PZ lança sexto álbum a olhar para si e para a "trágica condição humana"

 

“É um álbum que faz sentido lançar neste momento, em que me atirei de cabeça, com músicas mais nuas e cruas. Onde o minimalismo eletrónico será a nota dominante, e onde exponho as minhas ideias, neuroses, dúvidas, onde tento não me levar muito a sério e rir-me perante a trágica condição humana, sentimentos exacerbados por esta altura surreal que estamos a viver”, descreve, em entrevista à Lusa.

A partir da chegada da pandemia de covid-19, nos primeiros meses de 2020, o disco foi ganhando forma, no modelo habitual: depois de desenvolver instrumentais, começou a fazer letras.

“A pandemia, como pano de fundo, inspirou-me para algumas músicas, outras fui resgatar aos confins da memória. (…) Há duas músicas que escrevi para uma peça de teatro, ‘Could Be Worse’, que fez sentido incluir neste disco”, acrescenta.

Um artista “de pijama”, um elemento que sempre fez parte da forma de estar na música, a gravar de casa, do quarto, essa indumentária “representa um lado preguiçoso e lamacento de fazer música”, que desta feita se estenderam também a dois videoclipes, filmados pelo próprio PZ em confinamento.

“A ‘Em Paz Na Minha Guerra’ [um dos singles] reflete a minha luta interior, de me deixarem fazer a minha cena. Sempre tive um bocado este modo de estar confinado no meu quarto-estúdio a fazer música. Estar forçosamente confinado deu-me que pensar noutras formas de fazer música”, acrescenta.

Essa nova perspetiva surge num “período em que todos tiveram de se voltar para dentro”, e esta autodestruição, a “Selfie-Destruction”, é “uma maneira de destruir as memórias e dos cacos tentar fazer uma nova abordagem à vida”.

Apesar das bases eletrónicas, as várias faixas “são díspares entre si”, num disco “bastante eclético” que também inclui faixas inseridas no musical “Could Be Worse”, uma criação da Cão Solteiro com André Godinho e dramaturgia de José Maria Vieira Mendes.

Músicas de PZ cruzaram-se, em palco, com outras de Rodrigo Vaiapraia, e o próprio palco contaminou o disco, como em “Fruta e Canivetes”, a 11.ª de 12 músicas.

“Tem o meu cunho pessoal, na altura o refrão até foi sugerido por uma atriz do elenco. ‘Dantes era só croquetes, agora é fruta e canivetes’, brincando com a minha posição [porque escreveu ‘Croquetes’, faixa de 2012]”, conta.

Essa reflexão, porque diz já ter “outra idade”, vê-se não só por um suspiro “por tempos mais simples” como pela idade adulta e o que acarreta, numa fase em que tudo “é mais surreal”.

“Há uma música em que digo que acho tudo uma anormalidade, e é isso. Cada álbum é um álbum, encapsulado numa redoma temporal específica para cada fase que vou vivendo na minha vida”, remata.

A falta do palco, devido à covid-19, “não foi muito fácil gerir”, e mesmo com alguns concertos em ‘streaming’, o lançamento do disco, editado pela Meifumado, o músico espera que as pessoas estejam “desejosas de sair e beber novas experiências culturais e musicais”.

Afirmando estar “entusiasmado” com o novo álbum – este é “diferente, pelos tempos que se vivem” -, espera poder contribuir “para a cultura, que vive momentos muito difíceis”.

“Não são só os artistas que não dão concertos, são todas a esquipas responsáveis pela produção desses eventos que estão sem trabalho”, alerta.

 

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