Óbito/Lauro António: "Setúbal e o cinema estão de luto", diz a autarquia

A Câmara Municipal de Setúbal lamentou hoje a morte do realizador, programador e crítico de cinema Lauro António, que há quase dez anos “desenvolvia intensa atividade cultural no concelho”, sublinhando que “Setúbal e o cinema estão de luto”.

Num comentário na página oficial na rede social Facebook, a autarquia de Setúbal recorda os ciclos e ‘masterclasses’ cinematográficos que Lauro António efetuou na cidade, assim como a estreita colaboração que manteve com o município, onde foi criado um espaço museológico, destinado à promoção e divulgação do gosto pelo cinema e o audiovisual.

Trata-se da Casa das Imagens Lauro António – Biblioteca, Mediateca e Arquivo, que abriu em maio de 2021, espaço criado a partir do espólio colecionado pelo realizador, que o doou ao concelho de Setúbal, totalizando mais de 50 mil peças relacionadas com o audiovisual e cuja programação era assegurada pelo cineasta.

Lauro António, de 79 anos, morreu hoje de manhã, na casa onde residia, em Lisboa, em consequência de um ataque cardíaco fulminante.

O funeral realiza-se na sexta-feira, a partir das 14:15, para o cemitério dos Olivais, em Lisboa.

Além de ciclos especiais de cinema, como os que promoveu em Setúbal em diferentes verões ou o que vai começar, também na cidade, no dia 12, intitulado “Estúdio Apolo 70”, Lauro António realizou, desde 2013, no Fórum Municipal Luísa Todi, ‘masterclasses’ de cinema temáticas que se realizavam à segunda-feira e que “fidelizaram um número assinalável de público ao longo de mais de 420 sessões”.

Nascido em Lisboa, a 18 de agosto de 1942, Lauro António de Carvalho Torres Corado passou a infância e parte da adolescência em Portalegre e formou-se em História, na Universidade de Lisboa.

Na década de 1960, ainda na Faculdade de Letras, foi crítico de cinema nos jornais República e Diário de Lisboa, na revista Plateia, e, depois, noutras publicações como Diário de Notícias e Se7e. Foi também membro do Cine-Clube Universitário de Lisboa e dirigente do ABC Cine-Clube.

Lauro António assinou o primeiro filme profissional em 1975, quando rodou a ‘curta’ documental “Vamos ao Nimas”, sobre os cinemas de Lisboa, mas o mais conhecido dos seus filmes seria a adaptação do romance “Manhã Submersa” (1980), de Vergílio Ferreira, que também deu origem a uma série de televisão.

Anos antes, Lauro António dirigira o documental “Prefácio a Vergílio Ferreira”, curta-metragem centrada na personalidade e na obra do escritor.

Entre os últimos títulos dirigidos pelo realizador, contam-se exatamente produções documentais, como “Obviamente, demito-o”, centrada na personalidade de Humberto Delgado, na sua oposição à ditadura e na sua candidatura à presidência da República, em 1958, uma produção de 2009, para a RTP, e “José Viana, 50 anos de carreira”, um documental de 1998, dedicado ao ator e artista plástico.

A intensa atividade em torno do cinema levou Lauro António a programar para várias salas de cinema, colaborar com a RTP e a RDP, publicar ensaios, dirigir festivais em Portalegre, Seia, Viana do Castelo e em Famalicão, e lecionar, consecutivamente, em cursos sobre cinema.

Nos anos 1990, estreou-se como encenador, com a peça “Encenação”, no Teatro de Animação de Setúbal, mas ficou mais conhecido sobretudo pelo programa televisivo “Lauro António apresenta”, título que recuperou para um blogue que atualizava com regularidade, com crítica sobre cinema.

É autor de livros como “Cinema e Censura em Portugal” e “O Cinema entre Nós”.

Em 2018, Lauro António recebeu o Prémio Carreira do Fantasporto, foi distinguido pela Academia Portuguesa de Cinema com um prémio Sophia de carreira e foi condecorado pelo Presidente da República com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

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