‘Só eu escapei’ em cena no Teatro Aberto até 28 de fevereiro

Um texto “profético” num espetáculo “de alto risco” foi como João Lourenço definiu a peça à Lusa, por altura da estreia, em novembro de 2020.

A estreia de ‘Só eu escapei’ esteve prevista para maio de 2020, mas acabou por ser adiada devido à pandemia de covid-19.

O facto de ser representada por quatro atrizes com idades superiores a 70 anos fez desta peça “um espetáculo de risco” face à pandemia de covid-19 que atinge Portugal.

Com versão de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos – que também assina a dramaturgia – trata-se de um espetáculo que “reflete a inteligência, sagacidade e capacidade que a maior autora britânica da atualidade teve de antever a angústia dos dias estranhos que estamos a viver”, acrescentou João Lourenço, que também assina o cenário.

Catarina Avelar, Lídia Franco — pela primeira vez dirigida por João Lourenço -, Márcia Breia e Maria Emília Correia são “as quatro grandes atrizes portuguesas cujas capacidades e currículos profissionais” representam “grande parte da história do teatro português do século XX”, considerou João Lourenço.

Por isso, o diretor artístico do Teatro Aberto insistiu em dar ênfase “à resiliência, vontade, ao empenho e ao profissionalismo demonstrados pelas quatro atrizes“, desde a preparação da peça, porque, apesar de ter chegado a ser ensaiada a partir da casa de cada um, nos últimos tempos, com a aproximação da estreia, impôs-se a necessidade de haver deslocações diárias ao teatro.

“Uma aposta e um risco diário quase às cegas, pois devido à pandemia do novo coronavírus nunca sabíamos se conseguiríamos estreá-la”, frisou. “Mas elas, enquanto grandes atrizes que são, embora com carreiras em registos diferentes, mostraram sempre uma força e capacidade de resistência e insistência inigualáveis“, notou o encenador.

Escrita “antes de Donald Trump e de o ‘pateta’ brasileiro se tornarem presidentes”, “Só eu escapei” questiona o futuro da vida na terra, face “aos delírios de uma evolução que deixou de ter em conta a dimensão humana e a preservação das espécies”, referiu.

A ação gira em torno de quatro mulheres “irónicas, engraçadas, inteligentes e, principalmente, duras”, que se encontram no jardim de uma casa, a conversar.

As quatro atrizes “vão tomando chá ao mesmo tempo que vão denunciando a violência física e psicológica dos tempos que correm”, num mundo “em sobressalto diário e em que, pela primeira vez, também o teatro se encontra ameaçado, na plateia e no palco”.

Com figurinos de Ana Paula Rocha e vídeo de João Lourenço/Temper Creative Agency, o espetáculo tem assim sessões de quarta-feira a sábado, às 19:00, e, ao domingo, às 16:00.

Esta é a terceira peça da dramaturga britânica que o Teatro Aberto põe em cena. ‘Top Girl’, uma encenação de Fernanda Lapa estreada em 1993, foi a primeira, seguindo-se, vinte e um ano depois, “Amor e informação”, encenada por João Lourenço.

 

 

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