O lançamento de “we never say never” (“nunca dizemos nunca”, em tradução livre) encerra a temporada inaugural da Vaga, que albergou durante dois meses a exposição que dá o título à publicação, mas que também contou com assembleias, concertos e sessões de cinema.
Jesse James, co-fundador do espaço e da Associação Anda e Fala, explica à agência Lusa que “a publicação não é propriamente sobre a exposição, é sobre o espaço, a temporada e o que originou isto tudo, todas as atividades – e elas todas foram acontecendo em simultâneo, paralelamente”.
O leitor é guiado “como se fosse uma visita”, já que o objeto “mimetiza e inspira-se na arquitetura da Vaga – nas quatro portas à entrada, que, por um lado, são um marco arquitetónico do espaço, mas que também simbolizam o seu lugar de flexibilidade, porque são portas pivotantes, que giram, e que podem ser reconfiguradas a cada evento”, explica o diretor artístico.
Ao mesmo tempo é também um reflexo das três valências deste espaço – a oficina, a galeria e a casa.
Terminada que está a primeira temporada, que se iniciou a 11 de dezembro com a inauguração do espaço, segue-se um ‘intervalo’, que não significa uma paragem.
“Nas temporadas temos uma programação que é estruturada, pensada e organizada em torno de uma ideia. Os intervalos servem para fazer uma pausa, (…) para nos dar uma ideia e espaço para o fazer, mas também abre um contexto de programação muito mais espontâneo, muito mais livre”, afirma Jesse James.
O ‘intervalo’ começa já, na próxima sexta-feira, com uma assembleia promovida pelo grupo de jovens artistas Atelineiros.
As assembleias são uma componente essencial da programação deste projeto que “está disposto a entender as dinâmicas [locais] e a fazer parte delas”, refere Jesse James.
A co-responsável pelo projeto Sofia Carolina Botelho, na direção artística, esclarece que se pretende “que haja uma assembleia por mês, seja ela em contexto de temporada ou em intervalo”.
Desde o planeamento da edição 9.5 do festival Walk & Talk, que aconteceu em 2020 em formato de interlúdio digital, os diretores artísticos têm “vindo a questionar muito sobre estes espaços de encontro, de reunião de troca de ideias e a assembleia – este formato de assembleia – é algo que estávamos particularmente interessados em explorar”.
A ideia é dar “um formato mais amplo” a um lugar que “normalmente associamos a um formato muito mais político, de confronto”.
Assim, todos os meses é convidada “uma pessoa, ou um coletivo, para pensar num formato de uma assembleia na qual serão discutidos temas que essas pessoas que a estão a organizar achem pertinentes”.
Em julho, volta a programação, que se mistura com a do festival Walk & Talk, organizado pela associação Anda e Fala.
Nessa altura, a Vaga assume o papel de “posto de operações”, mas a galeria também “poderá albergar projetos no contexto do festival”, adianta Sofia Carolina Botelho.
Permite também ir “buscar dinâmicas que já não aconteciam desde 2016, nomeadamente ter num espaço os artistas a trabalhar em registo de oficina”, concretiza a diretora artística.
A casa da associação, porém, “não substitui o pavilhão” que todos os anos é pensado de forma diferente para funcionar como casa do festival. “São dinâmicas diferentes”, sublinha a responsável.
Jesse James acrescenta que “há sempre esta ideia de a Vaga se articular com outros lugares e funcionar numa lógica de circuito”.
“Estamos a imaginar a 10.ª edição do Walk & Talk. É uma edição celebratória de um percurso, que nós estamos muito entusiasmados a desenhar, obviamente conscientes das limitações e das restrições que ainda vão existir em julho, mas, ao mesmo tempo, também nos dão espaço para programar de uma forma como não foi possível programar em 2020, quando fizemos a edição 9.5″, prossegue.
Este ano, “vai ser um festival vivido, com muitos circuitos, com muitas exposições, a levar as pessoas de um lado para o outro, e, obviamente, a Vaga será um ponto de partida, um ponto de chegada”.
Depois da experiência de uma edição totalmente digital, que adiou a celebração dos dez anos de existência para 2021, Sofia Carolina Botelho é enfática a negar a possibilidade de repetir a experiência de desmaterializar um projeto pensado para ocupar o espaço público.
“Ai, não…”, suspira, antes de prosseguir: “Fez todo o sentido a 9.5, deu para perceber muita coisa. Aliás, há dinâmicas que vamos adotar para este ano. Mas a verdade é que não, não queremos. Obviamente que há um espaço virtual a ser ocupado, claro, mas não naquela dimensão. Acreditamos que, para já, não faz sentido”.
Com a noção de que será necessário haver “uma série de contenções“, a responsável garante que, “sendo possível (…) haver esta ocupação do espaço público”, assim será.