Mateus Aleluia regressa a Portugal para cinco concertos

 

É já na sexta-feira, em Évora, que arranca a digressão de Mateus Aleluia por Portugal, seguindo-se um concerto em Lisboa, a 27 de outubro, onde regressará para uma segunda data, a 04 de novembro.

Há ainda um concerto, a 30 de outubro, no festival Womex, no Porto, onde será também apresentado o documentário “Aleluia, O Canto Infinito do Tincoã”, sobre a vida do artista e o percurso de Os Tincoãs, e outro em Coimbra, a 06 de novembro.

Em entrevista à agência Lusa, o cantor diz estar “muito feliz por voltar a Lisboa, a Portugal, como um todo”, depois de ter passado pela capital, no início dos anos de 1980, com a banda Os Tincoãs.

Para o cantor, a cidade que viu há quase 40 anos já “não é a mesma”.

“Lisboa, cada dia que passa, ela se apresenta ao mundo pelo verdadeiro papel que ela nasceu para ter, um papel muito importante para o mundo. Penso que é um papel agregador. Portugal nasceu para incluir”, considera.

Mateus Aleluia começou a sua carreira no grupo de culto Os Tincoãs, que se manteve ativo entre os anos 1960 e 1980.

Quando entrou no grupo, depois de um membro da formação inicial ter saído, o trio baiano tocava “músicas que eram um sucesso na altura”, como “bolero ou cha-cha-cha”.

Todos os membros do grupo eram de Cachoeira, “uma cidade do recôncavo da Baía, onde tudo faz lembrar Portugal”, refere o músico.

Cachoeira é também “uma cidade afrobarroca por excelência. Tem toda uma população, quase 80% que é daquela massa humana que atravessou o Atlântico, que veio de África, e, depois os portugueses e os indígenas que já lá estavam antes”.

“Durante o dia, aquilo é uma cidade normal, mas à noite, quando o Candomblé era proibido, começavam os cânticos do Candomblé na parte recuada da cidade. (…) Logo de manhã, o sino da igreja Católica despertava a cidade. Logo após o sino, quando começava a missa, era o órgão e o harmónio da igreja que também despertava a cidade”, narra.

Desse encontro, a população daquela cidade do Vale do Paraguaçu “era formada artisticamente, culturalmente, do ponto de vista humano, de uma forma integrada, dentro do afro e do barroco, pela parte da música, sem ter nenhuma condução do ponto de vista pedagógico, ortodoxa”.

“Foi assim que Os Tincoãs começaram a cantar esse canto do Candomblé”, conta o artista.

Em 1983, mudou-se para Angola para fazer pesquisa cultural, num “programa de pesquisa para identificar a similaridade e herança, do ponto de vista ritualístico, da região e qual a influência musical de tudo isso que poderia vir de Angola”.

“Se nós no Brasil temos uma cultura tão bem alicerçada, tanto do ponto de vista barroco, como do ponto de vista africano, pensámos que essa cultura vem do culto — tanto do culto católico, como do Candomblé”, explica.

Esse trabalho informou o que depois viria a fazer a solo, que começou com o projeto “O Afrobarroco em palestra musical”.

Dando continuidade a esse trabalho, surge, em 2010, o primeiro álbum de Mateus Aleluia, “Cinco Sentidos”.

Seguiram-se “Fogueira Doce”, em 2017, e “Olorum”, em 2020, trabalhos que seguramente surgirão nas suas atuações em Portugal.

O cantor está a terminar “Nações do Candomblé”, que se baseia “em pesquisas no Benim, na Nigéria e em Angola, da parte do culto”, e que será lançado no final de novembro, adianta.

Sobre se o público português terá oportunidade de ouvir algum do novo reportório, o músico diz que “o tempo de palco é tão curto que não dá para apresentar muita coisa, mas, se houver oportunidade”, desvenda “um cheirinho da novidade”.

Além da sua música, o documentário “Aleluia, O Canto Infinito do Tincoã”, de Tenille Bezerra, é apresentado no Womex, que se realiza no Porto, de 27 a 31 de outubro.

“Aceitei porque não parecia uma coisa muito invasiva e seria uma coisa mais ligando todo este conteúdo de uma forma espontânea e tem muita contextualização, mas deixando também que a pessoa que assista ao documentário também comece a imaginar, a se colocar dentro deste mundo”, explica o músico.

Mateus Aleluia gostou também da abordagem “que foge um pouco do padrão — ele é muito filosófico, muito poético, muito espontâneo. É muito livre”, remata.

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