Companhias do Centro preparam novas produções apesar das "incertezas"

O Teatrão, em Coimbra, tinha anunciado a estreia do seu novo espetáculo para a infância, “Ilse, A Menina Andarilha”, para 11 de março, mas teve de voltar atrás, face ao confinamento decretado pelo Governo.

Assim que se soube que a partir de 19 de abril os teatros, salas de espetáculos e cinemas poderiam voltar a abrir, a companhia anunciou a estreia para 22 desse mês, ainda que sem saber como poderá reabrir.

“Vamos reabrir, mas ainda não sabemos quais as regras. Ainda ninguém sabe em que condições pode reabrir no dia 19 e está a ficar muito complicado e a DGS [Direção-Geral de Saúde] e o Governo não fazem esses esclarecimentos”, disse à agência Lusa a diretora da companhia, Isabel Craveiro.

Para a responsável, essa indefinição “inibe qualquer preparação responsável de como deve ser feita a abertura”.

Além da estreia, a companhia está a preparar o desenvolvimento de projetos de longo prazo, mas também a programação da própria Oficina Municipal do Teatro (OMT), a casa do Teatrão.

“Estamos a pensar fazer ciclos de cinema no jardim, talvez”, acrescenta, salientando que a própria pandemia levou a uma “consciência maior do usufruto dos espaços verdes, dos espaços ao ar livre”.

Quer no Teatrão, quer na Escola da Noite, outra companhia de Coimbra, fala-se também dos problemas de gerir a programação dos respetivos espaços, face ao adiamento de vários eventos motivado pelos dois confinamentos.

“É difícil trabalhar a programação e mais difícil num espaço como o Teatro da Cerca, em que se tem que conciliar as criações da companhia residente com a programação externa. Neste momento, torna-se mais complicado porque o calendário encolhe, mas o número de solicitações aumenta para menor tempo”, explica o membro da direção da Escola da Noite, Pedro Rodrigues.

No caso desta companhia, está-se a preparar a estreia de um novo espetáculo, intitulado “Cidade, Diálogos”, com textos de Gonçalo M. Tavares, que deverá ser apresentado na primeira quinzena de maio.

Já a Leirena, companhia de Leiria, está a concluir o programa deste ano, nomeadamente dois festivais que realiza no verão, um em Leiria, outro em Porto de Mós, conta o responsável da estrutura, Frédéric da Cruz Pires.

Para além disso, a Leirena está a preparar um espetáculo em torno de José Saramago para estrear em 2022, referindo que por agora vão também fazer apresentações de espetáculos que têm em carteira.

“Se não houver um terceiro confinamento, vamos estar com um ano bem cheio”, frisa.

No Teatro das Beiras, na Covilhã, a companhia vai estrear logo a 19 de abril o seu novo espetáculo, “Já passaram quantos anos desde a última vez que falámos, perguntou ele”, cuja apresentação também foi adiada pela pandemia.

“Era bom já ter as normas. Ainda nem definimos o horário em que vamos fazer o espetáculo. Aguardamos”, sublinha o diretor do Teatro das Beiras, Fernando Sena.

Também na Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT) não se compreende o facto de as regras ainda não serem conhecidas, refere o diretor artístico da estrutura, José Rui Martins.

Naquela cidade do distrito de Viseu, ainda antes da reabertura do seu espaço, a companhia vai avançar com eventos digitais, nomeadamente no sábado, assinalando o Dia Mundial do Teatro, com um desafio nas redes sociais para o público acompanhar uma espécie de “visita relâmpago” por espetáculos da estrutura.

Já a 03 de abril, não podendo fazer a tradicional Queima do Judas tal como em 2020, a ACERT – Associação Cultural e Recreativa de Tondela vai recorrer a meios digitais para transmitir a “Queima e Rebentamento do Não Judas”, em que as pessoas são convidadas a enviarem “os seus males” para no fim serem queimados.

A reabertura do espaço essa será a 25 de Abril, “por razões óbvias”, salienta.

Apesar das incertezas sobre o futuro, que já obrigaram a companhia a adiar a produção de um espetáculo de teatro de rua para 2022, José Rui Martins diz que a programação está a ser desenhada, ainda que sempre “com planos B”.

“É um ano muito especial. Estamos a celebrar 45 anos, com 45 rotações, não desanimando e fazendo um exercício que é obrigatório para o país inteiro que é de reformular, de repensar todas as coisas, todos os planos, mas não os diminuir e a cultura tem uma necessidade incrível de estar junto das pessoas. Estamos loucos por pisar os palcos”, frisou.

Criado pelo Instituto Internacional do Teatro, no âmbito da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), para a promoção direta das artes de palco, o Dia Mundial do Teatro celebra-se a 27 de março e foi assinalado pela primeira vez em 1962, com uma mensagem do dramaturgo francês Jean Cocteau.

Este ano, a mensagem internacional é assinada pela atriz britânica Helen Mirren, que elogia a “resiliência dos profissionais das artes e a capacidade de sobreviverem à pandemia com sagacidade e coragem”.

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