Numa altura em que, atingidos pela segunda vaga da pandemia, muitas salas de espetáculo estão encerradas, como o Teatro alla Scala em Milão (Itália), a Metropolitan Opera House em Nova Iorque (Estados Unidos da América) ou o Covent Garden em Londres (Reino Unido), o Teatro Real de Madrid continua a ter a sua programação quase normal.
Foi exatamente nesta grande sala de espetáculos que este ano se iniciou, em finais de setembro, a 18.ª edição da mostra Cultura Portugal, com uma homenagem ao centenário da fadista Amália Rodrigues que teve a presença, muito aplaudida, das artistas Fábia Rebordão, Ana Moura e Cuca Roseta.
“Dentro do que são as circunstâncias atuais conseguimos levar a cabo uma série de espetáculos”, disse à agência Lusa o embaixador de Portugal em Espanha, João Mira Gomes, responsável pela organização do Cultura Portugal.
O diplomata referiu que, em todos os eventos da mostra que só irá encerrar no final do ano, foram “cumpridas” todas as regras sanitárias e, em muitos casos, os espetáculos com público foram complementados com uma emissão ‘streaming’ (pela internet), para conseguir satisfazer o público interessado.
Mira Gomes salientou também o aumento da presença da mostra portuguesa nas redes sociais, nomeadamente na promoção dos vários eventos: “Tentámos compensar as maiores dificuldades com esse trabalho” nas redes sociais, disse.
O embaixador português fez um “balanço positivo até agora” do Cultura Portugal, e prometeu que, no futuro, se irá levar o evento a mais pessoas com a ajuda das redes sociais e da nova imagem que a mostra tem a partir deste ano.
Entre outros espetáculos da mostra e apenas para dar alguns exemplos, a Orquestra Sem Fronteiras, conduzida por Martim Sousa Tavares, deu um espetáculo em Madrid em 08 de novembro, com o objetivo de “melhorar a cooperação e a integração transfronteiriça”, e a Orquestra Jazz de Matosinhos também se deslocou à capital espanhola, em 27 de outubro.
O Festival de Fado em Barcelona e Sevilha, no entanto, foi cancelado, assim como o Festival Portugal Alive previsto para 05 de dezembro em Barcelona, e uma conferência sobre o navegador português Fernão de Magalhães, que foi adiada para 2021, em Sevilha.
Numa sala de Madrid foi projetado, em 13 de outubro, o filme “Francisca”, de Manoel de Oliveira, e a escritora Lídia Jorge esteve em várias atividades em Madrid.
O programa completo do Cultura Portugal – que este ano tem o lema “Conectados”, para realçar os laços estreitos entre os dois vizinhos ibéricos, apesar da pandemia de covid-19 – com dezenas de outros eventos pode ser consultado em www.culturaportugal.com.
Um espectador ou visitante quase que se podia esquecer da covid-19 quando se desloca a um espetáculo ou exposição em Madrid, não fossem as restrições sanitárias e de lotação impostas pelas autoridades regionais da capital espanhola, que têm autonomia, assim como todas as outras, em questões sanitárias.
“Tudo isto foi possível porque um plano começou a ser preparado em maio”, na parte final da primeira vaga da pandemia, explicou à Lusa a conselheira da Cultura e do Turismo da Comunidade de Madrid, Marta Rivera de la Cruz.
As casas de espetáculo começaram por abrir, antes do verão, sujeitas a um limite de 30% da sua lotação normal, que em seguida passou para 50% e agora é de 75%.
“As pessoas tinham tanta vontade de voltar à sua vida cultural normal, que nenhuma das restrições pedidas foram vistas como um inconveniente [lotação reduzida, máscaras, medição da temperatura, etc.]”, explicou Rivera de la Cruz.
Sem turistas nem pessoas de outras regiões espanholas, são os próprios madrilenos que enchem as salas de espetáculo da capital, porque muitas vezes estão confinados sem poderem sair da sua comunidade autónoma, durante os fins de semana.
“Neste momento, os teatros têm, durante a semana, uma lotação correta e, ao fim de semana, estão no máximo da sua capacidade permitida”, assegura a conselheira da Cultura, que faz parte do executivo regional de direita, que aproveita para contrastar com as políticas decididas por outras comunidades autónomas ou do Governo central, de esquerda.
No momento pior da pandemia, em março e abril, Madrid estava entre as cidades mais atingidas em todo o mundo pela covid-19, com um número crescente de pessoas infetadas que enchiam hospitais e unidades de cuidados intensivos.
Este cenário atenuou-se durante o verão, mas uma nova vaga da doença teve lugar a partir de setembro, tendo as autoridades regionais tomado medidas que ajudaram a diminuir o número de contágios, mantendo aberto o comércio ou as salas de exposições e de espetáculos.
O nível de incidência acumulada (pessoas contagiadas) na região de Madrid tem vindo a descer há várias semanas, havendo na sexta-feira 244 casos diagnosticados por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias, enquanto a média nacional, também a baixar, é de 307 casos.
No mesmo dia, a Espanha registou 10.853 novos casos de covid-19, elevando para 1.628.208 o total de infetados no país desde o início da pandemia, segundo números divulgados pelo Ministério da Saúde.
As autoridades sanitárias também contabilizaram mais 294 mortes, desde o dia anterior, atribuídas à covid-19, passando o total de óbitos para 44.668.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,4 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 4.276 em Portugal.
Na Europa, o maior número de vítimas mortais regista-se no Reino Unido (57.551 mortos, mais de 1,5 milhões de casos), seguindo-se Itália (53.677 mortos, mais de 1,5 milhões de casos), França (50.957 mortos, quase 2,2 milhões de casos) e Espanha (44.668 mortos, mais de 1,6 milhões de casos).
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