Presença da literatura portuguesa contemporânea em França é "ínfima"

“A literatura portuguesa, comparando com outras línguas em França, com a espanhola ou a do mundo anglo-saxónico, é incomparável, é ínfima. […] A literatura contemporânea portuguesa é pouco explorada, pouco vendida, tem pouca visibilidade em França. Existe um público fiel, mas não bate certo nem com o tamanho da língua, nem com o tamanho da comunidade grande de lusodescendentes que temos em França”, declarou Nuno Gomes Garcia em entrevista à agência Lusa.

Para este autor, com quatro obras publicadas em Portugal e duas publicadas em França, este é um problema que se alarga a todos os autores lusófonos em França.

“O tamanho da nossa língua não bate certo com o destaque dado às literaturas lusófonas em França. Literaturas africanas em francês há muito pouco, ficamos pelo Mia Couto e José Eduardo Agualusa; portugueses pouquíssimos também, brasileiros um pouco mais, porque os editores consideram que quanto mais exótico melhor. Portugal não é suficientemente exótico”, explicou.

Para contornar esta falta de visibilidade, Nuno Gomes Garcia considera que deveria haver mais apoios por parte das autoridades portuguesas, e que esses apoios devem ser mais visíveis a todos os autores lusos.

“Eu acho que tem a ver com o apoio do Ministério da Cultura e do Estado português. Vejo, por exemplo, nas livrarias na Lituânia, porque a minha mulher é de lá, muita literatura escandinava, e eu descobri que há um apoio massivo desses Estados, até pelo ‘soft power’, para a tradução dos livros para o lituano. Em Portugal, há apoios, mas são pouco conhecidos, e o risco de publicar em França é grande”, indicou o autor que é também consultor editorial.

O escritor português, que vive em França há mais de uma década, publicou em maio a versão em francês do livro “O Homem Domesticado”. Na versão francesa, toma o título “La Domestication”, desta distopia em que as mulheres tomam o poder e submetem os homens à condição de escravos, utilizado o genérico no feminino.

“Esta tradução mudou o livro, porque nesta tradução usamos o feminino como genérico, portanto vai além da escrita inclusiva. Eliminámos mesmo o masculino da linguagem. Por exemplo, ‘o Pedro e a Joana são bonitas'”, detalhou.

A partir de outubro, e durante cerca de um mês, o autor português estará em residência literária na região de Cognac, onde, entre 17 a 22 de novembro, se realiza o Festival Literaturas Europeias Cognac.

Este festival francês foi criado em 1988 pela associação que lhe dá nome, no sudoeste de França, no âmbito do centenário do nascimento do político europeísta Jean Monnet (1888-1979).

A associação visa a promoção da literatura e da leitura europeias, através de vários eventos públicos, entre eles o festival literário.

“Estarei lá a escrever, mas também para circular pela região, para ir às bibliotecas, às escolas, a apresentações, e vai culminar nos dias de Festival”, disse o autor, indicando que outros escritores portugueses vão até Cognac.

Nuno Gomes Garcia é o autor dos romances “O Dia em que o Sol se Apagou”, que foi finalista do Prémio LeYa em 2014, estando agora a preparar um novo livro, um romance histórico que se passa no século XV em Portugal.

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