O artista de 83 anos estava internado num hospital de Lisboa com graves problemas do foro respiratório, indicou ao início da manhã de hoje, à agência Lusa, a diretora regional de cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira.
João Cutileiro “revolucionou a escultura em Portugal e todos os artistas plásticos reconhecem isso”, disse, contactada pela agência Lusa sobre a morte do protagonista do seu documentário e também amigo de longa data, cuja notícia da morte lhe causou “grande tristeza”.
“Ele era um exemplo de uma capacidade de trabalho tremenda e um interesse por tudo na vida, que integrava nas suas peças, criando cada uma delas como se fosse a primeira vez que trabalhava, tratando-as como objetos únicos. Mesmo com toda a sua enorme ética de trabalho, não era uma pessoa sisuda. Tinha um grande sentido de humor e fazia autoironia, sem cinismo, e com doçura”, descreveu a cineasta.
O documentário “A Pedra Não Espera” segue os projetos e esculturas públicas de João Cutileiro, no espaço público da sua exibição e na intimidade da casa/ateliê do escultor onde nasceram, recuperando a sua memória em conversas informais entre o escultor, a sua mulher, a artista Margarida Lagarto, e o seu amigo, e historiador de arte, Joaquim Caetano.
Percorrendo os vários passos da criação do escultor, desde a extração da pedra, às dificuldades da montagem, da euforia do projeto, às contrariedades das reações adversas, o filme inclui algumas obras que marcaram a paisagem cultural de Portugal, como o “D. Sebastião”, em Lagos, até ao também icónico e polémico monumento ao 25 de Abril, em Lisboa.
“Este filme mostra apenas a obra pública de Cutileiro. Ele fez muito mais. Tem um espólio imenso, que devia ser estudado, e daria um outro documentário. Não conheço ninguém que tenha deixado tanta obra, da escultura ao desenho. Ele desenhava tudo em seu redor, objetos, pessoas, animais, de uma forma muito particular”, comentou.
“A Pedra Não Espera” vai ser hoje exibido na RTP, às 23:30.
João Cutileiro, nascido em 1937, em Lisboa, viveu e trabalhou em Évora desde 1985.
Frequentou os ateliês de António Pedro, Jorge Barradas e António Duarte de 1946 a 1950, tendo feito a sua primeira exposição individual (“Tentativas Plásticas”) em 1951, com 14 anos, em Reguengos de Monsaraz, onde apresentou esculturas, pinturas, aguarelas e cerâmicas.
Cutileiro foi condecorado com a Ordem de Sant’Iago da Espada, Grau de Oficial, em agosto de 1983, e recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Évora e pela Universidade Nova de Lisboa, este último, concedido em 2017.
Em 2018, quando João Cutileiro recebeu a Medalha de Mérito Cultural, numa cerimónia no Museu de Évora, foi formalizado o anterior compromisso de doação do espólio do escultor ao Estado português, em 2016, e assinado um protocolo que envolveu o Ministério da Cultura, o município e a Universidade de Évora.
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