Como foi criado ‘O Poder do Cão’, um dos candidatos a melhor filme do ano

“A pré-produção foi dura”, afirmou Campion. “O enorme trabalho de manifestar uma história, criá-la e encontrar os personagens e fazer com que todos os aspetos sejam fortes o suficiente para que não se desfaça criou muita ansiedade”. 

Protagonizado por Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee, ‘O Poder do Cão’ é uma adaptação da novela com o mesmo título, publicada em 1967 por Thomas Savage, que mostra uma guerra de poder e intimidação num rancho do Montana em 1925. 

“Os personagens são muito fortes e há uma energia repulsiva até ao fim”, descreveu Jane Campion. “Gostei da forma subversiva como Thomas Savage explorou a masculinidade e descascou essa cebola”, descreveu. 

A história faz uma exploração da masculinidade e homossexualidade num meio rural e conservador, tendo desenvolvimentos surpreendentes e um desfecho inesperado. O centro desta exploração é o personagem interpretado por Benedict Cumberbatch, o rancheiro autoritário Phil Burbank. 

“A Jane abordou-me com a ideia deste personagem extraordinariamente complexo”, contou Cumberbatch, revelando que se sentiu intimidado no início e que o trabalho preparatório foi intenso, porque nunca tinha posto um pé num rancho. 

“Há algo na sua fisicalidade aliado a uma profunda sensibilidade”, descreveu. “O que me prendeu foi tentar compreender esta dualidade dentro dele e como isso estava enterrado no seu fundo, não poder revelar o seu verdadeiro eu por medo de que o mundo o odiasse”.

A jornada interliga-se com o aparente oposto, Peter, que é encarnado por Kodi Smit-McPhee e que foi o papel mais complicado de atribuir. 

“Eu estava a ter muita dificuldade em encontrar a pessoa certa para interpretar este personagem, que não é fácil e quase tem características autistas”, disse Jane Campion. Quando encontrou Kodi, a autora neozelandesa ficou “tão entusiasmada que quase não conseguia respirar”, porque ele se revelou “melhor que o imaginado”. 

Campion, que em 1994 foi a segunda mulher da história a ser nomeada para o Óscar de Melhor Realização e venceu Melhor Argumento com o aclamado filme “O Piano”, chegou a este projeto depois de alguns anos a fazer uma série de televisão, e com sede de algo mais polido. 

“Achei que tinha a capacidade de fazer esse trabalho”, afirmou. “Queria criar algo mais considerado, com profundidade, firme em si próprio. Essa foi a ambição no regresso ao cinema”. 

Filmado na Nova Zelândia em plena pandemia de covid-19, o filme tem cenários muito ricos e uma cinematografia exímia, resultante da colaboração estreita entre Jane Campion e Ari Wegner (fotografia), Grant Major (direção de arte), Robert Mackenzie (edição de som) e Peter Sciberras (edição). 

Kirsten Dunst, que interpreta Rose Gordon, sublinhou a atenção ao detalhe e a riqueza dos cenários, que permitiram aos atores mergulhar num período histórico muito específico. “Lembro-me de abrir gavetas e encontrar poemas, jornais, revistas daquele tempo”, contou a atriz. “Nunca quis trazer tantas coisas de um cenário na vida”. 

Dunst disse que cresceu a ver os filmes de Jane Campion e estes sempre foram uma inspiração para si, o que tornou a participação em “O Poder do Cão” especial. “Estar num filme dela era um dos meus maiores sonhos”, afirmou. “Isto ficará para a minha história como uma das coisas mais especiais de sempre”. 

Dunst contracenou com o marido, Jesse Plemons, que interpreta George Burbank no filme. “Há muito tempo que eu não tinha a oportunidade de interpretar esta forma de bondade”, salientou o ator, caracterizando como “experiência totalmente única” o trabalho com Jane Campion. 

Considerado um forte candidato às nomeações para os prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, os Óscares, “O Poder do Cão” foi um dos grandes vencedores dos Globos de Ouro, levando as estatuetas para Melhor Realização, Melhor Filme e Melhor Ator Secundário (Kodi Smit-McPhee), e tem sobressaído com vitórias sucessivas na temporada de prémios.

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