Primeiro leilão internacional de obras de Cruzeiro Seixas em Londres

As obras, com valores estimados entre 1.000 e 7.000 libras (1.200 e 8.400 euros), fazem parte de um leilão com 66 lotes dedicado ao surrealismo, onde se destacam obras de Max Ernst, Salvador Dali, Yver Klein, André Breton, Man Ray. 

Segundo a diretora de vendas da Bonhams, Ruth Woodbridge, esta leiloeira britânica é a primeira internacional a oferecer o trabalho do português a um mercado global.

“Antes vendido principalmente em Portugal, os preços mais altos realizados por [trabalhos de] Seixas em leilão foram para esculturas zoomórficas monumentais, mas a contribuição para o movimento surrealista em geral agora está a ser reconhecida graças à inclusão na atual exposição da Tate Modern, ‘Surrealism Beyond Borders'”, disse. 

“A noite sem fim”, um desenho a guache e aguarela executado em 1977, tem um intervalo de venda entre os 5.000 e 7.000 libras (6.000 e 8.400 euros), enquanto “Estudo para um desenho perdido”, um desenho a tinta-da-China realizado em Angola em 1957, está estimado entre 4.500 e 6.500 libras (5.400 e 7.800 euros). 

Uma obra sem título nem data que consiste numa colagem num envelope, está avaliada entre 1.800 e 2.500 libras (2.150 e 3.000 euros) e outra obra, também sem título, de 2013, realizada em metal, tem um preço base entre 1.000 e 1.500 libras (1.200 e 1.800 euros). 

Woodbridge salienta o facto de Cruzeiro Seixas ser um “artista experimental que utilizou todos os meios, seja pintura, desenho, poesia, colagem ou escultura” e cujo trabalho “reflete as influências de André Breton, Salvador Dalí e Giorgio de Chirico, [que] podem ser vistas nas suas paisagens alienígenas, ambientes noturnos e evocação de fantasmas e monstros”.

O trabalho de Cruzeiro Seixas tem sido exposto internacionalmente nos últimos anos em países como Espanha, França e Estados Unidos. 

Atualmente, está integrado na exposição coletiva sobre o surrealismo no museu Tate Modern, na capital britânica, onde a escultura “O seu olhar já não se dirige para a terra, mas tem os pés assentes nela” foi colocada lado de um trabalho de Marcel Duchamp. 

O diretor artístico da Perve Galeria, Carlos Cabral Nunes, congratula-se por um “trabalho de divulgação da obra de Cruzeiro Seixas” que tem vindo a fazer, nomeadamente na  feira de arte internacional Frieze, também na capital britânica, no ano passado. 

“No seguimento dessa mostra, foi-nos solicitada a colaboração por várias instituições, que ficaram muito interessadas em promover a obra de Cruzeiro Seixas, junto dos seus públicos. A Bonhams foi uma dessas organizações e nós temos procurado ajudar nesse processo de internacionalização”, disse à Lusa. 

Cabral Nunes disse que tem repetido, “em vários fóruns, que o Surrealismo português é, provavelmente, um dos últimos mistérios a revelar, no panorama artístico internacional, relativamente ao século XX, e é fascinante, para nós, termos a possibilidade de colaborar nesse sentido”.

Artur Manuel do Cruzeiro Seixas morreu em 2020, apenas a 25 dias de completar o centenário do seu nascimento.

Cruzeiro Seixas teve um longo percurso artístico, começando por uma fase expressionista, outra neorrealista e outra, com início no final dos anos 1940, mais prolongada, no movimento surrealista português, ao lado de Mário Cesariny, Carlos Calvet, António Maria Lisboa, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria.

Foi esse movimento artístico surgido no início do século XX, que viria a revolucionar a arte, que provocou nele uma acesa paixão criadora que manteria até ao fim da vida. Em 2011, numa entrevista à agência Lusa, declarou, convicto, sobre o Movimento Surrealista: “Até hoje, nada apareceu de melhor”.

Artur Cruzeiro Seixas deixou um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais e foi também um poeta prolífico, tendo o seu acervo artístico sido doado à Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão, em 1999, que tem vindo a salvaguardar, exibir e publicar a obra. 

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