Coproduções permitem projetos com financiamento e ambição internacionais

 

“Este tipo de parceria permite-nos pensar em projetos que tenham dimensão em termos de financiamento e ambição com outra escala, que seria completamente impossível se estivéssemos a falar da só da RTP, sozinha no projeto” afirmou à Lusa.

José Fragoso, que falava à agência Lusa em Bertiandos, Ponte de Lima, no distrito de Viana do Castelo, durante uma visita a um dos palcos de rodagem em Portugal da série ‘Operação Maré Negra’, para a Amazon Prime, salientou que aquela produção “tem escala, elenco e ambição internacionais”, e “vai ser vista no mundo inteiro, somando espectadores”.

A ‘Operação Maré Negra’, com correalização de Daniel Calparsoro, Oskar Santos e do português João Maia, é apresentada como “a primeira coprodução luso-espanhola” para aquela plataforma de ‘streaming’, com produção de Ficción Producciones (Espanha) e Ukbar Filmes (Portugal) e participação da RTP.

O drama bilingue, em espanhol e português, é inspirado no caso real ‘Maré Negra’, uma investigação que resultou do fracasso de um submarino carregado de droga a atingir o litoral europeu, em águas galegas. A rodagem teve início no dia 07 de julho em Espanha e termina sexta-feira em Portugal.

“Este projeto só é possível neste ambiente de coprodução, um vetor muito importante de produção de ficção na Europa”, referiu José Fragoso, sublinhando que as coproduções “são uma oportunidade para os países europeus e as televisões públicas trabalharem entre si”.

Para José Fragoso, a série para a Amazon Prime Video é “uma oportunidade para as operadoras de ‘streaming’ que investem muito em ficção e têm vontade de produzir” em Portugal, o que permite a “diversidade de oferta” nacional.

“Em Portugal não temos tradição nenhuma de fazer série de ação. Fazemos comédias, séries históricas e contemporâneas, adaptações de obras literárias, mas é muito raro uma série com esta dinâmica”, apontou, destacando também que estas produções, ao contrário das telenovelas, “ficam no tempo e, dentro de 30 a 40 anos, farão parte do património audiovisual português”.

A produtora portuguesa, Pandora da Cunha Telles, da Ukbar, destacou que a recente publicação da nova legislação para o audiovisual veio regulamentar o investimento dos operadores de ‘streaming’ em Portugal, garantindo “fontes de financiamento extremamente interessantes que facilitam a produção de projetos diferentes”.

“Normalmente não produzo projetos de ação. Este está a dar-me imenso gozo e vontade de procurar outras histórias. A possibilidade de maior financiamento abre esse horizonte. Podemos sonhar fora dos nossos padrões atuais e sonhar mais alto. Estas portas, quando se abrem, raramente se fecham”, explicou.

A produtora defende ser necessário “instigar a mudanças estruturais” em Portugal, “não apenas no processo criativo”, mas de “redimensionamento estratégico” que “torne o audiovisual nacional mais competitivo e concorrencial a nível europeu”.

Como exemplo, apontou os custos elevados de uma produção com cenas filmadas em equipamentos públicos, como museus e pontes, situação que não se verifica em Espanha.

Para o realizador espanhol Daniel Calparsoro a aprovação recente de um convénio cinematográfico europeu de televisão vem introduzir “regras” no setor e “abrir oportunidades impensáveis de competitividade no mercado internacional, sobretudo no americano, indiano e chinês”.

Calparsoro aponta a “rapidez” com que começou a ser produzida a série “Operação Maré Negra”, com quatro episódios, cada um com 50 minutos.

Foram cerca de seis meses desde a conclusão do guião até ao início das filmagens, o que, para o realizador espanhol, “demonstra a competitividade da união entre Portugal e Espanha”.

A coprodução começou a ser delineada em janeiro, em julho começaram as rodagens em Espanha. As filmagens terminam na sexta-feira, em Portugal, e a estreia já está marcada para 2022.

A história real do caso de tráfico de droga chegou a Daniel Calparsoro através de um jornalista do La Voz de Galicia, que investigou o caso e que vai também publicar um livro com o mesmo nome da série.

“Ele tinha muita documentação sobre o caso, o que permitiu arranjar rapidamente o financiamento suficiente para poder ter um projeto ambicioso”, explicou.

Fruto de colaborações anteriores, “foi possível realizar o ‘casting’, de primeira linha e, em pouco tempo, começar a filmar”.

“Temos dos melhores atores de Portugal, Espanha, Brasil, Colômbia e uma máquina oleada que dá continuidade aos projetos”, acrescentou.

O realizador português João Maia destaca o trabalho em equipa com os colegas espanhóis, num “processo muito tranquilo”.

As conversas entre os três permitiram que cada um “absorvesse” as ideias dos outros, tal como aconteceu com os atores de diversas nacionalidades que contracenam na série.

A coprodução luso-espanhola escusou a revelar o orçamento da série, mas Pandora da Cunha Telles admitiu “estar muito acima do investimento em uma série exclusivamente portuguesa, multiplicado várias vezes”.

 

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