Museu do Azulejo espera obras de fundo para melhorar imagem do edifício

 

Com a última intervenção de fundo realizada há mais de 40 anos, o museu debate-se também com problemas de infiltrações que o diretor espera igualmente poder resolver a médio prazo, com o apoio financeiro do PRR, que inclui 150 milhões de euros para requalificar e recuperar o património do país até 2025.

Contactado pela agência Lusa sobre as necessidades mais urgentes do museu, Alexandre Pais não quis avançar o valor estimado para essas obras de fundo no Museu Nacional do Azulejo (MNAZ), por ainda não estar definido com exatidão, nem sabe quando deverão ser iniciadas, mas prevê, pela dimensão, que “deverão demorar entre um ano, a ano e meio, no máximo dois anos”, a ser concretizadas.

No quadro das verbas previstas no PRR para recuperação de património, o Ministério da Cultura anunciou, em abril deste ano, uma lista de 46 museus e monumentos e mais três teatros nacionais que serão também alvo de obras com estes fundos europeus.

Entre eles está o MNAZ, um dos mais importantes museus nacionais, pela sua coleção, que atrai anualmente milhares de visitantes, sobretudo estrangeiros, mais de 80 por cento da afluência, de acordo com um estudo divulgado em 2018.

Alexandre Pais diz estar confiante de que seja possível começar a realizar as obras “mais importantes e prioritárias na cobertura e fachada”, para devolver uma imagem atrativa do rosto do museu aos visitantes, resolver as infiltrações de água quando chove, proporcionando ainda um funcionamento das atividades “de forma mais acolhedora” nos espaços.

“A degradação da fachada exterior não dá uma boa imagem do museu. Basta fazer pesquisa nos ‘sites’ internacionais, e há vários que dizem que se [o turista] tiver meio dia, em Lisboa, e quiser visitar um museu, o aconselham a ir ao Museu do Azulejo, porque a partir dali consegue perceber o que é a cultura e a sensibilidade portuguesas. É muito lisonjeador, mas também alertam os visitantes para não se deixarem desencorajar com o aspeto exterior, porque o interior é surpreendente”, relatou à Lusa.

O diretor do MNAZ espera que as obras na fachada possam “mudar essa perceção e criar uma outra imagem, que é fundamental para o museu”, instalado no antigo Mosteiro da Madre de Deus, fundado em 1509 pela rainha D. Leonor (1458-1525), e que no ano passado teve cerca de 50 mil visitantes, um número muito abaixo do habitual, a rondar as duas centenas de milhar, devido às restrições da pandemia, e que em 2019 ascendeu a 233 mil entradas.

O MNAZ tem por missão recolher, conservar, estudar e divulgar exemplares representativos da evolução da cerâmica e do azulejo em Portugal, promovendo a inventariação, documentação, investigação, classificação, divulgação e conservação e restauro da cerâmica, em particular do azulejo.

Integra também a salvaguarda patrimonial da igreja e dos demais espaços do antigo Mosteiro da Madre de Deus, onde está instalado.

A tutela da Cultura, através da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), reuniu-se este ano com os diretores de equipamentos da sua dependência para que fizessem um levantamento das necessidades mais prementes para preparar a aplicação dos fundos do PRR.

“A nossa tutela pediu um levantamento de todas as necessidades do museu, o mais detalhadamente possível, com tudo aquilo que faria a diferença, e elencámos tudo o que considerámos fundamental”, relatou o diretor do museu à Lusa sobre a documentação que foi entregue no Departamento de Estudos, Projetos, Obras e Fiscalização da DGPC, para análise e definição de prioridades.

A última grande intervenção de fundo para a totalidade do MNAZ foi realizada nos anos de 1980, seguindo-se outras, mais setoriais, em várias salas, nomeadamente a Sala D. Manuel, segundo o responsável, com mais de 20 anos de experiência no museu.

Mas as mais urgentes – que dizem respeito à fachada e cobertura – nunca avançaram pela sua dimensão e custo associado: “A última intervenção realizada na fachada tem mais de vinte anos, portanto tem um ar muito degradado”, avaliou, ressalvando que o interior do museu “não está [degradado] porque há uma equipa de duas pessoas que faz muito trabalho na recuperação dos espaços interiores. No exterior não pode fazer”.

Alexandre Pais – que tomou posse da direção este ano, na sequência de um concurso internacional – explicou que a infiltração de água da chuva está relacionada com o claustro e a sua cobertura do andar superior, anteriormente chamado de ‘varandas’ pelas freiras, e que foi fechado com vidros em obras realizadas há quarenta anos.

“Foi uma solução excelente, na altura, por ter criado corredores cobertos para exposição de peças, portanto ótima para fazer face à falta de espaço no museu. Mas os vidros foram colocados virados para dentro, e fixos no teto da parte de cima do claustro. Com o passar do tempo, a quantidade de água da chuva foi entrando por cima desses vidros”, descreveu.

A água que entra no museu “não está a entrar nas salas, nos espaços expositivos, mas no corredor, que, de facto, tem uma grande degradação nas tijoleiras junto às janelas”.

“Esse setor tem de ser fechado quando chove porque há perigo de as pessoas escorregarem e caírem. Não há perigo para as peças, mas sim para a movimentação de pessoas, e temos de proteger os nossos funcionários e os visitantes”, justificou, sobre uma situação resultante de uma solução antiga, “que tem de ser alterada”.

Alexandre Pais estima que a intervenção deverá ser muito onerosa porque “implica substituir todos os vidros do claustro, que tem uma área enorme, e posicionar todas as janelas do lado de fora”.

Além desta obra, espera poder finalizar uma outra, já iniciada, no Jardim de Inverno, junto à cafetaria: “O usufruto deste espaço será totalmente diferente. A experiência do museu vai ser potenciada a níveis mais elevados. Queremos que as pessoas venham ao museu e se sintam acolhidas num espaço que é seu. Eu acredito que essas obras vão conseguir fazer isso”.

“O grande problema destas intervenções é que são de tal forma complexas e onerosas que estavam a ser feitas em parcelas. Esta, no Jardim de Inverno, já tinha começado, mas havendo um maior reforço financeiro, vai ser possível fazer a totalidade”, acrescentou o especialista.

Alexandre Pais é licenciado em História, variante História da Arte, mestre em História da Arte, e doutor em Artes Decorativas pela Escola de Artes do Porto da Universidade Católica Portuguesa.

De a acordo com um estudo de públicos dos museus nacionais, realizado em 2015, pela DGPC, em conjunto com investigadores universitários e divulgado em 2018, o MNAZ é um museu nacional com grande peso de visitantes estrangeiros, com os franceses, brasileiros e alemães a liderar as visitas, por esta ordem, num conjunto de 55 nacionalidades, segundo os dados então recolhidos.

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