Pré-publicação da biografia. "O Óscar político de Zelensky"

Zelenky fazia rir os ucranianos e agora fá-los acreditar. Numa Ucrânia livre e sem guerra. A biografia sobre o presidente da Ucrânia – o homem que já foi comediante e ator – já chegou às bancas em Portugal. A obra é escrita por Sergii Rudenko,  editor-chefe de Espresso TV e colunista do Deutsche Welle, e, ao longo de 38 capítulos pretende mostrar um retrato de Volodymyr “sem maquilhagem”. 

O Notícias ao Minuto publica em exclusivo o prefácio da biografia que chega hoje às livrarias portuguesas. 

“O Óscar político de Zelensky”

Eram oito da noite do dia 21 de abril de 2019 quando, ao som da banda sonora da série televisiva Servo do Povo, e acompanhado pela sua equipa, Volodymyr Zelensky apareceu perante os jornalistas. Naquele momento, parecia que todos os 73 por cento dos eleitores ucranianos que apoiaram o candidato vencedor estavam a cantarolar essa música simples com ele. 

Os jornalistas ucranianos e estrangeiros que encheram o auditório do Centro Empresarial Parkovy estavam ansiosos por ouvirem o discurso triunfante do presidente eleito. Zelensky estava radiante. E, como ele, estavam todos os que o acompanharam no caminho da vitória: Andriy Bohdan, Dmytro Razumkov, Kyrylo Tymoshenko, Andriy Yermak, Oleksandr Danylyuk e a esposa do presidente, Olena. Numa nuvem de confetes a pairar no ar, os membros da sede de campanha pareciam estar dispostos a dançar de alegria perante a sala agitada. «Juntos, conseguimos fazê-lo…», começou Zelensky, com a sua voz inconfundível. Como todos os atores fazem ao receber o Óscar, começou por agradecer à sua equipa, à família, à esposa Olena, e até às duas funcionárias de limpeza da sede da campanha, Oksana e Lyuba. Não se esqueceu de mencionar o simbólico setor 73 do estádio Olimpiyskyi 10 onde, junto com a sua equipa, criou o famoso vídeo da campanha «Seja o Estádio». 

Volodymyr ainda estava agarrado ao seu papel de Vasyl Goloborodko, a tentar fazer piadas, picando o Serviço de Segurança da Ucrânia que manteve tonificado ao longo da campanha e a demonstrar otimismo. Parecia que, ao dizer adeus à sua carreira de humorista, Zelensky estava à espera de ser recebido com os mesmos aplausos no palco político. Era compreensível, pois estava habituado à popularidade e aos gritos «Bravo!», «Bis!». Não é de estranhar. Já fora aplaudido em grandes salas de espetáculo de Moscovo, Kiev, Odessa, Jurmala, Minsk e outras tantas cidades da antiga URSS, que assistiram à ascensão da estrela de Volodymyr Zelensky desde 1997, quando se tornou vencedor do concurso televisivo de humor Clube dos Divertidos e Perspicazes, apresentado por Aleksandr Maslyakov. 

De um dia para outro, o jovem ator de apenas 19 anos acordou famoso. Até se tornar presidente, continuava a ser um ator popular e mimado pelo público ucraniano. Seria ele capaz, naquela noite de 21 de abril de 2019, depois de uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais, imaginar que, passado apenas seis meses, passaria a ouvir gritos «Vergonha!» e «Abaixo o Zelensky!»? E não serão apenas os apoiantes do seu adversário principal, Petro Poroshenko, a dizê-lo, mas sim muitos voluntários, militares e políticos. Passados poucos meses após a tomada de posse, começou a demitir aqueles que o levaram à vitória. O primeiro a sair foi o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa, Oleksandr Danylyuk, alegadamente por ter ficado ofendido por não receber o cargo de primeiro-ministro. Foi seguido pelo chefe do Gabinete do Presidente, Andriy Bohdan, que acompanhou os primeiros passos dele na política. 

Os próximos a perderem os seus cargos foram o primeiro- 11 -ministro Oleksiy Honcharuk e o procurador-geral Ruslan Ryaboshapka. Todas estas personalidades representavam o tal Zelensky coletivo, eleito pelo país no dia 21 de abril de 2019. Pois, até ao fim da campanha presidencial, não existia um político chamado Zelensky. De forma alguma. Foi um comediante talentoso, gestor do canal de televisão Inter e do Estúdio Kvartal 95. O ator que protagonizou o professor primário Goloborodko, que na série acabou por ser o líder do país. A sua imagem como presidente foi esculpida pela sua equipa. Há três anos, o 6.º presidente da Ucrânia prometeu: «Juro que nunca falharei convosco.» Desde então, já temos visto Zelensky em circunstâncias diferentes. Ele e a sua equipa foram acusados de falta de profissionalismo. Foram acusados de corrupção, de arrogância e até de traição ao Estado. Contudo, desde o dia 24 de fevereiro de 2022 − o primeiro dia da agressão russa contra o Estado ucraniano − descobrimos um Zelensky que não conhecíamos; a pessoa que não temeu em aceitar o desafio de Putin e liderar a resistência do povo ucraniano à agressão russa. 

O presidente que nesta luta conseguiu unir os seus apoiantes e adversários, corruptos e ativistas anticorrupção, miúdos e graúdos, pessoas de diversas etnias e crenças religiosas. O chefe de Estado aplaudido pelos parlamentos europeus e pelo Congresso dos Estados Unidos. Os episódios da vida do 6.º presidente da Ucrânia apresentados neste livro são peças do puzzle que compõem o retrato de Volodymyr Zelensky. O homem sem experiência política nem conhecimentos relevantes que prometeu aos ucranianos que mudaria o país. O homem que mereceu a confiança de 13,5 milhões de eleitores. Neste livro não haverá moralismos, parcialidade e manipulações. Apenas os factos. 12 Procurei criar um retrato do 6.º presidente da Ucrânia sem maquilhagem. Se consegui ou não − cabe aos leitores julgarem. 

Sergii Rudenko

14,31 euros© Casa das Letras

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