Teolinda Gersão celebra 40 anos de carreira literária com novo livro

‘O Regresso de Júlia Mann a Paraty‘ reúne três novelas que se entrecruzam, e a que a escritora admite chamar romance, como afirmou, em declarações à agência Lusa.

“Prefiro considerá-lo um conjunto de três novelas entrelaçadas, sobre personagens históricas, que na vida real coexistiram e tiveram algum tipo de relacionamento”, afirmou Teolinda Gersão, numa entrevista por escrito, à Lusa, na qual sublinha a sua determinação em não seguir o Acordo Ortográfico vigente.

“Poderia chamar romance a este livro”, assegurou. “Obviamente há aspectos ficcionados, imediatamente reconhecíveis, mas todos os factos que refiro no livro são rigorosamente verdadeiros e estão documentados”, sublinhou.

Segundo Teolinda Gersão, “os títulos fornecem as coordenadas ao leitor”, são eles: ‘Freud pensando em Thomas Mann em Dezembro de 1938’ ‘Thomas Mann em Freud em Dezembro de 1930’ e ‘O regresso de Júlia Mann a Paraty‘, que dá titulo ao livro.

Quanto a “A Mulher que Prendeu a Chuva e outras histórias”, foi editado em 2007, venceu os prémios Máxima Literatura e Fundação Inês de Castro e vai na 7.ª edição.

A obra 14 contos, que, partindo do quotidiano, se desenvolvem “insensivelmente, a outros mundos – oníricos, fantásticos, terríveis ou absurdos -, que nem por isso deixam de nos pertencer e de ser o lugar onde habitamos”, lê-se na apresentação da obra.

Sobre os 40 anos de vida literária, Teolinda Gersão faz um “balanço positivo e gratificante”.

“Sou agora muito mais lida do que há décadas atrás, os leitores estão familiarizados com a minha escrita. E os primeiros livros que publiquei tornaram-se ainda mais actuais do que na altura em que surgiram”, argumentou.

“Suponho que sou intuitiva, e me arrisco muitas vezes a ter razão antes do tempo”, acrescentou.

Sobre a atual situação pandémica, Teolinda Gersão afirmou que “é, certamente, inspiradora de novas histórias”.

“Todas as situações e épocas precisam de ser contadas, é o que distingue os humanos das outras espécies do planeta. Mas as narrativas necessitam em absoluto de ser verdadeiras. Para isso, a ficção pode ser, paradoxalmente, o melhor dos caminhos. Daí a responsabilidade enorme, e cada vez maior, dos escritores”.

“O mundo está cheio de narrativas falsas, e elas são uma das grandes perversões do mundo doente em que nos encontramos”, acrescentou.

O novo título de Teolinda Gersão, ‘O Regresso de Júlia Mann a Paraty‘, é apresentado em ‘live streaming’ no dia 09 de fevereiro, às 21:30, nas páginas da Porto Editora nas redes sociais Facebook e Youtube, com a participação da autora e da psicanalista Deolinda Santos Costa, numa sessão moderada pelo editor Vasco David.

Teolinda Gersão completa 81 anos no próximo dia 30. Nasceu em Coimbra, estudou Germanística, Romanística e Anglística nas universidades de Coimbra, Tübingen e Berlim, na Alemanha.

Foi Leitora de Português na Universidade Técnica de Berlim, assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa, tendo lecionado Literatura Alemã e Literatura Comparada.

Teolinda Gersão recebeu mais de uma dezena dos principais prémios literários, alguns dos quais bisou, como o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, da Associação Portuguesa de Escritores, que recebeu em 2002, com ‘Histórias de Ver e Andar’ e, em 2017, com ‘Prantos, Amores e Outros Desvarios’.

Também por duas vezes foi distinguida com o Prémio Fernando Namora, atribuído pela Estoril-Sol, em 2001 pela obra “Os Teclados” e, em 2015, com “Passagens”.

O Prémio P.E.N. Clube de Narrativa foi-lhe igualmente atribuído pelas obras “O silêncio”, a sua estreia literária em 1981, e por ‘O Cavalo de Sol’, em 1990, ambos atribuídos ex-aequo, respetivamente com Eduarda Dionísio, “Histórias, Memórias, Imagens e Mitos duma Geração Curiosa” e Paulo Castilho, ‘Fora de Horas’.

‘O Regresso de Júlia Mann a Paraty‘ sucede ao livro de contos ‘Atrás da Porta’, publicado em 2019.

 

 

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