Guerra prova que humanidade não aprendeu com os erros, diz Nobel

“Estou em choque desde o dia 23 de fevereiro e não sei que testemunho posso dar sobre o que está a acontecer”, afirmou a escritora polaca, confessando ainda não ter encontrado “a voz do narrador sensível” que nos seus livros lhe permite alcançar uma visão global sobre os temas que trata na sua escrita.

O narrador sensível dentro de si vê os impactos da guerra na “separação das famílias” ou na “própria natureza” mas, não sendo “política, nem analista”, a escritora admite: “ainda não consigo pegar na voz dele” e falar de uma guerra sobre a qual “poucas pessoas sabem tudo o que está a acontecer”.

Oradora numa mesa de autores do Folio — Festival literário Internacional de Óbidos – a escritora galardoada com o prémio Nobel da literatura em 2018 preferiu hoje falar de livros e do processo criativo em que diz não ser “dona do próprio fado”.

“O tema aparece-me e é muito teimoso, muito impertinente”, partilhou hoje com o público do Folio para justificar que não irá escrever sobre Óbidos ou o festival em que participou pela primeira vez.

A escritora que hoje se propunha falar de “limites”, cumpriu ao longo de uma hora de conversa a promessa de que “rapidamente” iria “ultrapassar os limites e falar sobre outros temas, entre os quais as diferentes perspetivas que portugueses e polacos têm sobre as fronteiras.

“Estamos num país onde as fronteiras foram delimitadas há 800 anos” disse, lembrando que no seu país “as fronteiras foram sempre móveis” e que a sua avó, “que viveu sempre na mesma cidade, teve tripla nacionalidade”.

A “insubordinação” que em pequena a levava a “atravessar e voltar” repetidamente a fronteira com a República Checa, transpôs em adulta para a escrita que no seu caso “é obsessiva”, ao correr da voz do tal narrador que “não tem género”.

No evento que hoje juntou cerca de 200 pessoas para ouvir a escritora, Olga Tokarczuk fez ainda questão de deixar “uma vénia ao leitor”, que considera sempre “mais inteligente que o escritor, e um elogio à “nova profissão dos blogers literários que tornaram mais democrática a crítica literária”.

A mesa de Olga Tokarczuk encerrou o programa de hoje no Folio, que decorre até ao dia 16 em 24 espaços da vila de Óbidos.

Durante 11 dias, cerca de 300 autores de dez países participam no festival que integra 16 exposições, 36 concertos, 14 mesas de autores, 62 apresentações e lançamentos de livros, 16 oficinas, ao que se juntam tertúlias, workshops e masterclasses e sessões de cinema, entre muitas outras iniciativas.

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