O artista estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas do foro respiratório, indicou ao início da manhã de hoje, à agência Lusa, a diretora regional de cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira.
João Cutileiro, nascido em 1937, em Lisboa, viveu e trabalhou em Évora desde 1985.
Em 2016, era então João Soares ministro da Cultura quando presidiu à cerimónia de assinatura de um compromisso para a doação de parte do património do artista ao Estado, e a constituição da Casa/Ateliê João Cutileiro, numa parceria entre a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen) e a Universidade e Câmara de Évora.
“Tenho uma profunda admiração pela obra de João Cutileiro, que é uma das mais interessantes em matéria de escultura e desenho, na arte portuguesa, e também pela sua intervenção cívica, como homem de esquerda”, disse João Soares, contactado pela agência Lusa.
O antigo tutelar da Cultura recordou a generosidade do artista naquela ação de doação, “rara no país”, e sublinhou “a marca deixada na cultura portuguesa”, em obras de arte pública deixadas em várias cidades, como Lisboa e Lagos, no Algarve, onde também residiu e teve atelier.
João Cutileiro é autor do Monumento ao 25 de Abril, instalado no Parque Eduardo VII, em Lisboa, criado a convite da Câmara Municipal de Lisboa, numa altura em que João Soares era presidente da autarquia.
“Houve quem não gostasse do monumento, mas eu gostei, e outros também gostaram. Para homenagear os Capitães de Abril tinha de ser alguém que fosse uma grande referência da escultura e com uma grande identificação com o 25 de Abril”, sustentou o ex-autarca.
João Soares recordou ainda que já seus os pais – Mário Soares e Maria Barroso – se “davam muito bem com Cutileiro, e havia convivência no atelier em sua casa”.
“Era um homem com uma grande paixão pelo seu trabalho e frugalidade de vida. Muito culto, e com sentido de humor”, descreveu.
João Cutileiro frequentou os ateliês de António Pedro, Jorge Barradas e António Duarte de 1946 a 1950, tendo feito a sua primeira exposição individual (“Tentativas Plásticas”) em 1951, com 14 anos, em Reguengos de Monsaraz, onde apresentou esculturas, pinturas, aguarelas e cerâmicas.
Foi condecorado com a Ordem de Sant’Iago da Espada, Grau de Oficial, em agosto de 1983, e recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora e pela Universidade Nova de Lisboa, este último, concedido em 2017.
Em 2018, quando Cutileiro recebeu a Medalha de Mérito Cultural, numa cerimónia no Museu de Évora, foi formalizado o anterior compromisso de doação do espólio do escultor ao Estado português, e assinado um protocolo que envolveu o Ministério da Cultura, o município e a Universidade de Évora.
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