Cópia de Murillo do seu próprio quadro de S. Francisco vai a leilão

 

Trata-se de um ‘ricordo’, como se denominam as cópias feitas pelos próprios pintores, de uma obra analisada pelo historiador de arte Enrique Valdivieso, que chegou à conclusão de que se trata de uma reprodução de excelente qualidade, realizada por Murillo, o mestre do Barroco espanhol, e que se encontra em muito bom estado de conservação.

A obra está avaliada num intervalo entre 1,2 milhões e 1,8 milhões de dólares (entre um e cerca de 1,5 milhões de euros).

“A pintura está em condições fantásticas e sua superfície é muito bonita, o que significa que se pode apreciar plenamente as pinceladas fluidas de Murillo”, disse o diretor de vendas da Christie’s Old Masters, Jonquil O’Reilly, à agência noticiosa EFE.

“Embora se vejam cópias das obras de Murillo, descobrir uma ‘duplicata’ do próprio autor, escondida numa coleção particular por tanto tempo, é um achado maravilhoso”, acrescentou.

“São Francisco Abraçando a Cristo na Cruz” resultou de uma encomenda da Ordem dos Capuchinhos, a Murillo, feita em 1665, que constituiu uma série de oito pinturas e que acabou por ser não só o projeto mais ambicioso do artista sevilhano, mas também um dos grupos de obras mais importantes do século XVII em Espanha.

A série de pinturas foi dividida em 1835 com a invasão das tropas napoleónicas e só em 2017 foi reunida para uma exposição no Museu de Belas Artes, de Sevilha, que assinalou os 400 anos do nascimento do artista (1617-1682), e que contou igualmente com o empréstimo do quadro “Casamento Místico de Santa Catarina”, que pertence à coleção do Museu Nacional de Arte Antiga.

Outra característica que reforça o caráter excecional do exemplar que vai a leilão é o facto de uma radiografia revelar diversas alterações na composição da peça, indícios de que o artista mudava de opinião enquanto executava o quadro, algo que não costumava ser visto num ‘ricordo’.

Murillo modificou tanto a posição das mãos de São Francisco – que inicialmente segurava mais o corpo de Cristo -, quanto o ângulo do rosto do querubim no canto superior direito, de acordo com os investigadores.

Parece também que mudou a posição da mão de Cristo, que a princípio se fechava no prego que a segurava, deixando-a depois aberta e relaxada.

“O que torna tão especial [o quadro] é o que observamos nas radiografias, que mostra ‘pentimenti’ [como são chamadas de pinceladas que foram escondidas sob modificações], o artista mudando de ideia, revendo e reposicionando elementos de sua composição”, explicou o representante da Christie’s à agência espanhola de notícias.

“Esses vislumbres da maneira de trabalhar do artista e de imaginar seu raciocínio enquanto pinta são muito empolgantes”, acrescentou.

Em comunicado, a Christie’s também aponta que se desconhece o motivo pelo qual Murillo repensou e refez uma composição que já conhecia, e depois acabou por pintar uma versão igual à pintura original, o que atribui um caráter de mistério à obra.

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