A obra é uma compilação do trabalho realizado pelos dois fotojornalistas do jornal Público durante um ano, e “não incide só na pandemia, porque o país não parou”.
“O país continuou a laborar, não são só funerais, hospitais e ruas vazias, como costumo dizer, alargámos o leque, mas é uma compilação de um ano de trabalho”, disse à Lusa Adriano Miranda.
O fotojornalista referiu que estão a “ultimar as fotografias, algumas realizadas ainda este mês, para que na primeira quinzena de abril seja lançado”.
“Decidimos juntar as coisas e fazer a publicação. Estamos a fazer um ‘crowdfunding‘, ou seja, são as pessoas que estão a comprar o livro antecipadamente que estão a apoiar a edição”, explicou.
Os dois viram e fotografaram um país a várias velocidades consoante o evoluir da doença e das funções sociais, económicas e laborais da população portuguesa.
Tendo consciência de que “no mundo digital muita informação visual se vai perder irremediavelmente”, consideraram que “o suporte físico, neste caso um livro, é o melhor garante para a preservação da memória”.
“Foi essa a ideia primeira. Contribuir para que em casa, nas bibliotecas, nos locais de trabalho, haja um livro (como já há outros) que nos mostrem os tempos em que vivemos. Será importante para as gerações futuras”, explicam Adriano Miranda e Paulo Pimenta.
Os autores constataram o que é um país confinado por exemplo em teletrabalho e outro a ir para os seus locais de trabalho.
“Muitas pessoas continuaram a sair de casa, apanhar transportes públicos. Outros ficaram confinados às suas quatro paredes. Os mais velhos foram protegidos pelas instituições que os acolhem. O país não fechou. Continuou o seu ritmo, ou melhor, procurou manter o ritmo”, sustentou Adriano Miranda.
Os autores contam que “sentiram de perto as emoções provocadas pela falta do contacto físico, do convívio, do direito a reunião, do direito à circulação”. Sentiram de perto “as linhas vermelhas e as primeiras linhas. A pressão nos hospitais, o sofrimento e a exaustão. A despedida”.
“Emergência366” é, assim, “um livro que nos ajuda a aprender. O que sabemos hoje por testemunhos escritos e visuais da Pneumónica no início do sec. XX serviu para nos ajudar a resolver certas questões na pandemia atual, por exemplo. Tudo o que fica é importante e é uma ferramenta poderosa para se analisar e estudar”, salientam os fotojornalistas.
“Emergencia366” é um livro de autor, sem apoios, nem fins lucrativos. São as pessoas que conhecem os autores e o seu trabalho desenvolvido ao longo de anos que contribuem com a compra antecipada.
“Compram o livro ‘às cegas’, ou seja, sem o ver e poder avaliar. É um ato de coragem e confiança. Sem o apoio das pessoas o livro não irá ver a luz do dia. Ficará na gaveta porque não há nenhuma instituição ou empresa que o apoie. Mas o ritmo de adesão tem sido elevado”, referem.
Os interessados em contribuir ou adquirir o livro, que tem prefácio do poeta Jorge Velhote, devem enviar um email para emergencia366@gmail.com.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.611.162 mortos no mundo, resultantes de mais de 117,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.617 pessoas dos 811.948 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.