Primeiros Sintomas estreia ‘Fantasma da ópera’ de Gaston Leroux

 

Quando se fala em ‘O Fantasma da ópera’ há uma imediata associação ao musical de sucesso do compositor e produtor britânico Andrew Lloyd Weber, esquecendo-se quase sempre o romance de origem e o seu autor.

“Por detrás desse musical existe uma obra literária que achamos muito interessante. É muito mais complexa, é interessante e tem muito mais elementos do que a versão do Lloyd Weber”, explicou Bruno Bravo, a propósito da encenação que estreia na sexta-feira na Culturgest.

Segundo o encenador, a ideia foi partir do imaginário sombrio, dramático, mas também bem-humorado do romance, e transpor para palco uma adaptação que convoca “elementos que fazem parte das atividades performativas: movimento, ópera, dança, literatura”.

A versão que a companhia Primeiros Sintomas apresenta conta com tradução e letras do músico João Paulo Esteves da Silva, música original de Sérgio Delgado e coreografia de Lígia Soares, para um elenco com quase vinte atores.

Na peça mantém-se o fio da narrativa – um fantasma, alguém que vive na sombra, que tem o rosto desfigurado, que deambula pelos espaços da Ópera de Paris e que se envolve com a jovem cantora Christine Daaé -, mas Bruno Bravo sublinha várias camadas de interpretação na obra de Gaston Leroux, publicada em 1909.

“O fantasma da ópera é um génio, como se dominasse tudo, como se fosse o próprio génio do teatro; é cantor, compositor, é engenheiro, ele manobra tudo, os alçapões, os espelhos. E constrói aquilo que a Christine há de ver. E a deformação dele também pode ser a deformação do génio, o que está solitário, o que está marginal, o que não tem moral”, sublinhou o encenador.

Esta não é a primeira vez que a Primeiros Sintomas encena um texto de Gaston Leroux.

“Descobrimos nos Primeiros Sintomas quando fizemos um espetáculo há quatro anos, a partir de um conto, ‘Le Dîner des Bustes’. Tive uma curiosidade imensa em ler o romance, estudá-lo. Do ponto de vista literário é uma pena não haver traduções cá. O Gaston é praticamente um autor morto, quase ninguém o conhece. É um livro que é tão imenso que nós podemos sempre voltar a lê-lo”, elogiou o encenador.

‘O Fantasma da Ópera’, que ficará em cena até 09 de outubro e que deverá ser apresentada mais tarde no Porto, já deveria ter sido estreada em 2020, mas foi empurrada para a presente temporada da Culturgest, por causa da pandemia.

Para a Primeiros Sintomas representa um regresso aos palcos, com público, ao fim de dois anos de paragens forçadas.

“Aquilo que se descobriu nos ensaios, pelos elementos que estamos a trabalhar, é como se existisse uma espécie de urgência, de alegria, é como se existisse uma pretensão de um olhar absolutamente teatral de invocar no palco uma série de elementos”, de ópera, teatro, bailado, afirmou Bruno Bravo.

O encenador lamenta que a peça só seja apresentada em Lisboa e no Porto, por questões de custos de produção.

“Não há condições para se conseguir ambicionar fazer um espetáculo como na Broadway. As coproduções nunca são muito grandes e fazer um espetáculo com uma equipa tão grande [é difícil]”, disse.

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