Baseada no livro ‘A assassina da roda’, de Rute Carvalho Serra, que também adaptou a obra para o palco, ‘Luiza de Jesus — A assassina da roda’ é um monólogo encenado e interpretado por Maria Henrique a partir daquele episódio que a atriz considerou tratar-se de “um desafio gigantesco” para si “como atriz e como encenadora”, disse à agência Lusa.
Apesar de falar de uma assassina, a peça fala “sobre a vida, fala sobre a sobrevivência e fala também do que aconteceu em Portugal em 1772”, disse Maria Henrique, lembrando que Portugal vivia então sob o domínio da Inquisição.
“Alegadamente, Luiza de Jesus, sendo uma mulher que vivia absolutamente abaixo do nível da miséria, terá sido acusada de ter ido buscar crianças que eram abandonadas nas rodas da Misericórdia por pessoas que não tinham posses ou até por pessoas que tinham posses mas tinham filhos ilegítimos” e de ter matado 33 crianças, referiu.
A atriz lembrou que estas “amas” que iam buscar os bebés às rodas (locais onde as crianças eram abandonadas pelos progenitores ou seus familiares) recebiam algumas moedas, pelo que se poderá dizer que o facto de Luiza de Jesus ter ido buscar crianças à roda “poderá ter sido uma forma de tentar sobreviver”.
A atriz e encenadora recorda ainda que na altura “três quartos das crianças abandonadas nas Misericórdias iriam morrer”, uma vez que se sabia que já estavam “muito, muito doentes”.
“Estamos aqui a falar do que um ser humano poderá fazer para sobreviver, quais são os limites da justiça, quais são os parâmetros morais”, acrescentou.
Até que ponto a justiça é justa e será que os meios justificam os fins são questões que esta peça deixa no ar, uma vez que Luiza de Jesus foi forçada a confessar os crimes sob tortura.
Ao pôr em cena este texto, Maria Henrique disse pretender também que as pessoas fiquem a pensar sobre o que está certo.
“Será que os meios justificam os fins? Será que mesmo que ela tenha sido uma horrível assassina devia ter sido atenazada, queimada nas costas com um ferro quente, andar pelas ruas a ser apedrejada, a ser torturada, a ser enforcada, antes de ser enforcada cortarem-lhe as mãos, depois ser queimada?”, questiona também a atriz.
Com interpretação musical de Hugo Aristides, espaço cénico e figurinos de Rui Lopes e desenho de luz de Filipa Romeu, a peça vai estar em cena na sala Estúdio até 30 de maio, com sessões de quarta-feira a domingo, às 19:00.
No dia 16 de maio, haverá uma conversa com o público.
Leia Também: “Toda a vida, estranhamente, o teatro deu-me sempre segurança”