Livro a pensar no futuro apresenta números de Portugal na guerra colonial

Fruto de uma investigação que se prolongou por cerca de três anos, a ideia do detalhado livro surgiu ao autor quando esteve envolvido nas celebrações do centenário da Primeira Guerra Mundial.

“Fui oficial do Exército no ativo, professor na Academia Militar, portanto tenho outras obras sobre história militar e estive particularmente envolvido a partir do centenário da Primeira Guerra [Mundial]. Senti, nesse contexto, muita dificuldade em ter dados deste género em relação à Primeira Guerra – cem anos depois. Fiquei com esta curiosidade em relação ao nosso último conflito, se seria idêntico”, explicou à Lusa Pedro Marquês de Sousa.

O autor apontou que também foi mobilizado “pela sensibilidade de historiador”, de forma a “deixar a alguma coisa a outros historiadores que venham” no futuro e analisem o período da guerra colonial.

“Em determinada altura tive a noção que não eram os números que normalmente se divulgam — os tais 8.600, que são os mais divulgados –, quando me apercebi que era preciso considerar os locais, os militares que eram naturais de Angola, Guiné e Moçambique e que foram integrados nas nossas Forças Armadas, e também a Marinha e Força Aérea”, afirmou.

No livro, o membro do conselho científico da Comissão Portuguesa de História Militar e conselheiro científico do Museu Militar de Lisboa remete para 10.409 mortos no total entre as Forças Armadas portuguesas: 9.638 do Exército, 511 da Força Aérea e 260 da Marinha.

A estes somam-se ainda cerca de 6.200 vítimas civis do lado português e 28.226 mortos entre os movimentos de libertação.

O tenente-coronel disse ter ficado surpreendido com os números que encontrou ao longo da sua investigação, não apenas quanto às vítimas, mas também quanto ao armamento e aos custos envolvidos.

Sobre este último ponto, Pedro Marquês de Sousa assinalou que apesar dos custos elevados com o conflito — que chegaram a representar 06% do Produto Interno Bruto português –, “não havia capacidade de renovar” ou “dar os mínimos necessários” aos militares.

“É curioso que, ainda assim, não se conseguia manter os níveis que seriam supostos, mesmo em termos de aeronaves”, acrescentou o autor.

Pedro Marquês de Sousa referiu que, em termos académicos, não há “uma visão global, integradora”, e isso impulsionou-o a desenvolver ‘Os Números na Guerra de África’.

“Penso que este tipo de trabalho serve para outros, no futuro, retirarem e fazerem leituras com base nestes dados, que não estão esgotados”, reforçou, indicando que o seu livro funciona, também, como um repositório de informações.

Pedro Marquês de Sousa admitiu ter encontrado algumas dificuldades na investigação que realizou durante três anos.

A recolha de dados passou pela consulta dos arquivos do Exército, Marinha, Força Aérea e Defesa Nacional — tendo-se deparado, em particular nos ramos da Marinha e Força Aérea, com ficheiros menos completos — mas, para o autor, é preciso ter um olhar crítico.

“Podemos admitir que, dada a natureza do regime e a sensibilidade que a guerra tinha perante a sociedade civil, possam não traduzir 100% a realidade, e, portanto, isso tem de ser visto sempre com olhar crítico. Em termos académicos, é essa a atitude que temos de ter”, alertou.

O livro ‘Os Números na Guerra de África’, editado pela Guerra & Paz e que contou com o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, da Marinha Portuguesa, da Direção de História e Cultura Militar, da Força Aérea Portuguesa e da Associação 25 de Abril, chega aos postos de venda na terça-feira.

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