“Em Casa – Projetos para Habitação Contemporânea” é o tema desta exposição, construída a partir da coleção do museu MAXXI, Museu Nacional das Artes do Século XXI, em Roma, constituindo-se como um percurso pelas diversas possibilidades de casa, que revela experiências híbridas e complexas que são testemunho de novos modos de relação entre o indivíduo e a comunidade.
“A exposição é interminável, parte do conjunto de Roma, dos diálogos de projetos [de arquitetos italianos, do arquivo de arquitetura do MAXXI]. A uma seleção de exemplos juntaram outros do mundo fora, contemporâneos e históricos. A cada um deles, juntámos exemplos portugueses. É uma desmultiplicação que permite visitas cruzadas, como um puzzle”, explicou André Tavares, um dos curadores, durante uma visita guiada à imprensa.
Esta mostra procura responder a questões como “em que casas habitamos?” ou “Como é que os arquitetos de hoje desenham as nossas moradas e como é que as noções de habitação se transformaram no tempo da última geração?”.
As respostas são dadas através de núcleos, compostos por projetos dialogantes de diferentes arquitetos, apresentados em fotografias, plantas, maquetes, desenhos e, em alguns casos, filmes.
Um dos exemplos, que André Tavares designou como “Steam House”, apresentado em fotografias, é uma casa sem quartos, com cozinha e biblioteca, da autoria de Exyzt, construída na Cova do Vapor em 2013, em contraponto com a ‘villa’ Malaparte, em Capri, de Alberto Libera, e com o abrigo Bivacco Fanton, nas Dolomitas, do estúdio de arquitetura Demogo.
Aqui está presente a ideia da casa como refúgio, traduzida na construção de abrigos que transformam ambientes inóspitos em lugares sublimes, e que, no caso português, deu origem a um espaço de refúgio coletivo à beira-mar.
“A ideia de refúgio e de casa não passa pelo quarto. A casa é um espaço de construção social em articulação com o coletivo”, explicou, acrescentando que a casa entretanto foi desmontada e já não existe.
A acompanhar este núcleo, um expositor mostra um conjunto de desenhos da casa feitos por ‘urban sketchers’.
A passagem da escala de refúgio para a habitação pública está patente no diálogo entre individual e coletivo, na luta pela habitação em Portugal no pós-25 de Abril e nas obras do Serviço Ambulatório de Apoio Local (SAAL), em conjunto com a casa Moriyama, do japonês Ryue Nishizawa, que se transforma num mini-quarteirão de casas isoladas, e com o Bosque Vertical, do italiano Stefano Boeri, uma torre de habitação, que quer ser uma sobreposição de ‘ville’ (vivendas), cada uma com o seu próprio jardim, idealizando a relação entre edifício, casa, céu e vegetação.
Um outro conjunto é composto pela ‘villa’ presidencial projetada pela dupla romana Monaco e Luccichenti, que consiste num quadrado sobrelevado e vazio no centro, e as casas Guna e Solo, da dupla chilena Pezo Von Ellrichshausen, também de formas geométricas, que pretendem responder a novas solicitações de como estar no espaço e como habitar as casas. É nesse contexto que se apresenta a casa em Oeiras de Pedro Domingos, em que o vermelho forte do coração interno dialoga com a neutralidade branca do exterior e a vegetação que, progressivamente, interage com a construção.
“São casas muito inventivas, com cores que normalmente não encontramos nas casas convencionais, são experiências arquitetónicas”, afirmou o curador.
Um outro núcleo é composto pela ‘Palazzina’ (forma específica de habitação romana que floresceu com o ‘boom’ económico do pós-guerra), de Luigi Moretti, em Roma, e o Bloco Álvares Cabral, de Cassiano Branco, em Lisboa, que “rejuvenesceram a imagem da cidade nos anos de 1930 e 1940”.
Este tipo de projeto “mostrou como a promoção privada e a especulação imobiliária também são fatores de transformação” da cidade quando se apoiam na qualidade da arquitetura.
Passando para um outro conjunto arquitetónico, encontram-se exemplos da casa como espaço coletivo, “outras formas de casa que não a casa familiar”, como residências de estudantes, residências para sem-abrigo e residências sénior.
Os projetos apresentados na exposição alusivos a este conceito integram a residência estudantil Ca Romanino, do arquiteto Giancarlo de Carlo, o complexo Sugar Hill, do arquiteto David Adjaye, construído no Harlem, em Nova Iorque, para pessoas muito pobres ou sem abrigo, e as Residências Sénior, em Alcácer do Sal, um projeto de Aires Mateus.
A criação deste espaço português partiu do conceito de que “a população é cada vez mais velha e a maneira como habitamos casas quando somos mais velhos é diferente de quando somos mais novos”, destacou André Tavares, assinalando que para essas “residências assistidas”, o arquiteto português criou um grande pátio interior para a comunidade.
Aquele que “talvez seja o conjunto mais arquitetónico ou técnico” é composto pelo projeto Casa Baldi, em Roma, do arquiteto Paolo Portoghesi, e pela Casa em Adropeixe, Terras de Bouro, de Carlos Castanheira.
Aqui põe-se “em diálogo a casa de Carlos Castanheira, em madeira, linear e contrastante com a casa de Paolo Portoghesi, que é em pedra e com paredes contínuas e curvas. A forma da casa é dada pela pedra ou pela madeira”, afirmou André Tavares.
O curador destaca, a propósito destes dois exemplos, que “há soluções alternativas ao betão armado, que passam pela maneira de habitar e têm um impacto profundo sobre o planeta e o ecossistema”, considerou, acrescentando: “a forma de habitar é como a nossa casa nos obriga a habitar de uma maneira ou de outra, e como ao habitar, as nossas casas transformam a cidade e o planeta”.
A exposição “Em casa. Projetos para habitação contemporânea”, que traduz a forma como os arquitetos lidaram e continuam a lidar com os modos de vida em comunidade, tem também curadoria de Sérgio Catumba, Margherita Guccione e Pipo Ciorra, e vai estar patente até 05 de setembro.