Esculturas da Quinta Real de Caxias vão ser restauradas e musealizadas

 

“As 24 esculturas originais, restauradas pelo professor [Carlos] Beloto, serão musealizadas em sítio próprio junto à Cascata da Quinta Real, que será ainda criado para esse efeito”, disse à agência Lusa a assessoria da Câmara Municipal de Oeiras (CMO).

“O museu das 24 esculturas originais – o maior repositório de esculturas de Machado de Castro – será em zona coberta na atual oficina de restauro, que se pode transformar também na exposição da documentação investigada sobre a quinta como centro de interpretação, e nas galerias sob as varandas laterais da cascata”, adiantou a autarquia.

O Pavilhão da Casa da Nora onde estão a ser restauradas as esculturas, poderá ser o futuro espaço musealizado. 

Questionada pela Lusa sobre uma data para a abertura, a assessoria disse que “está dentro dos projetos da câmara fazer isso em breve”, sem adiantar uma data, e salientando “a complexidade do restauro”.

A autarquia sublinhou à Lusa o “estado de mutilação em que se encontravam as estátuas depois de anos de abandono e vandalismo”.

As esculturas, em terracota, representam uma cena mitológica, a deusa Diana banhando-se junto à gruta onde o seu amado, o pastor Endimião, dorme um sono eterno, sendo surpreendida por Atião. Originalmente, das esculturas partiam vários jogos de água, uma característica dos jardins barrocos, nos quais se enquadra o de Caxias.

A construção da quinta, como espaço de recreio na segunda metade do século XVIII, foi uma iniciativa do infante Franciscoo (1691-1742), irmão do rei João V.

A CMO reconhece que “a Quinta Real de Caxias é um dos elementos de maior interesse histórico e arquitetónico do concelho de Oeiras”, e esteve votada “ao abandono e à utilização indevida durante décadas”.

A Quinta Real é “um exemplo da sofisticada vida social do século XVIII”, seguindo o modelo francês dos jardins do Palácio de Versalhes, “toda a pompa dos salões é transferida para os jardins, através de geometrismos e de uma rigorosa oposição de cenários e elementos escultóricos, arquitetónicos e naturais”.

“O jardim transforma-se num agradável espaço onde os jogos e os espetáculos de índole cultural, como o teatro, música ou o bailado se desenrolavam como em autênticos salões ao ar livre, podendo desfrutar-se de vistas sobre a entrada da Barra de Lisboa, do Bugio e das várias fortalezas como a de S. Julião”, acrescentou a fonte da autarquia.

As obras da Quinta Real, iniciadas por Francisco, duque de Beja, prolongaram-se até ao século XIX, com diversas alterações ao traçado original, que seguia o padrão francês.

A quinta, num total de 5,8 hectares, inclui várias espécies arbóreas como palmeiras e araucárias, além de arbustos com formas geométricas e lagos.

Na quinta, além do palácio, sobressai a cascata monumental construída pelos irmãos Mathias Francisco, no centro do jardim, ornamentada com elementos escultóricos, de autoria de Machado de Castro, escultor muito ligado às obras régias, como o Palácio Convento de Mafra, para o qual contribuiu, ou a estátua ao rei José, no centro da Praça do Comércio, em Lisboa.

Joaquim Machado de Castro, natural de Coimbra, coordenou os programas escultóricos do Palácio da Ajuda e da Basílica da Estrela, em Lisboa.

A Quinta Real foi utilizada pelo rei Miguel e, como residência, por Luís I, antes de se alojar no Palácio da Ajuda. Outro monarca que passou pela quinta foi D. Maria I.

Em 1908, Manuel II autorizou o parcelamento da quinta e a sua partilha pelo então Ministério da Guerra, a quem foi entregue o palácio, o jardim de aparato e a cascata, tendo-se ali estabelecido, mais tarde, o Instituto dos Altos Estudos Militares, que ocupou as instalações até 1956, quando foi transferido para Pedrouços, em Lisboa.

A restante área de pomares, pátio do Jogo da Bola e o lago de Hércules e respetivo conjunto escultório, ficou na posse do Ministério da Justiça, incluindo a área da cerca e Convento vizinho da Cartuxa, onde se instalou o Instituto Padre António de Oliveira, um estabelecimento de educação de menores delinquentes, conhecido como o Reformatório de Caxias.

Em 1922, a construção de um muro dividindo as duas áreas de responsabilidade governativa, seccionou a coesão e uniformidade da antiga propriedade régia.

Em 1969, realizaram-se algumas intervenções de conservação no Palácio, mas não na cascata e nos jardins, apesar de estarem previstas.

A câmara de Oeiras estabeleceu, em 1986, um protocolo com o Ministério da Defesa Nacional de cedência, para a recuperação, manutenção e utilização dos jardins e cascata.

Na altura, o jardim “encontrava-se em avançado estado de degradação, quer no que respeita à vegetação e pavimento, quer no referente aos seus elementos arquitetónicos”, segundo a edilidade que referiu à Lusa “o crescimento desordenado da vegetação”, a perda dos desenhos dos jardins de buxo, os lagos degradados e sem água, as esculturas danificadas e “a cascata e os terraços laterais cederam a problemas estruturais”.

 “O espaço encontrava-se ocupado por barracas, galinheiros e hortas”, recordou a edilidade à Lusa.

A recuperação levada a cabo pela Câmara de Oeiras mereceu o Prémio Europeu atribuído à Recuperação de Jardins Históricos, em 1993, iniciando-se o desenvolvimento de “um novo ciclo na recuperação do jardim, dando possibilidade à consolidação dos desenhos de buxo, com a reposição do traçado decorativo da época da sua construção, à iluminação dos caminhos e à adaptação de um novo sistema hidráulico de alimentação dos repuxos, fontes e cascata através da reciclagem da água”.

Em 2008, foram adjudicadas, ao Instituto de Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa, as obras de recuperação e consolidação de algumas estruturas da cascata, entretanto já terminadas, tendo a edilidade decidido a execução de oito réplicas das esculturas de Machado de Castro, que, atualmente, ornamentam o espaço.

Outra área em recuperação é o lago de Hércules, cuja reabertura está prevista para março de 2023, segundo a CMO, que tomou posse da gestão da Quinta Real de Caxias, no ano passado.

A Quinta Real está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1953, e está aberta ao público.

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