“Soube sempre ligar a dimensão artística a um empenhamento cívico livre e solidário. A sua obra ficará para sempre gravada na nossa memória – como embaixador do Fado, um dos artífices da classificação deste como património imaterial da Humanidade pela UNESCO“, afirmou à Lusa.
“Neste sentido, tenho muito orgulho em ter presidido ao júri do Prémio Vasco Graça Moura de Cidadania Cultural do Estoril Sol que o galardoou com inteira justiça em 2020”, rematou Oliveira Martins, também administrador da Fundação Calouste Gulbenkian e um dos nomes de referência do Centro Nacional de Cultura.
A fadista Maria Amélia Proença, com mais de 60 anos de carreira, referiu-se a Carlos do Carmo, por seu lado, como “um grande profissional, boa pessoa e bom colega”.
Maria Amélia Proença, que fez parte do elenco da casa típica O Faia, que pertenceu a Carlos do Carmo e foi fundada por seus pais, em 1947.
“O Carlos [do Carmo] vai ser sempre lembrado”, disse a fadista à Lusa, realçando “a [sua] cuidada escolha de repertório”.
Maria da Fé, que realizou vários espetáculos com Carlos do Carmo, nomeadamente na Alemanha, afirmou que “é um começo triste de Ano Novo”, e realçou “a grande dignidade com que Carlos do Carmo pôs fim à carreira”, numa referência ao concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em novembro de 2019.
“Esteve muito bem, com a voz muito boa”, disse. “Sempre gostei muito dele, éramos amigos, e ele foi sempre o meu fadista de eleição”, afirmou.
“O Carlos foi um homem de grande cultura e ensinamento, um homem do mundo”, concluiu Maria da Fé.
Carlos do Carmo morreu hoje, aos 81 anos, no hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Nascido em Lisboa, em 21 de dezembro de 1939, era filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística em 1964.
Vencedor do Grammy Latino de Carreira, que recebeu em 2014, entre outros galardões, o seu percurso passou pelos principais palcos mundiais, do Olympia, em Paris, à Ópera de Frankfurt, do ‘Canecão‘, no Rio de Janeiro, ao Royal Albert Hall, em Londres.
Em 1976 venceu o Festival RTP da Canção com ‘Uma Flor de Verde Pino’, de Manuel Alegre e José Niza, e representou Portugal no Festival da Eurovisão, em Haia, onde alcançou o 12.º lugar.
Despediu-se dos palcos no passado dia 09 de novembro de 2019, com um concerto no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
‘No Teu Poema’, ‘Um Homem na Cidade’, ‘Flor de Verde Pinho’, ‘Os Putos’, ‘Canoas do Tejo’, ‘Lisboa, Menina e Moça’, ‘Bairro Alto’, ‘Por Morrer uma Andorinha’, ‘Fado do Campo Grande’ ou ‘Fado da Saudade’, com o qual ganhou um Prémio Goya, em Espanha, foram alguns dos seus êxitos.