Vila andaluz quer "conversa ao fresco" como Património da Humanidade

 

Para iniciar o processo da candidatura, o município de Algar, na província de Cádiz, com uma população de cerca de 1.400 habitantes, fez um apelo, no final de julho, aos habitantes para que saíssem à rua e se sentassem “ao fresco a conversar entre eles, como sempre fizeram”, segundo uma publicação na rede de Facebook da autarquia local.

“Em Algar não queremos que se percam os nossos costumes, a nossa tradição, a nossa forma de nos relacionarmos com os nossos vizinhos, por isso vamos dar início a um procedimento para que a ´Conversa ao Fresco´ seja declarada Património da Humanidade”, anunciou, na página do município.

Os primeiros passos desta candidatura da tradição à classificação de Património da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), durante a adesão dos residentes do povoado, foram captados em vídeo.

“A minha mãe tem 82 anos e todos os dias se senta na sua rua. Há dias em que acabo o trabalho, passo por ali e sento-me com ela para falar. É o momento mais bonito do dia”, comentou ao jornal El País o presidente da câmara de Algar, José Carlos Sánchez, promotor da iniciativa que animou uma população envelhecida.

O autarca disse ao periódico espanhol que quis avançar com a ideia por pena de ver desaparecer um costume ao qual se tinha habituado desde a infância, mas que está a desaparecer “perante o avanço da comunicação entre as pessoas através das redes sociais”.

Um outro residente, José Ibáñez, de 81 anos, recordou que, há uns 30 anos, ainda “se juntavam famílias inteiras nas ruas a conversar, a jogar ao bingo ou a comer, eram tempos bons”.

A tradição é explicada pela antropóloga Gema Carrera ao El País com uma dupla motivação: “A necessidade de se oxigenar e refrescar quando fazia mais fresco fora do que dentro das casas, e também pela socialização”.

Já o catedrático em Antropologia da Universidade de Sevilha Isidoro Moreno acrescenta, em declarações ao mesmo jornal: “Era uma tertúlia espontânea com os vizinhos, após o jantar, em tempos anteriores à televisão e ao ar condicionado”.

No entanto, não é um costume exclusivo de Algar, mas de uma forma de vida mais pausada e rural, da maioria das vilas e cidades, já em retrocesso.

“É um costume mediterrânico porque também acontece no sul da Itália e na Grécia”, acrescenta a também antropóloga Eva Cote em declarações ao El País.

“Atribuir este costume apenas a um povoado parece-me um disparate”, critica Isidoro Moreno, enquanto o presidente da câmara recusa a sua exclusividade: “Não temos nada de singular nisto, é um património de todos. Não me importava de partilhar a iniciativa, mas pelo menos sairá daqui”.

O município de Algar já deu o primeiro passo para enviar um documento formal à Delegação Provincial de Cádiz da Secretaria de Cultura da Junta de Andaluzia.

O processo de candidatura a classificação é moroso e longo, podendo demorar anos, e necessita de informações de caráter antropológico e, sobretudo, de muito apoio dos cidadãos e institucional, até poder ser proposto à UNESCO.

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