Com uma equipa composta por artistas franceses e afroamericanos, “O Silêncio e o Medo” dá vida a uma ficção inspirada na “História, com letra maiúscula, que Nina Simone habita”, marcada por quatro séculos de peso colonial.
“O Silêncio e o Medo” é a primeira estreia internacional na sala ‘online’ do D. Maria II, que acontece em vez da apresentação prevista em palco, e do regresso de David Geselson a Lisboa, cerca de dois anos depois de ter levado o seu anterior trabalho “Doreen”, à Sala Garrett.
“A vida de Nina Simone consistiu numa travessia de 70 anos repleta de drama, que termina numa quase total solidão, em França, em 2003”, lê-se na apresentação da peça.
“Tetraneta de um nativo-americano, casado com uma escrava negra africana, Nina Simone é a herdeira de uma parte da história dos Estados Unidos da América e carrega consigo quatro séculos de história colonial”, acrescenta o texto sobre a obra.
O encenador David Geselson, que em 2019 chegou a falar da montagem de “O Silêncio e o Medo”, quando a preparava com a companhia Lieux–Dits, numa ‘masterclass‘ no Nacional D. Maria, tem por hábito convocar a matéria-prima das suas criações a partir de biografias, políticas ou íntimas, que liga à História, para compor uma ficção.
Nina Simone e a História afroamericana, os 58 anos de vida em comum de Doreen Keir e do seu marido, o filósofo André Gorz, que inspiraram “Doreen”, o conflito israelo-palestiniano e a memória do avô de Geselson, Yehouda Ben-Porat, na base da peça “En Route-Kaddish“, são exemplos da preocupação do escritor e encenador de levar para palco um “teatro do íntimo, da história e do político”.
“O Silêncio e o Medo” convoca assim Nina Simone, o seu percurso como pianista, cantora, compositora, e também como combatente pelos direitos humanos, mobilizando “visões daqueles que a acompanharam durante a vida, assim como os seus fantasmas”.
“Como diferentes facetas de uma pedra que nunca pode ser abraçada num único olhar, pode dar-se que este espetáculo transcenda os medos e silêncios da História e ofereça um espaço partilhado para nos reconhecermos uns aos outros e, também, individualmente”, lê-se na apresentação da obra. “Contar a história da vida privada de Nina Simone é uma tentativa de observar parte das cicatrizes e lutas da História, através da vida de uma só pessoa”.
Escritor, encenador e ator, radicado em Paris, David Geselson formou-se na École du Théâtre National de Chaillot e no Conservatório Nacional da capital francesa.
“Doreen”, a partir das cartas de André Gorz, “En Route-Kaddish“, a partir de memórias familiares, estão entre as suas principais criações, a que se junta a direção de peças como “Eli Eli”, de Thibault Vinçon, e “Les Insomniaques“, de Juan Mayorga.
Como ator, o trabalho de Geselson inclui, entre outras, a participação em “Bovary”, que o diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, levou ao Théâtre de la Bastille, em 2016.
“O Silêncio e o Medo”, peça coproduzida com a norte-americana Harlen Stage, é falada em francês e inglês, e apresentada na sala ‘online’ do D. Maria, com legendas em português.
Nesta sala do Nacional D. Maria é possível ainda assistir aos espetáculos “Dias Contados”, de Elizabete Francisca (até ao final do dia de hoje), e a “Sopro”, de Tiago Rodrigues, disponível até dia 12, altura em que se estreará “Antígona“, de Sófocles, numa encenação de Mónica Garnel, que poderá ser vista até 26 de março.
Em “Antígona“, que abriu a temporada de 2019-2020 do D. Maria II, Mónica Garnel parte de uma cidade que vai adoecendo, numa vertigem crescente de conflito, questionando-se sobre a justiça.
No domingo, estreia-se no Youtube do D. Maria II mais um episódio de “Corrente de transmissão”, que junta à conversa a mestra de guarda-roupa do teatro, Aldina Jesus, e Paula Miranda, auxiliar de camarim há mais de 20 anos.
As duas trabalhadoras do teatro vão falar sobre bastidores e do rigor, da generosidade e do alto grau de improviso que a atividade impõe.
Na próxima semana, regressa ao Instagram do D. Maria o Clube dos Poetas Vivos, resultante da parceria entre este Teatro Nacional e a Casa Fernando Pessoa.
Numa sessão que terá por pretexto o Dia Internacional da Mulher, a responsável pela rubrica, Teresa Coutinho, lança um convite a dez mulheres ligadas à escrita, , de uma forma ou de outra, para escolherem poemas de outras mulheres que se revelaram determinantes, nmas suas vidas.
Sob o tema “As mulheres que nós lemos”, esta sessão do Clube dos Poetas Vivos acontecerá no dia 09, às 17:00, em direto no Instagram do Teatro, com a participação de atrizes, autoras, programadoras, editoras, docentes, como Anabela Mota Ribeiro, Catarina Santiago Costa, Fernanda Mira Barros, Gisela Casimiro, Margarida Ferra, Patrícia Lino, Raquel Lima, Rosalina Marshall, Sara Carinhas e Tatiana Salem Levy.