Culturgest. Vozes humanas de diferentes origens abrem temporada de teatro

Três dias mais tarde, “Suite n.º4” estará no Teatro Municipal do Porto – Teatro de Campo Alegre.

“Suite nº4” assenta num trabalho realizado ao longo de quinze anos pela Encyclopédie de la Parole (Enciclopédia da Fala, em tradução livre), durante os quais construiu um acervo de milhares de vozes, em mais de mil gravações que incluem fragmentos de discursos, anúncios, confidências, leituras e instruções, segundo a apresentação do espetáculo, hoje divulgada pela Culturgest.

Com este material de base, Lacoste concebeu a dramaturgia do espetáculo que culmina a série “Suites”, apresentada em festivais e teatros de todo o mundo, desde a estreia de “Suite n.º 1”, no Festival das Artes de Bruxelas, em 2013.

“Suite n.º4” conta com música de Pierre-Yves Mace´ e Se´bastien Roux, interpretada pelo Ensemble Ictus, especializado na expressão contemporânea, que acompanha o eixo formado pelas vozes.

“Como numa ópera, [as vozes] têm o apoio de música ao vivo, para direcionar a escuta e revelar texturas escondidas. Uma espécie de teatro dos espíritos, mas com fantasmas bem vivos”, lê-se na apresentação da obra que destaca ainda como, assim, “as gravações transmitem os mil pormenores registados pela gravação original, numa orquestração de vozes” que expõe “a variedade e a riqueza infindável da comunicação humana”.

Neste capítulo final de “Suites”, Joris Lacoste optou por dar a ouvir as vozes sem a mediação de atores, num espetáculo em que os “próprios falantes regressam do passado”, com “a sua melodia original, o seu tom único, a sua respiração própria”.

“Suite nº 4” constitui assim uma “viagem sensorial que traduz a pluralidade do mundo e faz com que o espectador navegue de língua para língua, de cidade para cidade, de época para época, de forma para forma e de tema para tema”, acrescenta o texto de apresentação.

Uma conversa entre dois bebés, um discurso português marcado por um forte dialeto local, uma visita a um museu americano, um concurso de líderes de claque tailandesas são algumas das falas que se entrecruzam no espetáculo que vem agora a Lisboa e ao Porto, e que permite ao público viajar através dos diálogos.

As gravações registam vozes em alemão, árabe, catalão, coreano, escocês, espanhol, francês, gaulês, grego, hebreu, inglês, italiano, japonês, malaio, napolitano, neerlandês, português, russo, siciliano, sueco, susu, tailandês, tomáraho, xangainês. E combinam-se num discurso sonoro feito sem transição ou separadores.

A Encyclopédie de la Parole é “um projeto artístico que explora a oralidade em todas as suas formas”, sediado na região de Paris.

Desde a sua criação, em 2007, este coletivo tem vindo a reunir todos os tipos de gravações, classificando-as segundo fenómenos particulares da fala, tendo em conta ritmo, altura, timbre, dinâmica, intensidade, harmonização, melodia.

A partir do acervo, que hoje compreende mais de um milhar de documentos sonoros, a Encyclopédie de la Parole produz peças, concebe performances, espetáculos, produz conferências, promove concertos e instalações.

De acordo com a página do projeto na Internet, a Encyclopédie de la Parole é um “coletivo de poetas, atores, artistas visuais, etnógrafos, músicos, curadores, diretores, dramaturgos, coreógrafos e produtores de rádio”, que têm por palavra de ordem: “Somos todos especialistas em fala”.

“Suite n.º4” tem composição, dramaturgia e encenação de Joris Lacoste, música instrumental de Pierre-Yves Macé, electro-acústica de Sébastien Roux.

Os documentos sonoros foram recolhidos por Joris Lacoste, Oscar Lozano Pérez e Elise Simonet.

Em Lisboa, “Suite n.º4” será apresentada no auditório Emílio Rui Vilar, na Culturgest, no dia 01 de fevereiro. No Porto, estará no auditório Campo Alegre, do Teatro Municipal, no dia 04 de fevereiro.

Leia Também: Culturgest. Nova temporada com Victor Pontes, Tó Trips e Lia Rodrigues

Deixe um comentário