Maestro Pedro Carneiro celebra paixão pela música no CCB até junho

“É uma celebração da minha paixão pela música e minha ligação ao CCB”, disse o maestro titular da Orquestra de Câmara Portuguesa (OCP) e da Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), referindo-se à programação que propõe para o ciclo “Carta Branca”, em declarações à agência Lusa.

“No fundo acaba por ser o centro da minha atividade enquanto intérprete, compositor, enquanto improvisador, enfim como criador”, prosseguiu Pedro Carneiro, que realçou a sua ligação ao CCB, onde realizou “um dos {seus] primeiros recitais em Lisboa”, e “onde [viu] nascer a Orquestra de Câmara Portuguesa, em setembro de 2007”.

“Vivi horas sem fim nas suas salas de ensaio, nos palcos, bastidores, corredores, em todas estas múltiplas valências”, realçou.

O maestro e percussionista afirmou que este convite implica também “a responsabilidade de encontrar projetos interessantes e de poder concretizar o trabalho” que tem vindo a fazer.

Para o maestro, o convite dirigido visa também “revelar alguns” dos seus interesses que “tem sido um pouco fora do CCB, nomeadamente a OCP e a JOP e a direção de orquestra”.

O primeiro concerto, no próximo sábado, “é à volta da percussão” e, no segundo concerto, a 20 de abril de 2023, Pedro Carneiro vai também apresentar-se a solo e revelar uma peça que compôs há 20 anos,

No sábado, pelas 21:00, com Pedro Carneiro sobem ao palco do pequeno auditório do CCB João Braga Simões, Rafael Picamilho, Carlos Zíngaro, Rodrigo Pinheiro, Pedro Melo Alves e Vítor Vieira.

Sobre o concerto de abertura do ciclo, Pedro Carneiro disse: “Celebra a percussão, o centro da minha vida criativa há mais de três décadas, com a obra incontornável de alguns criadores que fazem parte da sua história nos séculos XX e XXI, Toru Takemitsu, Alejandro Viñao e Iannis Xenakis, pontuados por momentos de improvisação/criação, com artistas de várias gerações”

No concerto do próximo 20 de abril, também no pequeno auditório, Pedro Carneiro apresentar-se-á a solo, e estreia uma obra que compôs há 20 anos, para sete músicos, soprano e eletrónica, que inclui poesia da sua autoria, assim como de Sebastião da Gama (1924-1952) e do húngaro Miklós Radnóti (1909-1944).

Carneiro partilha ainda o palco com o jovem músico Henrique Constância, “um novíssimo talento, que irá rematar o concerto com uma das mais belas páginas de Joseph Haydn, a sinfonia ‘La Passione'”. Este concerto dedicado à “Música de Câmara” conta ainda com o projeto Notas de Contacto e a Orquestra de Câmara Portuguesa.

A 19 de maio do próximo ano, Pedro Carneiro enceta “a viagem mais inaudita” com Moullinex, alter-ego do multi-instrumentista Luís Clara Gomes, com quem está “ainda a criar um projeto à volta da árvore e da sustentabilidade [ambiental]”.

“Um concerto para marimba e eletrónica, que toma a árvore como símbolo, em particular a madeira da marimba, o pau-rosa do Belize, como mote”.

O Belize, referiu o músico Pedro Carneiro, “é um país [na América Central] com um índice elevado de pobreza, onde metade das crianças carece de necessidades básicas. A árvore é, deste modo, um espírito, uma oração, um órgão feito de floresta”.

Pedro Carneiro e Moullinex vão apresentar “Árvore” no grande auditório do CCB.

O ciclo “Carta Branca” a Pedro Carneiro encerra no dia 24 de junho de 2023 com “24 horas de música, numa grande festa que é também a celebração do espaço CCB”, pois acontece em diferentes locais do centro, em que irá também tocar e vai “convidar alguns amigos musicais de longa data, partilhando o gosto pela música ao longo de todas as épocas sem barreiras estéticas”.

Nesse dia, propõe-se “uma maratona musical de 24 horas de música”, sendo “uma oportunidade única de viajar, sentir, ver e ouvir o CCB por dentro, pelos seus espaços [acústicos] múltiplos, a sua luz e a sua magia, através da música, da palavra, do som e do movimento”.

Além de Pedro Carneiro, a “maratona musical” conta com uma Orquestra Participativa, o ‘ensemble’ vocal Vocês Caelestes, sob a direção do maestro Sérgio Fontão, o Grupo de Percussão da Orquestra de Câmara Portuguesa, o flautista Rui Borges Maia e a pianista Joana Gama.

“É fazer uma grande festa, que é fazer um bocadinho mais do que me foi pedido, mas a música é generosidade e entrega, e esta partilha grande”.

Haverá também uma orquestra participativa, na qual se poderá inscrever quem o entender. Pedro Carneiro vai aliás disponibilizar a todos a partitura da peça.

O dia encerra com uma obra de cinco horas para percussão, flauta e piano, “For Philip Guston”, de Morton Feldman (1926-1937).

Neste dia, além da “tenacidade” de Feldman, escutar-se-á música da “genialidade de Johann Sebastian Bach, ao sublime György Kurtág, da invenção de Carlos Gesualdo à energia transcendente de Iannis Xenakis”, atravessando mais de 400 anos de criação musical.

O percussionista Pedro Carneiro, nascido em 1975, é cofundador, diretor artístico e maestro titular da OCP e da JOP.

Estudou piano, violoncelo e trompete, desde os cinco anos; foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, onde terminou a licenciatura com a distinção “Head of Department Award”.

Estudou direção de orquestra com Emilio Pomàrico, na Accademia Internazionale della Musica, em Milão.

Carneiro tocou, em estreia absoluta, mais de uma centena de obras, e trabalha regularmente músicos, orquestras e compositores, tendo atuado como solista convidado de orquestras como a Filarmónica de Los Angeles, Orquestra Sinfónica de Seattle, Orquestra Nacional de Gales da BBC, Filarmónica de Helsínquia, a Orquestra Sinfónica da Rádio Finlandesa e Sinfónica da Islândia, Orquestra de Câmara Inglesa, Orquestra de Câmara de Viena, Orquestra do Festival de Budapeste, Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo, Sinfónica da Rádio de Leipzig e Orquestra de Câmara Sueca, entre outras.

Carneiro já tocou sob a direção de maestros como Gustavo Dudamel, Oliver Knussen, John Neschling e Christian Lindberg, e, entre outros, colaborou com os quartetos Tokyo, Shanghai, New Zealand, Latinoamericano e Arditti, com o qual gravou.

Da sua extensa discografia, destaca-se a monografia de Xenakis (2004).

Carneiro trabalhou igualmente com as orquestras Gulbenkian, Sinfónica Portuguesa, Clássica da Madeira, do Algarve e Fundação Orquestra Estúdio, no plano nacional e, no estrangeiro, com a Orquestra Sinfónica da Estónia, sendo maestro convidado no Round Top Festival, no Texas, e no Festival de Música de Santa Catarina, no Brasil.

Colabora regularmente com o realizador João Viana e o encenador e Miguel Moreira. Trabalhou igualmente com o ator, encenador e dramaturgo com Jorge Silva Melo (1948-2022), fundador da companhia Artistas Unidos.

Entre outros, recebeu o Prémio Maestro Silva Pereira (1997) e o Park Lane Young Artists Auditions (1998), assim como o Prémio da Hattori Foundation for Young Musicians (2001), a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal (2011) e o Prémio Gulbenkian Arte (2011).

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