Teatro do Bairro Alto reabre ao público com ‘Anda, Diana’

 

“Deixei de procurar o meu corpo no corpo do outro e encontrei-me com o outro. No trato secreto que faz do meu corpo um contador de histórias, encontrei o sentido do seu estado íntimo e real”, lê-se na obra na base de “Anda Diana”.

Em simultâneo, o Programa Digital continua com conversas, novas propostas do ciclo Histórias do Experimental, desta vez sobre arquivo e instituições, e a estreia de “TM”, a nova criação da companhia belga Ontroerend Goed, para redes virtuais.

Continuam ainda as sessões acessíveis. Desta vez, no dia 24 abril às 11:00, haverá audiodescrição, interpretação em Língua Gestual Portuguesa e legendagem em português e inglês, na peça de Diana Niepce.

Na próxima quinta-feira, antes da abertura e da estreia em palco, na sala digital do Teatro do Bairro Alto, no Zoom, será apresentado o livro de Diana Niepce “Anda, Diana”, editado pela Sistema Solar, numa conversa com a jornalista Cláudia Galhós.

A obra, assim como o espetáculo, é uma narrativa interior desenvolvida a partir de factos cruelmente reais, contaminados pela perspetiva artística da autora.

“Quero falar do que escondemos. Não existi quase toda a minha vida por culpa da crença de ter de existir num corpo que não era o meu. Vou parar de pedir desculpa ao policiamento da norma, que destrói tudo o que difere dela própria. Não sou incompleta. Quero parar esta violação da minha intimidade e ninguém me dirá como ser”, escreve a autora.

Em “Anda, Diana”, a bailarina e acrobata retrata a reconstrução do seu eu, depois de uma queda (que resultou numa lesão medular), num diálogo entre corpo e mente, entre a lógica e o caos, até construir o corpo que dança.

Nesta peça, a criadora propõe-se a questionar o que é a norma, desafiando preconceitos e ideias que a sociedade tem relativamente à estética dos corpos. Aqui, a deficiência, apesar de presente, não se posiciona no lugar de vítima do sistema. Antes, este corpo fora da norma posiciona-se como revolucionário.

Diana Niepce é uma artista portuguesa que investiga a linguagem e o hibridismo enquanto ação política. Procura reformular a identidade do corpo performativo através da sua mutação, intimidade e experimentalismo fora da norma.

O espetáculo vai estar em cena até 24 de abril, com espetáculo de terça-feira a sexta, às 19:00, e, ao sábado, às 11:00, com Língua Gestual Portuguesa.

A 7 de abril haverá “Histórias do Experimental”, num programa digital com formato de seminário, com duas conferências e uma mesa-redonda, focando questões como o arquivo, a interligação entre o estético e o político e a contracultura dos longos anos de 1960.

A primeira sessão conta com a participação da investigadora Ana Longoni que também é diretora do Departamento de Atividades Públicas e do Centro de Estudos do Museo Reina Sofia, e impulsionadora da Rede Conceptualismos del Sur, desde a sua fundação, e que falará sobre ela.

Fundada em 2007, esta rede reúne pessoas da América Latina e da Europa para desenvolver pesquisa, não enquanto exercício académico, mas enquanto forma de abordagem afetiva e política dos processos investigados, em compromisso com a capacidade de desafiar e influenciar, em alguma medida, as condições do presente.

Em aliança com iniciativas públicas e do comum, impulsiona uma política de arquivos em uso, procurando preservar os fundos documentais nos seus contextos.

“Arquivos do Comum: Incommon – performing arts in Italy 1959 to 1979” é o título da segunda parte do programa que conta com a participação da professora associada da Universidade de Veneza e investigadora principal do projeto Incommon Annalisa Sachi.

A docente colaborou durante anos com a companhia Socìetas Raffaello Sanzio, de Romeo Castellucci, entre outras estruturas.

No dia seguinte será a vez de os investigadores Marco Baravalle e Sara Buraya Bonet participarem noutro programa de “Histórias do Experimental, sobre a festivalização das instituições de artes performativas.

De 21 a 25 de abril, a companhia belga de teatro e performance Ontroerend Goed apresentará “TM”, enquanto a 29 de abril a compositora e artista sueca Ellen Arkbro, que tem formação em jazz, apresentar-se-á em concerto no qual interpretará temas de “Chords”, trabalho discográfico que editou em 2019.

 

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