Descoberta da arte do Côa "lembra necessidade da preservação da história"

 

“A descoberta da arte rupestre do Vale do Côa veio relembrar-nos valores essenciais: a necessidade de preservarmos a nossa história e o nosso ambiente, como fatores decisivos na construção do futuro. A história começou bem lá atrás. Em meados da década de 1990, a sociedade portuguesa mobilizou-se em torno da salvação das gravuras rupestres de Foz Côa”, lembrou Graça Fonseca numa nota envida à Lusa.

O Parque Arqueológico do Vale do Côa assinala hoje 25 anos de existência, após uma luta travada contra a constituição de uma barragem num local que é considerado pelos especialistas como “o maior santuário de arte rupestre, em todo o mundo”.

Para a governante, o futuro das regiões só pode ser pensado de forma conjunta, reconhecendo a importância patrimonial dos bens em causa e com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável da região.

“Esse é o objetivo do Programa Especial do Parque Arqueológico (PEPA) do Vale do Côa, lançado pelo Governo em dezembro de 2020, envolvendo as áreas governativas da Cultura, Ambiente e Ação Climática, Coesão Territorial e Agricultura”, vinca a mesma nota.

Graça Fonseca recordou o movimento que ditou a suspensão definitiva das obras de construção da barragem em outubro de 1995: “Socialmente, marcou uma nova atitude das instituições e das populações na preservação do património, enquanto base fundamental da identidade dos territórios, do exercício da cidadania e da coesão social”.

“O trabalho que tem sido desenvolvido no Parque Arqueológico do Vale do Côa traduz, na prática, o compromisso do Estado português em desenvolver uma política de salvaguarda deste importante património cultural e natural”, acrescentou Graça Fonseca.

Segundo a presidente da Fundação Côa Parque, Aida Carvalho, o parque arqueológico já recebeu ao longos destes 25 anos de existência 271.626 visitantes e foram descobertas 1.200 rochas, sendo 45 visitáveis em quatro núcleos: Penascosa, Fariseu, Canada do Inferno e Ribeira de Piscos.

Em 10 de agosto de 1996, o então primeiro governo de António Guterres inaugurava formalmente o primeiro parque arqueológico português, assegurando uma virtual proteção legal ao que já então constituía o complexo de arte rupestre do Vale do Côa.

Aida Carvalho destaca os muitos trabalhos em curso, no local, e uma agenda de investigação a decorrer.

“Nos próximos tempos, as escavações vão continuar no sítio de arte paleolítico do Fariseu [rocha 9] e na Cardina-Salto do Boi, onde foi evidenciada recentemente uma ocupação pelo Homem de Neandertal desde 100.000 anos. Alargar-se-á as sondagens e as escavações ao território que fica entre o baixo Côa e Siega Verde [Espanha], para tentar perceber as formas de ocupação humana neste território contíguo”, explicou a responsável.

A arte do Côa foi classificada como monumento nacional em 1997 e, em 1998, como Património da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês).

Como uma imensa galeria ao ar livre, o Vale do Côa apresenta mais de 1.200 rochas, distribuídas por 20 mil hectares de terreno com manifestações rupestres, sendo predominantes as gravuras paleolíticas, executadas há mais de 25.000 anos, e distribuídas por quatro concelhos: Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e Meda.

 

Deixe um comentário