Ministra da Cultura lamenta morte do editor "exemplar e modelar"

“A cultura portuguesa perde, hoje, um editor exemplar e modelar, que com rigor, profissionalismo e uma boa disposição permanente, deixou uma marca inapagável na edição independente em Portugal e na divulgação da banda desenhada e da ilustração entre nós”, refere Graça Fonseca numa nota de pesar.

João Paulo Cotrim, natural de Lisboa, morreu hoje aos 56 anos.

Para a ministra da Cultura, “o percurso profissional de João Paulo Cotrim é indissociável do seu trabalho como editor de livros e revistas, reconhecido por quem com ele trabalhou e pelos muitos leitores que conquistou como um editor completo, simpático e empenhado”.

“Nas editoras Abysmo e Arranha-Céus ou em revistas como a Lua Cheia, a LX Comics ou a Ícon, o seu trabalho foi inovador, tanto nas abordagens como nos formatos, destacando-se pelo investimento, muitas vezes arrojado, na componente gráfica das obras e periódicos que editava”, afirmou.

Graça Fonseca considera que, “numa carreira multifacetada, em que se notabilizou como autor, editor, jornalista e guionista, importa também realçar o seu compromisso profundo com a programação literária e com a promoção da leitura”.

“Para além do seu notável trabalho como escritor de literatura infantojuvenil, merece especial destaque o seu contributo, enquanto coordenador, na Casa da Leitura, da Fundação Calouste Gulbenkian, e a direção da Bedeteca de Lisboa entre a sua fundação e 2002, tendo, neste último projeto, um impacto muito significativo na preservação, promoção e divulgação da banda desenhada, da ilustração e do cartoon em Portugal, bem como no estímulo à criação nestes meios por parte de autores portugueses”, lê-se na nota.

João Paulo Cotrim dirigiu a Bedeteca de Lisboa desde a sua abertura, em 1996, e até 2002. Durante este período organizou várias iniciativas e exposições.

Foi diretor do Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada durante quatro edições e responsável pela sua programação e dos catálogos e da mostra Ilustração Portuguesa.

Guionista para filmes de animação, João Paulo Cotrim escreveu novelas gráficas, ensaios e poesia e histórias para crianças e adultos. Foi jornalista e era editor da Abysmo.

Na sua vasta obra encontram-se novelas gráficas (“Salazar — Agora, na Hora da Sua Morte”), ficção (“O Branco das Sombras Chinesas”, com António Cabrita), ensaios (“Stuart — A Rua e o Riso” ou “El Alma de Almada El Ímpar” — Obra Gráfica 1926-1931), aforismos (“A Minha Gata”) e poesia (“Má Raça”, com Alex Gozblau), além de histórias para as infâncias (“Querer Muito”, com André da Loba).

João Paulo Cotrim foi ainda professor no Ar Co, no departamento de Ilustração e BD, bem como no IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, e colaborou no Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB).

No seguimento do confinamento imposto pela pandemia de covid-19, João Paulo Cotrim criou, em 2020, “Torpor. Passos de voluptuosa dança na travagem brusca”, uma revista digital gratuita criada e disponibilizada pela editora Abysmo.

Entre os vários órgãos de comunicação social em que trabalhou consta a Revista Ler, Elle, Máxima, Marie Claire, Oceanos, Visão, Grande Reportagem, Colóquio-Letras, Der Spiegel, Le Monde e o suplemento DNA.

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