“É uma peça sobre como tantas pessoas nos propõem felicidade total, a partir da ideologia, do consumo, da religião, da indústria de entretenimento, da tecnologia. Todos nos querem felizes e têm uma solução para nós, mas seremos nós verdadeiramente felizes?”, diz à agência Lusa o dramaturgo e encenador da peça que estará em cena até 30 de novembro no Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra.
Por entre peças curtas onde povoam borboletas carnívoras, caracóis pestilentos ou um homem-lixo, surgem apelos à “lavagem cerebral”, aludindo a essa “obsessão” do mundo moderno pela felicidade, pelo aniquilar de qualquer depressão, medo ou ansiedade – “resquícios do animal selvagem”.
A peça marca também uma estreia de Matéi Visniec como encenador, num aprofundar da relação do autor com a companhia, que já tinha interpretado três peças do dramaturgo romeno no passado.
“Dirijo agora pela primeira vez, mas eu sinto que dirigi de cada vez que escrevi uma peça e escrevi umas 70. Quando escrevo, imagino uma cenografia, uma encenação e, no final, eu páro a minha produção e dou a liberdade aos encenadores”, conta à Lusa o autor.
O espetáculo reúne algumas das primeiras peças curtas que escreveu diretamente em francês, depois de ter fugido da Roménia de Nicolae Ceauescu como refugiado político e de se ter instalado em França.
‘Sinto esta peça como uma espécie de prenda para mim próprio’, vincou.
Matéi Visniec, que entende o espetáculo como uma espécie de ‘comédia social e política’, salienta que decidiu dar à peça o nome ‘Café Bonheur’ (‘bonheur’ quer dizer felicidade) para realçar o ‘lugar especial’ que a ideia de café tem para o autor.
“O café é um espaço onde as pessoas estão livres. Tantos livros escritos em café, tantos movimentos artísticos que nasceram no café. Todos os dias, eu gosto de ir para um café, pelo menos durante uma hora, porque é um espetáculo, um espetáculo social”, vincou.
O espetáculo é interpretado por Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Maria Quintelas, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash.
A peça é exibida de quarta-feira a quinta-feira, às 19h00, à sexta-feira e ao sábado, às 21h30, e, ao domingo, às 16h00.
O bilhete tem um custo de entre cinco e dez euros.
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