“Queremos promover a diversidade que caracteriza as paisagens portuguesas. Estamos a trazer para primeiro plano a velha metáfora de antigamente em que ‘o país era Lisboa e o resto era paisagem’. Agora também tem o Porto no meio da definição do país e o resto continua a ser paisagem”, afirmou à agência Lusa um dos promotores desta associação, Tiago Santos, do festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.
A ideia desta nova associação partiu dos festivais Caminhos do Cinema Português, Curta Açores (São Miguel), Encontros de Cinema de Viana e Festival Internacional de Documentário de Melgaço, Festival Internacional de Avanca e Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão.
Os seis festivais juntaram-se em reação aos resultados do concursos de apoio aos festivais de 2020, divulgados em fevereiro pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), e que beneficiam, em termos de financiamento, festivais dos grandes centros urbanos, em particular Lisboa e Porto, em detrimento de outros em territórios mais periféricos.
“Procurámos estabelecer um ponto de vista conjunto que desse a conhecer à tutela as reais dificuldades e de que os projetos não podem ser normalizados num país com uma dificuldade tão grande em realizar festivais de cinema” e promover o cinema português, afirmou Tiago Santos.
Em reuniões já realizadas junto do ICA e da secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, os seis festivais apresentaram já algumas soluções para “corrigir assimetrias territoriais” e que esperam que possam ser incluídas no próximo plano estratégico para o setor.
Entre as propostas estão a criação de “mecanismos de majoração em função da realidade dos territórios, taxas diferentes de comparticipação dos projetos” e que os regulamentos dos concursos do ICA “deixem de funcionar em função da igualdade para promover a equidade de condições para a promoção de eventos culturais”.
“Era muito importante que houvesse um apoio complementar que permitisse que os eventos tivessem alguma dimensão e não ficassem por um financiamento mínimo. Fazer um festival com cinco mil euros acaba por ser muito redutor. […] E termos um ICA que vai investir no mesmo tipo de evento em vários territórios acaba por não ser um bom investimento público”, disse.
Segundo Tiago Santos, a associação A Paisagem vai funcionar como “uma espécie de federação” de associações cinematográficas e festivais de cinema, para “trabalhar a coesão territorial”, pelo que todas as entidades serão bem-vindas.
“Nos estatutos optámos pela política de inclusão de todos os festivais e eventos. Não vai excluir eventos das áreas metropolitanas, porque não podemos trabalhar na correção de assimetrias com base na exclusão de quem quer fazer parte. Temos que ouvir todas as contribuições possíveis”, disse Tiago Santos.
Além disso, será também uma forma de a associação ter assento nas reuniões de consulta da Secção Especializada de Cinema e Audiovisual, em representação oficial dos festivais, explicou.
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