Rota Clandestina contesta resultados dos concursos da DGArtes

A plataforma artística Rota Clandestina, que é promovida pela Câmara Municipal de Setúbal, entregou um pedido de recurso à DGArtes do resultado provisório já conhecido que a afeta, e o vereador da Cultura da Câmara de Setúbal, Pedro Pina, vai pedir uma reunião com o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, acrescentou à Lusa Pedro Vieira, desta plataforma.

Na base do recurso está o facto de o júri do concurso na área da programação ter considerado a Rota Clandestina “elegível para apoio, com uma pontuação de 76,61%”, mas não ter sido proposta para apoios por a concretização do projeto se “situar bastante na escala local [Setúbal]”, o que “poderá ser, eventualmente, demasiado circunscrito territorialmente”, sublinhou à Lusa Pedro Vieira, da Rota Clandestina.

Por seu turno, o diretor artístico da plataforma, Renzo Barsotti, afirma-se “surpreso” com o argumento do júri da DGArtes e considera-o “duplamente falso”.

Por um lado, a plataforma “apresenta uma articulação rigorosa de todos os seus projetos em parceria com entidades nacionais e internacionais, não se circunscrevendo à cidade”, por outro, torna a região de Setúbal “num lugar de encontro entre múltiplas entidades num saudável diálogo intercomunitário”, justifica.

A Rota é um lugar onde “é possível a entidade mais local colaborar com referências maiores – nacionais e internacionais – numa lógica de criação de relações duradouras com a região, invertendo a necessidade que as populações têm de se deslocar para fruir de uma atividade artística e cultural de excelência”, acrescenta Renzo Barsotti.

Também o vereador da Cultura do município de Setúbal, Pedro Pina, se mostra “espantado e indignado” com os motivos apresentados pelo júri dos concursos, para inviabilizar apoio financeiro à plataforma.

“O argumento diz-nos que as propostas apresentadas no projeto são adequadas, têm qualidade e relevância, mas são em Setúbal, uma argumentação que não nos pode deixar indiferentes”, considera o vereador.

Setúbal é uma cidade “que tem batalhado para melhorar a sua circunstância cultural, e tem, nos últimos anos, criado espaços que permitam não só a criação artística contemporânea como dar a possibilidade aos seus munícipes de usufruírem dessa criação”, acrescenta.

A Rota Clandestina é um projeto de residências e produções artísticas que refletem preocupações e temáticas urgentes europeias e que conta desde o início com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, acrescenta Pedro Pina, reafirmando a preocupação de inserir a cidade no mapa da circulação internacional e nacional de obras artísticas no campo das artes performativas, no processo de dar sentido de comunidade ao território.

“Selvagem” de Marco Martins, que venceu o Globo de Ouro 2022 para melhor espetáculo do ano, “Amore”, de Pippo Delbono, espetáculo sobre Portugal que andará em digressão mundial por dezenas de capitais europeias e da América Latina até 2024, “Corpo Clandestino”, de Victor Hugo Pontes, projectos de Mónica Calle, da companhia brasileira Hiato e o documentário-ficção “Fato Macaco”, de Rui Paixão e Dona Edite, constam dos projetos de residências artísticas da Rota Clandestina.

Para 2023-2024, a plataforma conta trabalhar com Sara Barros Leitão, Marco Martins, Rimini Protokoll, Agrupacion Señor Serrano, Vânia Rovisco, Lula Pena, Patrícia Portela, Rita Cabaço (Teatro da Cidade) e Circolando, entre outros artistas que iniciarão os seus projetos em estreita colaboração com entidades locais, segundo a plataforma.

Para a Rota Clandestina, a decisão do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, aumentar a dotação orçamental apenas dos apoios quadrienais representa “uma mudança de regras num concurso quando este já estava fechado”, o que constitui “uma violação evidente dos princípios da prossecução do interesse público, da legalidade, da igualdade e da proporcionalidade”.

A inequidade da reparticção do reforço financeiro, anunciado em setembro, entre as modalidades bienais e quadrienais (que concentrou esse reforço) tem sido apontada por estruturas artísticas e associações de profissionais do setor, perante os resultados provisórios já conhecidos dos concursos plurianais 2023-2026 da DGArtes: cerca de metade das estruturas elegíveis para apoio perdem-no por falta de recursos financeiros, na modalidade bienal; a quase totalidade das candidaturas elegíveis, na quadrienal, obtêm apoio.

A Appleton — Associação Cultural, em Lisboa, os Jardins Efémeros, de Viseu, e os projetos do centro de música barroca de Queluz, da associação Divino Sospiro, da Música Portuguesa a Gostar dela Própria, “Urgências, Territórios e Liberdade”, do Varazim Teatro, e as “Travessias Ibéricas”, do Teatro Ibérico, são outros casos com falta de apoio, na modalidade bienal, segundo resultados provisórios dos concursos já divulgados.

A DGArtes divulgou este mês os resultados provisórios de cinco dos seis concursos de apoio sustentado às artes, nas modalidades bienal (2023-2024) e quadrienal (2023-2026), nas áreas das artes, música e ópera, dança, cruzamento disciplinar, programação e artes de rua. Falta ainda anunciar os resultados do concurso de teatro.

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