do mercado de trabalho”.

“É importante que os homens entendam este processo e apoiem as mulheres. As sociedades que avançam são aquelas onde as mulheres têm uma maior participação. Caso contrário será muito difícil que exista desenvolvimento, democracia, equidade, convivência pacífica e tolerância”, concluiu.

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