Figuras da Política às Artes recordam ensaísta nas redes sociais

Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, conselheiro de Estado, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço morreu hoje, em Lisboa, aos 97 anos.

O ex-ministro da Cultura, João Soares, “na hora triste da morte de Eduardo Lourenço”, utilizou o Facebook para partilhar o testemunho de “profundo respeito pela sua memória”.

“O professor Eduardo Lourenço é alguém para com quem, como português e como socialista, tenho um sentimento de profunda gratidão e dívida. Que perdura, e perdurará, na sua obra. Vou hoje reler o prefácio aos ‘Lusíadas’ que aceitou reeditar (estive com Adelio Gomes modestamente envolvido no pedido de reedição desse prefácio) há um par de anos na linda edição da Livraria Lello. Honra à memória de Eduardo Lourenço”, escreveu.

O economista e antigo dirigente do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã salienta, também no Facebook, que Eduardo Lourenço “será lembrado como o ensaísta mais marcante das últimas décadas, e era-o”.

“Será venerado como um exigente europeísta, que não cedia ao maniqueísmo financeiro, e era-o certamente. Será homenageado como um pensador da esquerda e um criador de pontes, como era. E deve ser recordado como um ser humano excecional, de amizade inquebrantável e fiel às interrogações que nos levam para a frente. Adeus, Eduardo”, lê-se na publicação de Francisco Louçã.

O Facebook foi também a plataforma usada pelos autarcas do Porto, Rui Moreira, e de Lisboa, Fernando Medina, para recordarem o ensaísta.

A acompanhar uma fotografia de Eduardo Lourenço, Rui Moreira partilhou uma citação de Eduardo Lourenço, datada de 13 de janeiro de 2019: “O Porto é o porto. Basta! O nosso norte é aqui”.

Já Fernando Medina lembra que “a morte do ensaísta, professor universitário, filósofo e intelectual português acontece num dia com particular significado para Portugal e para os portugueses”.

“Foi precisamente sobre o que é ser português e sobre a nossa identidade que Eduardo Lourenço refletiu, escreveu, falou. E era fascinante ouvi-lo falar. Da complexidade das coisas e do ser, com uma desassombrada simplicidade. Esta sua singularidade é bem a marca da sua vida e obra. Desaparece o homem, mas o seu legado e pensamento ficam para os descobrirmos e nos descobrirmos no ‘labirinto da saudade’ que é tão português”, escreveu o presidente da Câmara de Lisboa.

A eurodeputada do Bloco de Esquerda (BE) e candidata à Presidência da República, Marisa Matias, usou o Twitter para recorda o “interprete ímpar” da “singularidade” portuguesa, “um pensador generoso e atento, um construtor de pontes em tempos de incerteza”.

“Na falta que nos fará, encontremos na sua obra as pistas para um futuro mais justo. Obrigada, Eduardo Lourenço”, lê-se na publicação.

No campo das Artes, o compositor António Pinho Vargas, através do Facebook, lembra que Eduardo Lourenço é autor de “tantas páginas admiráveis”, “tantos livros inesquecíveis, e “tanto pensamento brilhante produzido sobre literatura, Portugal, a Europa e o estado do mundo!”.

O músico Pedro Abrunhosa, também no Facebook, salientou que “o triunfo da razão não sucumbe à morte daquele que acrescenta”, agradecendo a Eduardo Lourenço “pela imensidão” do que o ensaísta “acendeu”.

Na mesma rede social, o escritor Valter Hugo Mãe escreveu sobre o desaparecimento de “uma das mentes mais brilhantes e cordiais” que conheceu.

“Eduardo Lourenço, pensador de profunda beleza, faleceu hoje aos 97 anos. Agradeço-lhe a obra e a elegantíssima maneira de lidar com cada um, que muito me honrou. Este ano empobrecemos demasiado”, lê-se na publicação.

Também o editor Manuel Alberto Valente usou o Facebook para partilhar o “murro no estômago” que sentiu esta manhã quando soube da morte de Eduardo Lourenço.

“Há mortes em que não se acredita! Foi pela ‘Heterodoxia’ que comecei a lê-lo, há muitos, muitos anos – e isso deve significar alguma coisa. Era o último dos nossos ‘sábios’ – e por isso humilde, irónico, atento às pequenas coisas do mundo. Vejo-o agora a afastar-se, com aqueles passos pequeninos, quase a arrastar os pés, como o vi da última vez. Talvez vá de novo à procura desse labirinto da saudade onde buscou o destino português”, escreveu.

O presidente do ICOM — Conselho Internacional de Museus, Luís Raposo, também utilizou o Facebook para admitir que, “se fosse coisa de uso” em si, “carregaria hoje luto”.

“Confesso que em geral não me entusiasmam os filósofos que procuram entender a realidade de debaixo de espelhos que no fundo não passam de embaciamentos de si mesmos, sem nela valorizar as dinâmicas de luta social (e, sim, a luta de classes também) que faz a história mover-se.

“Mas há exceções e Eduardo Lourenço era uma delas”, lê-se na publicação.

Também algumas entidades recorreram às suas contas nas redes sociais para lamentar a morte de Eduardo Lourenço, caso da Fundação José Saramago, que partilhou excertos de textos escritos pelo Nobel da Literatura nos quais falava sobre o ensaísta, e da Ordem dos Arquitectos, que se despede “do seu mais recente membro honorário com um ‘Obrigada’!”.

Mas nem só de Portugal surgiram reações à morte de Eduardo Lourenço.

O diretor do Centre for Cross Border Studies, na Irlanda, Anthony Soares, escreveu no Twitter que “Portugal e o mundo perderam um pensador absolutamente incrível”, “o filósofo que procurou Portugal no seu labirinto”.

Conselheiro de Estado, professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, distrito da Guarda, e morreu hoje, em Lisboa, aos 97 anos.

Prémio Camões e Prémio Pessoa, recebeu também o Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, o Prémio da Academia Francesa, e foi agraciado com as Grã-Cruz da Ordem de Sant’Iago da Espada da Ordem do Infante D. Henrique e da Ordem da Liberdade.

Foi ainda nomeado Oficial da Legião de Honra da França e consagrado doutor ‘Honoris Causa’ pelas universidades do Rio de Janeiro, de Coimbra, Nova de Lisboa e de Bolonha.

Autor de mais de 40 títulos, que testemunham “um olhar inquietante sobre a realidade”, como destacaram os seus pares, tem em ‘Os Militares e o Poder’, ‘Labirinto da Saudade’, ‘Fernando, Rei da Nossa Baviera’ e ‘Tempo e Poesia’ algumas das suas principais obras.

 

 

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