Outra Voz em palco para espetáculo sobre "pão e trabalho" no Vale do Ave

Criado em 2010, no âmbito da área de comunidade da Capital Europeia da Cultura de 2012, o projeto dedicado à expressão vocal a partir da música de tradição oral atuou ao vivo pela última vez em junho de 2019, com o espetáculo “Sete”, e regressa com uma proposta de 50 minutos que evoca indiretamente aquela área “industrializada”, a partir das vivências dos próprios membros da Outra Voz.

“Para este filme, evocámos a energia que existe no Vale do Ave. Então dividimos o filme em três partes muito fortes: o pão e aquilo que simboliza, o trabalho, com esta questão da [indústria] têxtil, e o lugar-comum, com aqueles pequenos largos que existem nas freguesias”, diz à Lusa o diretor artístico da peça, Rui Souza.

Apesar da abordagem não ser “direta”, a carga associada ao território, “positiva e negativa”, está incorporada numa ‘performance’ que começou a ser idealizada em maio de 2020, com uma “troca de cartas anónima” e ainda 84 entrevistas aos membros do coletivo nos jardins das suas casas ou nos espaços públicos que frequentam, que resultaram em 20 horas de filmagem ao ar livre, devido às restrições associadas à pandemia de covid-19.

“Isto começou com uma troca de cartas entre pessoas da Outra Voz, a falarem sobre aquilo que faziam naquele momento. Depois fomos ter com as pessoas e gravámos depoimentos sobre a forma como as pessoas se estavam a sentir e aquilo de que queriam falar. As imagens serviram-nos de pesquisa e de inspiração para criar esta ficção”, esclarece o músico.

Diretor artístico de todo o espetáculo, Rui Souza selecionou música a partir da “tradição oral” e escreveu dois temas novos para a banda sonora do filme realizado por Pedro Bastos, definido pelas “características abstratas” e pela ausência de “narrativa fechada”, que permite a cada espetador “tirar as suas ilações”.

Já a ‘performance’ que vai servir de “contracena” ao filme, com 70 a 80 elementos da Outra Voz em palco, tem a direção de Marisa Oliveira, Madalena Gonçalves e Guilherme Moreira, para a “parte musical e coral”, e de André Araújo, bailarino, para a “parte do movimento”.

O coordenador do coletivo Outra Voz, Carlos Correia, esclarece à Lusa que a “presença física dos participantes” é “importante” para os espetáculos, sendo também uma forma de mostrar a “resiliência” demonstrada pelos membros do grupo, alguns deles de idade já avançada, nas fases de confinamento geral da pandemia.

“A criação parte da nossa resiliência em mantermos os participantes em contacto durante o confinamento. Ficámos um pouco tomados de surpresa com este novo paradigma de vida num primeiro momento, mas depois ficamos certos de que um projeto de encontro de diferentes pessoas, de diferentes idades e de diferentes contextos é mais essencial do que nunca”, frisou.

O espetáculo “Os que nele habitam” tem o apoio da Câmara Municipal de Guimarães, ao abrigo do regulamento de apoio à criação cultural, da Direção-Geral das Artes, através do programa Garantir Cultura, e de associações e empresas do concelho de Guimarães.

Leia Também: Rubi com 2,5 mil milhões de anos prova existência de vida ancestral

Deixe um comentário