A apresentação dos traços genéricos da programação do evento internacional dedicado à arquitetura contemporânea foi feita numa conferência de imprensa transmitida ao vivo, com o presidente da Bienal de Veneza, Roberto Cicutto, e o curador-geral, Hashim Sarkis.
Apesar da situação difícil que a Itália enfrenta atualmente, em contexto pandémico, a organização decidiu avançar com a realização desta edição da bienal – a 17.ª Exposição Internacional de Arquitetura -, forçada ao adiamento de 2020 para este ano, e que deverá decorrer até ao próximo dia 21 de novembro.
“Passou um ano, e tivemos de enfrentar várias emergências sérias, mas nada se perdeu”, afirmou Roberto Cicutto, acrescentando que o evento terá, este ano, três representações em estreia: de Granada, Iraque, Azerbaijão e Uzbequistão, num total de 63 participações de pavilhões nacionais, e ainda a exposição coletiva com 112 participantes de 46 países, dispersos pela zona dos Giardini, pelo Arsenale e Forte Marghera.
Portugal vai ser representado oficialmente na 17.ª Bienal de Arquitetura de Veneza através de um projeto criado pelo atelier depA, coletivo do Porto, cujo programa será composto por um ciclo de debates a realizar entre Veneza, Lisboa e Porto, já iniciado, e uma exposição subordinada ao tema “In Conflict”, a apresentar no Palácio Giustinian Lolin, em Veneza.
Roberto Cicutto disse que, mais uma vez, este ano, a organização teve de lidar com a incerteza do contexto pandémico, mas incentivou todos os participantes a aceitarem os tempos desafiantes “com coragem, determinação e sentido de responsabilidade”.
Por seu turno, Hashim Sarkis, curador-geral desta edição da bienal, lançou, como guia para os participantes desta edição, o tema “How we will live together” (“Como vamos viver juntos”, em tradução livre).
Na conferência de imprensa, Sarkis disse que um dos objetivos do evento é “aumentar o desejo” pela arquitetura: “Nunca antes tivemos tanta necessidade de arquitetura, e por isso mesmo vamos dedicar-lhe um programa expandido para aprofundar o seu papel na sociedade”, acrescentou.
“A atual pandemia global tornou a questão de como viveremos juntos ainda mais pertinente, o que é irónico, dada a imposição do isolamento e distância social”, apontou, acrescentando que se tornaram mais relevantes os problemas globais de desigualdades sociais, raciais e económicas.
O curador considerou ainda, na conferência de imprensa, que “já não é possível esperar pelas propostas dos políticos em direção a um futuro melhor, porque continuam a dividir e a isolar, mas é possível criar alternativas para vivermos juntos através da arquitetura”.
Indicou que o programa se irá expandir em sete direções, nomeadamente, e como novidade, nesta edição, a filmagem e divulgação do processo de instalação das exposições dos pavilhões nacionais, para que o público possa ter acesso à mostra, mesmo antes da bienal começar.
Está também previsto o lançamento de novas publicações, com ensaios de especialistas e textos produzidos pelas universidades, assim como a divulgação de um filme com entrevistas a diversas personalidades da área da cultura sobre a arquitetura.
Haverá ainda uma colaboração com a Bienal de Dança, cujo curador, o coreógrafo Wayne McGregor, irá apresentar em breve um programa detalhado com um conjunto de ideias, espaços e possibilidades em ligação com a arquitetura.
A preparação de um simpósio e vários encontros sobre arquitetura, contextualizados por temas que vão do desporto à sustentabilidade, do pós-antropoceno à realidade dos refugiados, à reconstrução, assim como à educação, estão igualmente previstos, e com difusão ‘online’. Uma exposição coletiva e eventos organizados pelos pavilhões nacionais, ‘espetáculos-satélite’ e um evento especial sobre ‘story telling’ são outras áreas de expansão do programa.
O Brasil irá participar nesta bienal com o projeto intitulado “Utopias e vida comum”, com comissariado de José Olympio da Veiga Pereira (Fundação Bienal de São Paulo) e curadoria de Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa Cecilia, Carlos Alberto Maciel, Henrique Penha e Paula Zasnicoff.
Aiano Bemfica, Cris Araújo, Edinho Vieira, Alexandre Delijaicov (Grupo de Pesquisa Metrópole Fluvial — Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Amir Admoni, Gustavo Minas, Joana França, Leonardo Finotti e Luiza Baldan completam a equipa do projeto expositivo do Brasil que ficará instalado nos Giardini, em Veneza.
Pela quinta vez consecutiva, a Bienal de Veneza e o Museu Victoria & Albert, de Londres, apresentam um projeto especial em parceria, intitulado “Três mesquitas britânicas”, em colaboração com o arquiteto Shahed Saleem, que visa dar a conhecer edifícios antigos de Londres, adaptados a mesquitas.
O curador do museu britânico Christopher Turner indicou que, neste projeto, serão focados os temas da imigração, multiculturalismo, “numa reflexão contra a islamofobia que está a expandir-se no mundo”, apontou, acrescentando que serão divulgadas entrevistas com membros das comunidades ligadas aos templos.
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