Hélio Morais trocou a bateria pelas teclas e fez-se vocalista em ‘Murais’

 

“Murais”, inicialmente anunciado para abril de 2020 e depois para outubro, é hoje editado. Um ano depois do previsto, Hélio Morais já tem “muita coisa nova feita”, mas “Murais” continua a fazer sentido: “quando o assumi como disco, assumiu uma função muito concreta na minha cabeça que era encontrar um espaço que fosse meu, que não fosse imediatamente colado a Linda nem a Paus”, contou, em entrevista à Lusa.

Em 2008, o músico experimentou, “pela primeira vez, escrever canções sozinho, na altura na guitarra, mas sem pensar fazer algo com aquilo ou sequer mostrar a alguém”. “Eu toco muito mal guitarra, então não investi muito na coisa”, confidenciou.

Anos mais tarde, um piano deixado em Lisboa por músicos norte-americanos e que acabou por ir parar à sala onde os Linda Martini ensaiavam acabou por despertar em Hélio Morais novamente a vontade de criar músicas sozinho.

“Interessei-me muito por aquilo, porque o piano é meio percussão meio cordas. Achei que podia ser uma ferramenta mais fácil para mim e comecei a fazer umas bases instrumentais e a pôr umas vozes, sem sequer pensar num disco. Mas a dada altura já tinha muitas coisas e decidi fazer uma triagem e começar a gravar uma ‘demo’ mais a sério”, recordou, referindo que “há coisas neste disco que estão gravadas desde 2017”.

Mesmo nessa altura, o músico “não tinha pressa nenhuma” de editar um trabalho a solo. Mas isso mudou em 2019, quando decidiu mostrar as suas criações ao brasileiro Benk Teixeira, guitarrista da banda Boogarins, “e ele topar produzir o disco”.

“Aí ficou mais sério e ‘ok, tenho que fazer isto'”, recordou.

Benk olhou para as músicas “pelas músicas que eram” e não como “as músicas do Hélio, o músico dos Linda Martini ou dos Paus”, e acabou por produzir o álbum “de uma forma que conseguiu cumprir esse objetivo de encontrar um espaço que não tocasse demasiado em nenhum dos territórios” que Hélio “já habitava antes com as bandas”.

Os temas de “Murais” são “pop sem vergonha de ser pop” e falam “muito sobre relações, sejam relações de amizade, românticas, amorosas”.

Entre os 10 temas “acaba por haver um fio condutor, porque fala sobre relações sempre, só que às vezes de uma forma mais irónica e de outras de uma forma mais honesta, mais íntima e mais pessoal”.

“Acho que a tónica mais comum é a comunicação, a falta de comunicação ou às vezes a dificuldade que há na comunicação entre dois sujeitos, porque isso depois pode minar muita coisa e é complicado comunicar bem. Ser honesto às vezes é difícil”, referiu.

Com a decisão de continuar a carreira a solo tomada, Hélio Morais revelou que as músicas novas que tem estado a compor “são muito mais pessoais e muito mais íntimas”, e quem o conhece vê a vida dele ali.

“Nestas pode ver pontos de contacto com a minha vida, mas não diria que vê histórias minhas. Este disco não é necessariamente sobre histórias minhas. Por exemplo, na ‘Sou Pablo nada muda’ não escrevi sobre mim, não naquele momento. Não é sobre a falta de comunicação numa relação em que eu estivesse na altura, mas a dado momento da minha vida já senti aquelas coisas. Mesmo que não sintamos aquelas coisas naquele momento, já as sentimos a dada altura”, disse.

Em “Murais”, as letras são todas da autoria de Hélio, que também compôs todos os temas, com exceção de “Oi Velho”, a partir de um instrumental de Benk Teixeira, “que numa outra versão está no disco de um artista brasileiro, Pais”.

No álbum, Hélio gravou teclados, baterias, voz e fez arranjos de sopros, que pediu ao músico João Cabrita para tocar.

Na lista de convidados estão também a cantora Xana, dos Rádio Macau, em “Até amanhã”, o cantor brasileiro Giovani Cidreira, em “Marialva”, e Catarina Munhá nos coros de “Outono” e nos violinos em “Catatua”. Para participar em “Murais”, Hélio chamou ainda Fábio Jevelim e Makoto Yagyu, companheiros dos Paus.

Ao vivo, Hélio Morais, além de cantar, irá estar nas teclas e estará acompanhado de Miguel Ferrador, nos sintetizadores e ‘sampling’, e João Vairinhos na bateria, músicos que o acompanham “dos tempos do ‘hardcore'”, e pontualmente por João Cabrita, no saxofone.

“Por mais que não seja um disco rock, eu gosto que ao vivo soe grande e soe forte”, referiu.

“Murais” vai ser apresentado ao vivo em junho, em Lisboa (dia 01 no Teatro Maria Matos), São João da Madeira (dia 4 na Casa da Criatividade), no Porto (dia 05 no Hard Club) e em Coimbra (dia 6 no Salão Brazil).

 

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