Autor do ‘Pinguins de Magalhães’ espera que obra faça pessoas refletir

Esta foi a posição defendida, em declarações à Lusa, por Artur Bordalo, de nome artístico Bordalo II, cuja obra “Pinguins de Magalhães” é composta por três pinguins feitos de material reciclado, numa homenagem a Fernão Magalhães.

“Fazer uma imagem quase triste de algumas espécies que estão em vias de extinção com aquilo que as destrói acho que acaba por ser irónico e acho que mais que uma peça engraçada para tirarmos uma foto com ela, acho que deve ser uma peça para fazer as pessoas pensar”, afirmou Bordalo II.

A ideia desta peça, que ficará nos Emirados Árabes Unidos, surgiu de um convite da Estrutura de Missão de Magalhães, “um navegador que fez algumas descobertas pelo mundo e que foi pelos vistos uma das primeiras personagens a trazer os pinguins – que foram batizados como pinguins de Magalhães – à história destes bichos”, referiu o artista.

“Eles sugeriram fazer uns animais” e “para mim faz todo o sentido trazer do ‘habitat’ deles, que é frio, para um sítio onde o calor é imenso, portanto, acho que isso tudo tem a ver com as problemáticas das alterações climáticas que estão muito em debate nos dias de hoje, apesar de eu achar que pouco se faz em relação a isso”, apontou Bordalo II.

Sobre o tempo de criação desta obra, o artista apontou entre cerca de duas a três semanas, sendo que a parte criativa deverá ter durado “uma semana e meia, duas”.

Os “Pinguins de Magalhães” foram feitos a partir de material reciclável.

“São tudo plásticos de alta densidade em final de vida, que podem eventualmente ser reciclados se forem para o sítio certo, coisa que muitas vezes não acontece”, referiu o artista, de 33 anos.

“Temos material vindo de muitos sítios, algum derivado de limpezas de praias, não é uma parte muito grande, mas acaba por ser simbólico. Há coisas que são encontradas em aterro, outras são trazidas por parceiros nossos, os quais fazem reciclagem de material do género, pelo que a origem é muito variada”, relatou.

Questionado sobre se esta obra é também uma forma de chamar a atenção para as alterações climáticas, Bordalo II defendeu que é “importante poder passar” a sua mensagem, as suas ideias “num sítio que tenha bastante visibilidade”.

Isto “porque quanto a mim a única maneira de mudar uma sociedade ou mudar o mundo é fazer parte dele, dizendo aquilo que temos a dizer, em grupo” pois “se tiver à parte apenas com as minhas ideias ninguém as vai saber”, salientou.

Por isso, esta peça “é importante para mim”, rematou.

E o que falta para combater as alterações climáticas, já que muito se fala disso? “Acho que falta falar menos e fazer mais”, respondeu de forma perentória.

“Acho muito importante o comum mortal ter opção de escolha e as pessoas terem a noção quando vão comprar uma coisa, quando vão gastar, quando estão a tomar banho, quando no dia a dia há imensas coisas que temos de ser nós a mudar, mas não só”, prosseguiu.

“Acho um grande erro as grandes corporações passarem um bocado essa ideia que depende apenas de nós, comum mortal, e não delas”, enquanto “elas podem continuar a fabricar carros desenfreadamente, a continuarem a embalar os produtos e a fazer a produção de ‘fast fashion’, por exemplo, como se fosse uma coisa perfeitamente normal, e incentivar ao consumo”, mas as pessoas é que têm de tomar “todas as decisões para mudar o mundo”, apontou Bordalo II.

“Não é verdade, depende de nós, mas depende também das grandes corporações”, rematou.

O próximo projeto é uma “escultura com duas peças” para Miami, conclui, quando questionado o que se seguiria à obra agora disponível na Expo 2020 Dubai.

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