Peça Vida de Artistas é "continuidade" do trabalho de Jorge Silva Melo

“Há uma continuidade total, ele deixou a coisa mais ou menos alinhada, mas esta peça não difere muito da outra do Noël Coward [“Vidas íntimas”, também levada ao palco pelos Artistas Unidos] nem difere do método de trabalhar do Jorge”, acrescentou o ator e encenador António Simão à imprensa no final de um ensaio para a imprensa de “Vida de artistas”, do dramaturgo inglês Noël Coward.

Jorge Silva Melo, que morreu no passado dia 14 em Lisboa, aos 73 anos, vítima de doença oncológica, “não alterava os métodos de peça para peça”, observou António Simão.

“Em tempos, se calhar há muito tempo, havia mais atrevimento em mudar, fazer coisas, mas ultimamente neste tipo de peças, para este tipo de teatro, com este tipo de atores, com este tipo de texto, não digo que haja uma receita, nem uma chapa, mas há um modo de trabalhar que todos, vários de nós, conhecemos e a que estamos habituadíssimos”, sublinhou o encenador, numa conversa com todos os atores que interpretam a peça.

Para António Simão, “não há muitos segredos aqui a esse nível de ideia de encenação”, além de que tanto Noël Coward (1899-1973) como Jorge Silva Melo, fundador dos Artistas Unidos em 1995, companhia de que foi o diretor artístico até morrer, “tinham em comum, neste caso, a simplicidade, as coisas exatas, claras, ordenadas, leves, subtis, o esboço, o rascunho”.

“E aqui, pronto, é o trabalho dele”, sublinhou, acrescentando que a companhia está a continuar o trabalho do diretor porque “nem saberiam fazer outra coisa”.

“Estamos a continuar porque sabemos, por enquanto. É claro que vão aparecer momentos ou coisas que nós, se calhar, vamos estranhar mais, porque também somos diferentes, não somos cópias, nem clones e vai acontecer… Mas, nem nós saberíamos outra coisa, não é?”, frisou.

A mentalidade “do Jorge era o trabalho acima de tudo. Isso viveu-se durante a vida toda dele”, indicou.

“Não havia nada mais importante, não digo a toda a hora nem todos os dias, do que os ensaios, do que as estreias, do que os atores, do que o teatro; mais até importante do que a morte”, ressalvou.

António Simão frisou mesmo que Jorge Silva Melo “trabalhou até não conseguir mais”.

Mesmo nos últimos tempos, em que “pela doença, pela idade, ou por que razão fosse já tivesse dificuldade em trabalhar”, continuava a fazê-lo.

“Não houve retiro, não acabou a carreira como os jogadores de futebol, continuou sempre, sempre, sempre. Portanto, não há desconforto nenhum. Aliás, estarmos aqui a falar da peça, do teatro de Noël Coward, de atores, é o Jorge”, frisou.

O “contrário é que seria o desconforto”, disse António Simão, sublinhando que a peça estreará como previsto, porque embora a companhia se tenha apercebido de que algo “não estava bem” com o diretor, já estava preparada para continuar.

“Dentro da nossa mecânica, da nossa sistemática, da nossa maneira de trabalhar. Que não é uma novidade. Nós trabalhamos assim há anos”, referiu.

É, contudo, claro “que o Jorge [Silva Melo] é insubstituível”.

“A maneira como ensaiava, a maneira como tratava tudo, isso é insubstituível”, sublinhou, acrescentando, no entanto, que ele criou “esta maquinaria” e pô-la a funcionar.

“Mal de nós se não conseguíssemos executar as coisas. Era um sinal estranhíssimo de uma incapacidade ou de uma desatenção ou de uma falta de respeito”, concluiu.

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