União Negra das Artes surge da luta antirracista e faz mapeamento

 

“É com alegria que lançamos publicamente a UNA – União NEGRA das Artes […] na sequência das diversas manifestações e debates recentes em torno da reivindicação de direitos humanos, da descolonização do conhecimento e da valorização do legado artístico-cultural protagonizado por pessoas negras”, lê-se na página de abertura do ‘site’ uniaonegradasartes.pt.

“Estamos felizes por constituir esta associação que visa defender os interesses específicos da negritude no setor cultural, tendo em conta as continuidades históricas do racismo colonial que, até hoje, mantém assimetrias profundas que dificultam a criação, a fruição, o acesso, a produção, a programação e, consequentemente, a representatividade negra no setor artístico”, prossegue o texto de apresentação da União Negra das Artes (UNA).

As atrizes Cláudia Semedo, Cleo Tavares, Isabél Zuaa e Nádia Yracema, os produtores e gestores culturais Ana Tica, Isabel Moura Mendes e José Neves, as artistas Carla Costa Gomes, Vanessa Fernandes e Vânia Doutel, a curadora Paola Rodrigues Alves, a escritora Raquel Lima e os cineastas David Amado e Welket Bungué são alguns dos 35 profissionais que constituem desde já a equipa da UNA.

“Somos um espaço aberto para quem se reveja nos nossos princípios – celebração, denúncia, transparência, interseccionalidade, horizontalidade, representatividade e ancestralidade – e pretenda combater as desigualdades raciais historicamente construídas, assim como celebrar o nosso longo e rico legado artístico”, lê-se na apresentação.

O ‘site’ tem em curso um “automapeamento”, para vir a perceber o papel e presença da negritude na cultura em Portugal, em que áreas, qual o seu “legado na história da arte contemporânea portuguesa”, assim como o acesso real a verbas públicas.

Com os resultados, visam os profissionais “tornar acessíveis dados sobre artistas e pessoas negras que trabalham na cultura, de forma a gerar mais visibilidade, representatividade e oportunidades de emprego”, “criar pontes e contactos diretos entre artistas, trabalhadores, estruturas e programadores”.

Os dados estatísticos permitirão também aferir “a necessidade de políticas de reparação e medidas de ação afirmativa, no setor cultural português”, e “produzir dados e ferramentas que evidenciem as desigualdades raciais”, ao nível nacional.

“Os nossos principais objetivos são a promoção, elevação e fortalecimento da representatividade negra no campo artístico, assim como o reconhecimento e a valorização do património imaterial da população negra em Portugal”, com o “foco principal” de “contribuir para a elaboração de políticas de reparação e medidas de ação afirmativa no setor cultural, em articulação com artistas, movimentos sociais, entidades públicas e privadas”.

“Somos uma equipa diversificada composta por 35 pessoas que desenvolvem o seu trabalho no setor cultural em vertentes artísticas abrangentes, enquanto artistas, mas também nas áreas da gestão cultural, agenciamento, curadoria, programação, investigação e arte-educação”, escrevem os profissionais que constituíram a associação, no passado mês de abril e tornaram público o seu ‘site’ no início desta semana.

A atriz Ana Sofia Martins, a ‘artivista’ Anabela Rodrigues, os artistas Filipa Bousset e Valdemar Joana, o DJ DI Cândido, a escritora Gisela Casimiro, o pedagogo e ‘performer’ Dori Nigro, o artista transdisciplinar Lubanzadyo Mpemba, a fotógrafa Marta Machado, a curadora Melissa Rodrigues, a editora de imagem Mónica Monteiro, a antropóloga Rita Cássia, o artista visual Rod e a coreógrafa Vânia Gala são outros elementos da UNA.

“Se, por um lado, as histórias, culturas e contribuições artísticas negras são sistematicamente apropriadas e se tornam invisíveis nas narrativas ‘mainstream’, por outro lado, é incontornável a visibilidade do património imaterial da população negra em Portugal e no mundo”, escreve a associação que sublinha ainda “a hipervisibilidade de estereótipos sobre a cultura negra preservados nos discursos dominantes”.

Assim, no seu logótipo, a associação procura “incorporar tensões, ambiguidades, movimentos e paradoxos da negritude no setor artístico”, jogando com a dimensão múltipla do ‘N’, e uma certa circularidade e simetria das restantes letras. “Mesmo após uma volta de 360 graus, o logótipo mantém a sua unidade e integridade, eixos fundamentais na luta antirracista”.

Do impacto do trabalho já empreendido, e do diálogo estabelecido com a Direção-Geral das Artes, a associação dá como exemplo a inclusão da diversidade étnico-racial, designadamente de afrodescendentes, entre os fatores a considerar na avaliação de candidaturas ao Programa de Apoio a Projetos, a par da igualdade de género, da inclusão social e do diálogo intercultural, segundo o regulamento publicado no passado dia 13 de julho.

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