Guarda-roupa da Viagem Medieval da Feira disponível ao público todo o ano

Aquele que é o evento mais emblemático desse município do distrito de Aveiro já conta há vários anos com uma coleção própria de vestuário, calçado e acessórios ao estilo da Idade Média, mas em maio de 2022 o armazém desse material foi transferido para um espaço de 600 metros quadrados na Rua dos Descobrimentos, alargando-se a uma loja que passará a estar aberta em permanência ao público em geral.

“Já há muito tempo que havia a possibilidade de os visitantes da Viagem alugarem fatos para usar no recinto, mas agora vamos ter a loja a funcionar durante todo o ano, num reforço de marca que vai alargar este produto a outros destinatários, como companhias de teatro, músicos e artistas, organizadores de eventos e empresas com iniciativas de ‘team-building'”, revela à Lusa o diretor-geral do evento, Paulo Sérgio Pais, da empresa municipal Feira Viva.

A mudança de instalações surgiu depois de a autarquia negociar um aluguer de longa-duração com os proprietários do imóvel, mediante o qual o piso térreo fica reservado para o guarda-roupa medieval e o andar superior para serviços camarários como os relativos a engenharia e obras.

O novo armazém ainda está, contudo, a ser sujeito a intervenções de melhoramento e ao arranjo da respetiva envolvente, pelo que, por enquanto, fora do horário da recriação histórica, a loja só faz atendimentos por marcação.

O início de atividade em regime normal está previsto para setembro e a oferta anunciada para essa altura é de “6.000 fatos inteiros”, como adianta a responsável pelo guarda-roupa, Liseta Morais, ao referir que, entre esses trajes, tanto há figurinos de nobres e burgueses como de plebeus e árabes, além de modelos específicos relativos a ordens militares, ao clero e às artes.

Já a lista de acessórios disponíveis inclui, por exemplo, 150 espadas, 200 lanças e 130 escudos decorados com motivos mouros, aos quais se somam bolsas de pele, chapéus e “muito poucas coroas”, como avisa a supervisora da coleção, alertando que a monarquia portuguesa não se adornava assim no seu quotidiano e limitava o uso de joias a cerimónias raras como as de entronização.

“Andar coroado era um hábito mais dos ingleses. Não há registo de que os reis portugueses andassem de coroa na rua ou fossem com ela para a guerra, como que se vê nos filmes e nas séries de televisão”, afirma.

Quanto aos preços, Liseta Morais diz que, quando requisitado para uso na Viagem, “um traje custa entre 20 e 30 euros por dia, e o calçado mais 7,5”, de acordo com um tarifário que, por enquanto, “cobre essencialmente a lavagem das peças”.

Essa é, aliás, uma das tarefas mais exigentes que cabe à equipa do guarda-roupa, como admite Paulo Sérgio Pais, ao notar que o novo espaço da Rua dos Descobrimentos inclui, por exemplo, uma lavandaria e engomadoria mais amplas. “Conseguimos lavar aqui 40 quilos de roupa no espaço de duas horas”, garante.

Outra valência do novo armazém é uma zona melhorada para reparações e arranjos de costura, para a qual Liseta Morais prevê uso intensivo a partir do dia 14 de agosto: “Quando a Viagem acaba, toda a gente que trabalhou no evento vai de férias, menos o pessoal das desmontagens e do guarda-roupa. Nessa altura, vão os outros descansar e ficamos nós aqui fechadas uns 15 dias seguidos só a lavar roupa e a passá-la a ferro”.

Após uma interrupção de dois anos devido à pandemia de covid-19, a 25.ª Viagem Medieval de Santa Maria da Feira é dedicada aos vários reinos abordados nas 24 anteriores edições do evento e propõe-se cobrir em 12 dias os nove reinados da Primeira Dinastia, entre 1143 e 1383.

Ocupando uma área de 33 hectares no centro histórico da cidade, o evento envolve o trabalho de 2.000 pessoas por dia e apresenta 80 espetáculos de vários formatos em cada jornada, um dos quais com cerca de 300 atores e figurantes em cena. “E só no primeiro dia há logo 15 espetáculos inéditos a estrear”, realça Paulo Sérgio Pais.

O presidente da Câmara Municipal, Emídio Sousa, conta receber em 2022 os mesmos 700.000 visitantes de 2019 e antecipa uma edição “histórica”, não só pelos temas verídicos que a inspiram, mas também pelo seu caráter distintivo. “A Viagem Medieval foi o que mais mudou Santa Maria da Feira nestes 25 anos. Passámos de território com características agroindustriais a referência nacional e internacional no setor dos eventos e da criatividade, e este ano é para comemorar esse percurso — é para celebrar um ícone que se tornou motivo de orgulho para todos os habitantes do concelho”, conclui.

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