A mostra, que vai estar patente até 7 de maio próximo, é coorganizada pelo museu e o projeto ‘LivrObjecto – Anatomia e Arquitetura’, sendo comissariada pela conservadora Inês Correia.
A “exposição configura-se na leitura das obras expostas”, conjugando peças do acervo, que vão do livro, protagonista da biblioteca, “objeto perfomativo” pelo que contém e revela, entre anotações e dedicatórias, a cadernos de dança e figurinos, que “contracenam” com obras das artistas Ana S. Rocha, Ana Romana, Carla Rebelo, Ema M. Inês Marques, Isabel Baraona, Joana Imaginário, Rita Carvalho e Teresa Palma, dando forma ao seu propósito: ‘Para Além de Página – Palco, Corpo, Tempo’.
“A ideia para a exposição desenvolveu-se a partir da biblioteca do Museu e atravessa as paredes da sua sala de leitura. Relançando o olhar sobre as artes cénicas e sobre o papel fundamental do corpo – suporte inesgotável de mensagem – esta exposição configura-se na leitura das obras expostas”, afirma Inês Correia num texto sobre a mostra, enviado à agência Lusa.
“Mais do que expor”, o objetivo é “levar a ler” o que é apresentado, prossegue a conservadora, “pois ler é também ver por dentro e uma forma de ativar o que está latente”.
“Complementando a riqueza do acervo e a diversidade das iniciativas temporárias, atendemos o Livro como objeto performativo cuja linguagem formal pode ultrapassar a sua própria estrutura clássica e tornar-se palco para um circuito de comunicação que persiste no tempo, transitando por sucessivas leituras”, sublinha Inês Correia.
Com as obras plásticas de Ana S. Rocha, Ana Romana, Carla Rebelo, Ema M. Inês Marques, Isabel Baraona, Joana Imaginário, Rita Carvalho e Teresa Palma “contracenam […] peças de teatro, intervencionadas com anotações de autores, encenadores, atores, ou com dedicatórias, cadernos de apontamentos sobre dança, livros forrados com tecidos, alguns de trajes de cena, além das relações suscitadas entre as artes de palco e os livros”.
Inês Correia realça que “além das proposições que podem relacionar as artes de palco com os livros, tais como o suporte de narrativas, a suspensão ou aceleração do tempo ou a dilatação e compressão do espaço, a exposição reflete sobre a temporalidade da própria leitura, sobre o significado cénico de anotações manuscritas ou sobre outras intervenções expressivas em exemplares únicos da biblioteca do museu”.
“Além da página, a exposição oferece todo o ‘corpo do livro’ e o que dele se move, articula e transforma. Na verdade, as artes contemporâneas de palco afirmam-se plenamente quando se libertam formalmente dos textos e dos cânones. Ainda que lhes sobrevivam registos escritos, ou mais recentemente imagem fotográfica ou em movimento, parte da interpretação nasce e morre no palco, nasce e morre no palco, nasce e morre no palco”, insiste a comissária.
Sobre as oito autoras convidadas, Inês Correia afirma que, “ampliando com a forma o conteúdo dos textos, fazem-se representar por uma seleção de obras, que tomam o livro como o médium privilegiado de ação e criação, como objeto angular, performativo e experimental”.
Para a coordenadora, esta “não se define como exposição coletiva, mas convergente em cada proposta”.
“As obras apresentadas estão dispostas de modo a que possam criar rotas inesperadas de leitura e pretendem contrariar o discurso imediato e retraído entre a obra literária e a sua interpretação visual […], agitam o silêncio dessa nova sala de leitura e mantêm em aberto todo o discurso possível”, prossegue Inês Correia.
Nos livros, a conservadora chama a atenção para “o espaço em branco” da “página que sai do prelo”, esse espaço “ao qual chamamos margens, vazios ou entrelinhas, que modelam o texto e o ritmo da leitura”.
“Dependendo dos leitores a quem pertenceram, o espaço em branco é o lugar performativo da mão, que em gesto manuscrito se revela. Mas, e se além de página [do livro] a página for palco?”, interroga, chamando a atenção para o lugar de cena em que se estabelece a própria mostra.
A Biblioteca do Museu Nacional do Teatro e da Dança, ponto de partida desta exposição abriu ao público em 1994.
O seu acervo inicial foi constituído a partir das bibliotecas privadas dos atores Amélia Rey-Colaço e Francisco Ribeiro (Ribeirinho) e do colecionador António Magalhães, bem como do fundo documental do Grémio dos Artistas Teatrais, tendo sido complementado por outros núcleos bibliográficos, doados por profissionais do espetáculo, historiadores, críticos e também “por amantes das artes de palco”, segundo o Museu.
A coleção tem cerca de 35.000 títulos de monografias e 300 títulos de publicações periódicas sobre teatro, dança e ópera, do século XVIII até à atualidade.
“É importante destacar os fundos especiais constituídos por teatros de cordel, coplas e libretos, assim como um notável conjunto de 6.000 exemplares de peças de teatro originais, guiões, traduções e adaptações datilografadas ou manuscritas, muitas não publicadas”, realça o Museu na apresentação da mostra.
Do acervo fazem parte “primeiras edições, publicações raras e livros anotados por gente do palco, com singulares dedicatórias ou acompanhados de diversos materiais inseridos pelos seus possuidores. Constituem, por isso, cada um deles, documentos únicos para a história das artes performativas em Portugal”.
O ‘LivrObjecto – Anatomia e Arquitetura’ é “um projeto exploratório que desenvolve o seu programa cultural desde 2017, contando desde o início com o acolhimento de espaços direcionados à preservação e divulgação de narrativas e memórias — conteúdo primordial dos livros”, conclui o texto de apresentação.
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